LIDERANÇA E POLÍTICA
LIDERANÇA
E POLÍTICA
Moisés, segundo a Bíblia, retirou o seu povo do Egito
para o conduzir à Terra da Promissão,
fugindo à escravatura. Moisés – conhecido como líder religioso e como
legislador – anunciou-se com uma liderança forte, capaz, inteligente, corajosa,
independentemente das suas origens. E comandou o “êxodo”, apesar de no caminho se
apresentarem novas perspetivas a cada instante. Por isso é que a “travessia do deserto”
foi feita no meio de muitos conflitos e de sofrimentos, vitórias e alegrias. Mas cumpriu a sua missão.
Séculos depois, na Europa, homens políticos de visão
entenderam que os caminhos da Paz deviam passar pela união de povos e de Estados,
na base da igualdade e da solidariedade, para evitar novas “guerras” como as
que marcaram as primeiras décadas do século XX. Contudo, os governantes mais
recentes – incapazes de ser líderes – não souberam ler sinais, muitos deles
evidentes, prenunciando um tempo de “espírito” novo a merecer novas abordagens
e novas soluções. A esta luz, a união política não é desejável e a união
monetária é impraticável. Só lá está quem quer, é um facto [independentemente
de os povos se terem pronunciado ou não], mas há “União” com todos ou…o projeto
é uma falácia. Por que razão está o Reino Unido de fora da “Zona Euro”?
E foram estes governantes – e não líderes – que conduziram
muitos povos para um novo regime de escravatura. Uma escravatura monetária e
financeira, na qual a “política” já não é primordial nem governa. Os governantes
são apenas meros executores da ganância financeira.
Recordo agora, não sem uma ponta de mágoa e de
tristeza, o que me disse há tempos D. Manuel Martins, Bispo emérito de Setúbal,
sobre o Poder Político – o mais nobre dos poderes – que, apesar de tudo, pode, infelizmente, “dar em portas abertas para
corrupção, injustiças de toda a ordem, boyismo,
vaidades pessoais e familiares”. Porém, acrescentou, “é uma função nobre. É uma
das funções mais nobres. Exerce-se com autoridade confiada (eleições) em vistas
a realizar um serviço inteiro, competente, feliz, a toda a Comunidade. «Eu sou
tu». Político versus Sociedade”.
Seguramente, não é isto que se passa hoje em Portugal e
nesta União Europeia, cujos “pilares”
fundamentais vão sendo derrubados por tecnocratas ao serviço da alta finança.
Miguel Torga sempre desconfiou deste nosso abraço à CEE, primeiro,
e à EU, depois, insurgindo-se contra a ideia
«da subserviência às ordens de uma Europa sem valores, incapaz de entender um
povo que nela sempre os teve... É o repúdio de um poeta
português pela irresponsabilidade com que meia dúzia de contabilistas lhe alienaram
a soberania (...) e Maastricht há-de ser uma nódoa indelével na memória da
Europa.»
==== António Bondoso
Grego não, que não sou, mas que saudades
Duma Grécia de artistas e de crentes
Em paisagens e formas permanentes
Onde se apaga a marca das idades (Torga, 1999: 547-548).
==== António Bondoso
Jornalista.
Julho de 2015
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