É preciso sentir e ter esperança. É preciso também conhecer as línguas dos outros que connosco se cruzaram. Uma vontade intemporal.
E é pela língua que
vamos…seguindo o rasto e os efeitos desse documento com mais de 800 anos – aceitando
que a sua identidade plena se afirma e consolida a partir do século XV, com o
desenvolvimento da expansão marítima. E vale a pena lembrar Fernando Pessoa e a
presença do mar em D. Dinis: = Do poema ao rei Plantador – talvez o primeiro a
projetar a aventura dos descobrimentos – diz o poeta da MENSAGEM: "É
o som presente desse mar futuro, / É a voz da terra ansiando pelo mar".
Até chegarmos ao
presente – vai havendo notícias de que a Língua Portuguesa é a 4ª mais falada no
mundo, representa 17% do PIB em Portugal, está instalada em quase 8% da
superfície continental da Terra, e o espaço dos países lusófonos significa já
4% do comércio mundial.
Pelo meio,
como saberão, a Língua foi FRANCA – utilizada nos negócios, no comércio, não
apenas na Europa, mas também e sobretudo no Oriente. Ombreou nos Sec. XVI e
XVII com a língua inglesa …e chegou mesmo a ser falada na Corte do Reino do
Sião – a atual Tailândia. Em sinal de respeito pelos 500 anos de relações
diplomáticas, a Princesa Real Maha Chakri Sirindhorn,
filha do rei da Tailândia visitou Portugal em 2012. Historiadora, educadora e música, foi embaixadora de
boa-vontade da ONU para o desenvolvimento do Sudoeste Asiático.
Hoje, o
português é a 6ª língua mais utilizada nos negócios a nível mundial e, no ano
passado, estava em 5º lugar nos utilizadores da internet, com tendência para
subir.
Mas a
língua portuguesa foi também importante na China, servindo os portugueses como
diplomatas nas relações entre os povos do sul (Cantão) e o norte (Pequim). Para
além da Administração de Macau, por mais de 400 anos…a língua portuguesa é uma
das línguas oficiais naquele território até 2049 (pelo menos no papel), e é hoje ensinada em mais de
30 Universidades Chinesas. É um sinal do interesse do colosso asiático na sua
aproximação e expansão na África lusófona, no Brasil e na Europa – tendo mesmo
criado há mais de uma década o FÓRUM DE MACAU para a CPLP.
Por
outro lado, o português é LÍNGUA OFICIAL na União Europeia, na OEA –
Organização dos Estados Americanos, na UNESCO – a agência para a educação e
cultura da ONU, na União Africana…e o antigo 1ºMinistro da Guiné Bissau (Domingos Simões Pereira) chegou a dizer que já era altura de a língua portuguesa ser oficializada na UEMOA – a União
Económica e Monetária da África Ocidental (um organismo quase exclusivamente
francófono).
Lembro também que o português é a 2ª língua
mais falada em Joanesburgo, na África do Sul; na cidade de Newark, em Nova
Jérsia (EUA); no Luxemburgo e em Caracas, na Venezuela.
Podemos
ainda dizer que a língua portuguesa é já utilizada em organismos desportivos
internacionais, nomeadamente ligados às questões do controlo antidoping. O
objetivo, agora, é que o idioma luso seja igualmente oficial nas Nações
Unidas…mas há também outros dados importantes que por estes dias nos chegaram
dos EUA e do VATICANO:
***** Nos EUA… os políticos
luso-descendentes estão empenhados em criar uma rede que os una, formando um
grupo de pressão. Será mais fácil defender Portugal em Washington – dizem. A FLAD (Fundação Luso Americana para o
Desenvolvimento) percebeu isso e criou pontes para que os políticos se unam,
naquilo a que chama de "plataforma de diálogo". Ou…num inglês puro: o
que designamos por lobby. Ainda não se conhecem consequências desta iniciativa, não sendo provável que o venham a ser nos próximos tempos, tendo em conta a eleição de Donald Trump.
«Por outro lado, o Cardeal D. Manuel
Clemente disse em Roma que seria "importante" uma maior
valorização da língua portuguesa nos trabalhos das grandes reuniões de cardeais
e da Santa Sé, "porque o português tem uma expressão grande na vida da
Igreja".
D. Manuel Clemente sublinhou que a língua
permite uma aproximação entre os vários cardeais lusófonos, que são agora 13,
sete dos quais com direito a voto num eventual conclave.
O novo Cardeal português confessa que a nossa
língua materna "ajuda muito" nos encontros entre prelados de
Portugal, Brasil, Angola, Moçambique e Cabo Verde, os países de língua oficial portuguesa
com representação no novo Colégio Cardinalício da Igreja Católica.
"Quando falamos em português há
muitas coisas que vêm ao de cima e que têm a ver com o nosso património
comum".»
“Parte do património comum da
humanidade” – no dizer do Prof. Adriano Moreira; ou...como lhe chama o Prof. Moisés de Lemos Martins - “o continente imaterial dos Oito”; ou ainda…como disse Amílcar Cabral – o idioma português foi a melhor
coisa que os tugas nos deixaram!
Este espaço –
este mundo da língua portuguesa – não é ficção política. Existe mesmo. É
concreto e palpável. E incomoda, claro, a Francofonia e a Anglofonia.
E a sua
construção é o desafio mais aliciante deste século no âmbito das Relações
Internacionais …costumo eu dizer!
A língua é o
cimento deste “espaço”…mas não basta saber falar ou escrever português. É preciso sentir e ter esperança. É preciso também conhecer as línguas dos outros que connosco se cruzaram. Partilhar uma vontade intemporal.
António Bondoso
Jornalista
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