A PROPÓSITO DOS 8O ANOS DA RÁDIO...(e do hino comemorativo)
Foto de António Bondoso
(Texto de 2010)
A RÁDIO EM
PORTUGAL ESTÁ QUASE A COMPLETAR 80 ANOS...
...MAS AINDA NÃO TEM
MARCADA A DATA DA SUA MORTE !
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Anunciada ciclicamente
– a televisão, a internet, a era digital – a morte da “rádio” tem vindo a ser
adiada, não por milagre, antes pelo combate e pelo empenho na capacidade de
adaptação aos novos tempos. Mas não bastam as novas tecnologias, não é
suficiente “arrumar” tudo ou quase tudo no disco rígido de um moderno
computador. É preciso que a rádio volte a estar com as pessoas e que tenha
gente dentro! Que seja capaz de pensar e de reflectir e que saiba provocar no
auditório a capacidade de dialogar, discutir serenamente e reagir aos desafios.
Cinco anos e
alguns meses depois de ter sido praticamente “empurrado” para uma aposentação
precoce (hobby desde 1967- profissional desde 1973) com 55 anos de idade,
continuo a pensar que o “segredo” da rádio está nas pessoas. Em profissionais
competentes, imaginativos e criativos – para além de cultos, naturalmente – e
em ouvintes interessados, pensantes e motivados. E nos sons! Na música que
acalma e apaixona, no discurso simples e claro das vozes que animam, mas
sobretudo no plano superior das entrevistas e das reportagens que falam de
coisas sérias, no plano superior da imaginação e da criatividade com ética.
Algumas vezes a
rádio é um silêncio feliz, mas muitas outras pode ser um ruído profundo,
provocador, inquieto e perturbador.
Tudo isto é real
nos capítulos do meu livro que vai estando cada vez mais perto, apesar da
lentidão com que vou passando para o tal disco rígido as ideias – minhas e dos
meus amigos – sobre como foi a rádio e como deveria ser hoje.
A Rádio, para
mim, prossegue sendo uma guitarra freneticamente manipulada por Jimmy Hendrix
ou docemente acariciada por BB King, das quais podem sair notas de um
afro-americano rock de Harlem ou de um afro-americano blues a caminho de
Memphis – onde já destruíram a magia da Rua Beale. A rádio e a música de
sentimento, a rádio e a voz de protesto, a rádio da memória escrava, a rádio da
sensação libertadora.
A Rádio, para
mim, vai sendo a memória da magia do microfone, a magia dos sons, a magia do
que fica para além do alcance da imaginação, a magia que permanece no estúdio,
no “pick-up” que roda em 45 rotações a voz de Franck Sinatra ou um LP/33 de
Maria Bethânia, a magia da “fita” onde se gravaram as impressões de uma
conversa amena entre Igrejas Caeiro e Aquilino Ribeiro ou entre Fernando Pessa
e Almada Negreiros, a magia do “cartucho” onde se alinhavam spots publicitários
anunciando as virtudes da brancura do skip ou apelando à presença na Grande
Noite do Fado no Coliseu dos Recreios.
E a magia da
distância que a onda curta e o transistor resolvem, como estar às portas do
deserto entre a Tunísia e a Argélia e poder ouvir as notícias de “casa” ou o
relato de um Sporting-Porto em Alvalade...praticamente em cima de um camelo. Ou
estar na Ilha de Moçambique, de noite e sem energia eléctrica – à luz de uma
vela apenas – e receber as sensações de um outro jogo de futebol no
desaparecido Estádio das Antas.
Como dizia o
publicitário Bob Schulberg em 1989 – o ano da queda de mitos e muros – “ a
televisão não é ruim, mas a Rádio é mágica. Se a televisão tivesse sido
inventada antes, a chegada da radiodifusão teria feito as pessoas pensarem:-
que maravilhoso que é a Rádio! É como a televisão, só que nem é preciso
olhar!”.
=== António Bondoso
Jornalista
PS: O hino agora gravado, para corresponder à grandeza da data, deveria ser mais VIBRANTE!
PS: O hino agora gravado, para corresponder à grandeza da data, deveria ser mais VIBRANTE!
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