COMO
RUFAS SANTO CONQUISTOU MARIAZINHA…CALCINHA DE RENDA – ou de
como S. Tomé e o Príncipe continuam a ser musas inspiradoras dos agentes da
escrita, em prosa ou em poesia. É a mulher, de cá e de lá e de todas as
latitudes, que está no centro poético de mais um livro que vai ser apresentado
na próxima sexta-feira na sede da UCCLA, em Lisboa.
Rufino
Espírito Santo, que reside em Portugal há 20 anos, nasceu em 1959 em S. Tomé e
passou parte da infância no Riboque. Estudou, como eu – embora mais tarde – na
Escola Primária de Vaz Monteiro [hoje de D. Maria de Jesus], depois frequentou
a Escola Preparatória e o Liceu Nacional. Licenciou-se em Física na
Universidade de Havana [Cuba], sendo posteriormente professor de Física e de
Matemática nas Ilhas do Meio do Mundo.
Com vocação para a escrita, desde
jovem, Rufino Espírito Santo – que se dá a conhecer nas redes sociais como RUFAS SANTO – foi um dos laureados no
primeiro concurso de literatura promovido pela UNEAS, a União Nacional de
Escritores e Artistas de STP, com a obra PALAVRA
PERDIDA E OUTROS CONTOS.
Após
um largo interregno, e durante o qual nos habituou e brindou com excelentes
textos na sua página do facebook, sob o título genérico de DELÍCIAS DAS ILHAS,
Rufino Espírito Santo decidiu presentear-nos neste mês de Março, aproveitando a
Primavera, com o seu livro de poesia MARIAZINHA
CALCINHA DE RENDA que não é, segundo o autor, uma sequência de histórias em
poesia:
“São
momentos de explosões nostálgicas a que mais tarde tentei dar um sentido e uma
certa arrumação. Contudo, não seguiu uma arrumação lógica, deixando prevalecer
a ordem ou melhor a desordem do surgimento das mesmas excepto pequenas
alterações em dois casos específicos que são o par “A minha rua agoniza” e “A
rua das três palmeiras” e o par “Mariazinha” e “Mariazinha, calcinha de renda”
que foram deslocados e colocados intencionalmente juntos e em determinada
ordem.
***Cada poema é uma história ou
há capítulos diversos?
Não há
capítulos embora seja possível distinguir três momentos bem definidos, pelo
menos no meu entendimento: um momento de preocupação ecológica representado por
“A minha rua agoniza”, “A rua das três palmeiras” e “Esse deus não é o meu deus”;
o momento nostálgico representado em grande parte por poemas centrados no
retorno ao passado, a infância em São Tomé e Príncipe, combinado com o
presente, de algumas décadas, em terras lusas, representado por poemas como
“Estação sem destino” e “Aonde vais Tejo” , por exemplo. E finalmente, um
momento que tem como figura central a mulher (representado por uma Maria ou
Mariazinha santomense mas cujos problemas podem abranger outras mulheres por
este mundo fora) representado por “N’Oquê Mulundu”, “Mariazinha” e “Mariazinha,
calcinha de renda”.
***Tem escrito textos lindíssimos
em prosa. E de repente aparece este com poemas. É pela beleza da construção? É
mais fácil a expressão poética?
Na realidade
tenho escrito tanto em poesia como em prosa embora faça chegar ao público do
Facebook, que é a plataforma que tenho usado para publicar essa forma que
encontrei de brincar com as palavras e com as ideias, muito mais texto em prosa
do que em poesia. Há momentos em que me dedico a contar histórias a mim próprio
e a ter uma conversa prolongada mais racional e serena. Há outros momentos em
que tenho uma espécie de explosão (tal como disse anteriormente) e tenho uma
necessidade urgente e, digamos, menos racionalizada de exprimir determinados
pedaços de mim.
***O título é uma delícia.
Mariazinha domina por completo?
O título é um
retorno aos tempos de garoto sem dúvidas. Essa delícia, como diz, é fruto da
riqueza inerente ao espírito criativo do nosso povo, um pouco como muitas vezes
tenho abordado numas publicações que tenho no Facebook com o título comum de
DELÍCIAS DAS ILHAS.
Como
anteriormente mencionei, o livro tem vários momentos e o poema que dá nome ao
livro insere-se num deles. Mas, mais do que relatar a Mariazinha, a dupla
“Mariazinha” e “Mariazinha, calcinha de renda” reflecte, numa outra dimensão, o
caminho trilhado por um país que sonhava (que ainda sonha, é verdade), com uma
beleza impar e de “chás” suficientes para dar respostas a todas as necessidades
mas que poderá ver-se um dia à procura do “chá contra a espera engolida pelo
mar”.
RUFAS SANTO dito e
apresentado. Sobre o livro, apenas se levantou o véu.
Rufas Santo
António Bondoso
Jornalista
Março de 2017.
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