NESTE DIA:
QUE BOM QUE É FALAR DA MÃE.
Falar
da mãe é perceber uma recordação doce de um sorriso contagiante. É a memória
que guardo antes de qualquer dor, é a lembrança que retenho antes do sofrimento
da partida. Falar da mãe é um sussurrar baixinho antes do rompante do pai –
quando os deveres se afastavam de mim e eu deles, provocando o caos no que se
dizia correto. A mãe sempre se interpôs entre um direito de circunstância e um
dever natural. A mãe que protegia, a mãe que aconselhava, a mãe
preocupada...sempre! Muito para além dos sentidos, desejos e previsões. A mãe
do carinho, a mãe da advertência, a mãe do chinelo em riste para corrigir o mal
feito, a mãe que assumia as dores de um filho a crescer, a mãe do amor, a mãe
da amizade, a mãe mulher completa no calendário dos dias, dos meses e dos anos
que foram passando a correr...e se finaram tão cedo. Falar da mãe é ter
presente a falta. Falar da mãe é entender um tempo outro, em que a ordem pouco
sentido fazia. A mãe e a horta, a mãe e a cozinha traduzida num arroz-doce
único, a mãe e a camisa branca de domingo, a mãe e os sapatos a brilhar antes
de um mergulho na piscina velha, a mãe que percebia a fuga ao cantarolar da
tabuada, a mãe que tolerava a ausência de uma missa no calor asfixiante do
domingo. Falar da mãe é saber que uma carta de palavras poucas valia a fortuna
de uma nota de cem escudos a caminho do sul de Angola, onde o crescimento
natural se completava no serviço militar obrigatório preparado a preceito e sem
preconceitos. Foi uma mãe à qual devo palavras de louvor, que não soube e não
pude transmitir no tempo certo. É uma mãe especial pela bondade da criação
nessa ilha longe no meio do oceano do mundo. Não digo que tivesse sido a melhor
mãe do mundo. Foi apenas mãe – a minha. E que eu amei e respeito em memória! E que
hoje se completa com a mãe do meu filho – igualmente amada e respeitada em
vida! Tal como recordo saudoso a sua mãe - uma outra que tive a sorte de ter, embora também por tempo curto.
E NESTE DIA, AINDA...
SER MÃE…É IR ALÉM:
Às
vezes é tudo tão óbvio, quantas delas as ideias parecem repetir-se, em muitas
ocasiões pensamos que já não temos palavras, em circunstâncias diversas o
discurso apresenta-se fosco, por muito que o sentimento nos comprima o peito –
nem sempre conseguimos ter voz para exteriorizar o bater do coração.
Pode
acontecer até que o cruzar do imperfeito leve amiúde a situações de conflito.
Sentimentos de posse e de libertação, de proteção por excesso e de afirmação da
independência – quantas vezes não colidem. Mas é apenas um momento mais ou
menos prolongado. Tarde ou cedo há um gesto de carinho a selar o «normal
funcionamento» da relação.
Por
isso é que eu digo que – ser mãe…é ir além! De tanta coisa! De tanto como ser
filho! Aceitando, percebendo, compreendendo, perdoando, amando com humildade. É
único! E por isso é um desafio…
Grato à Carminda Carmim por ter selecionado este poema sobre o Dia da Mãe, para mostrar na Santa Casa da Misericórdia da Trofa.
António Bondoso
Jornalista
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