2017-05-22

OBRIGADO NUNO...


NEM ABERTO NEM FECHADO…
…mas de espírito livre!
O meu lamento de ser pensante tanto serve para criticar a SAD azul e branca como para homenagear Nuno Espírito Santo – o homem educado e bem formado que se dispôs a transformar um plantel moribundo – e desequilibrado – numa equipa de futebol. E quase o conseguiu…embora sabendo que não havia dinheiro para jogadores de topo.  Na hora da partida, a SAD e o Clube deviam mostrar-se gratos. Mais que não seja, pelo sacrifício da tua carreira nas condições em que assumiste o cargo de treinador do FCP. Cometeste erros? Claro que sim. Mas a maior responsabilidade está a montante do teu trabalho. Que não deixou de ser excelente para uma época conturbadíssima. Obrigado Nuno. E sorte para o futuro.

Por outro lado, o meu tom amargurado [pois ainda não é o tempo de agonia], que agora manifesto, não tem exclusivamente a ver com eventuais danos colaterais próprios de uma vida marcada pela intensidade das circunstâncias de uma cidade apaixonada. E apaixonante. Não é só o meu clube que me intriga, não são os golos desperdiçados, não é a Câmara fechada, não é o azul e branco trémulo por uma vez. A mais azeda amargura relaciona-se diretamente – e sobretudo – com o cinzento da vida, com o retrocesso da esperança que nasceu há 43 anos. Porque foi bonito mudar, porque foi legítimo mudar, porque foi importante transformar, porque foi fundamental avançar! As pontes passaram a fazer sentido e daqui voltou a irradiar um forte sinal de vontade, de querer, de sentir a liberdade, de conquista. E sim…também o futebol foi nessa onda.
Mas os lugares do poder ficaram inquietos. E como sempre, bem cedo se dedicaram a estudar e a aplicar uma estratégia de regresso a um centralismo atávico, que tudo arrasta, tudo arrasa e tudo mata. Mesmo com a conivência de alguns lugares e de certos poderes locais, iluminados por uma fosca claridade de jogos egoístas, ambições mesquinhas, interesses desmedidos e concertados ou escorados em pessoas e organismos pouco recomendáveis. E tudo foi permitido, calando ou esbanjando. De um tempo bonito de abertura e de felicidade, pouco a pouco o país foi sendo coagido, chantageado, esmifrado dos valores da redenção de um Abril esplendoroso. E quase tudo se foi! Aos poucos fomos morrendo, amputados já de um frágil poder de decisão, mutilados nas convicções. E não foi o vento que quase tudo levou. Foi a fraqueza e a maldade dos homens vestidos de políticos, de juízes, de líderes de um qualquer organismo centralizado na capital. Qualquer que tenha sido a roupagem, do desporto à cultura. Depois da esforçada façanha para colocar um ponto final aos célebres “roubos de igreja”, voltou-se a um tempo em que a dignidade se pendura por uma perna e em que o caráter se enrola numa folha branqueada de princípios. Começa no Clube e na Cidade…e prolonga-se por 300 quilómetros. Voltamos a estar quase como a 24 de Abril de 1974, o Terreiro do Paço agoniza de pasmo, há um túnel da Alexandre Herculano até ao Jamor, os árbitros treinam inclinados e só se adaptam a certos campos, os ministros enviam telegramas de felicitações aos reformados que vivem abaixo do limiar da pobreza, A AR endeusa uma canção de um festival – embora internacional – a comunicação social está nas mãos e no pensamento de um pequeno grupo de iluminados e endinheirados. Não deixam que a televisão se veja, a não ser o que lhes possa parecer matematicamente favorável, não deixam que a rádio se ouça e se espalhe, a não ser a horas mortas ou de audiência moribunda.
GENTE SEM PORTE

Temos um país suspenso
Em agonia de morte,
É já a Lei que se rejeita
Por certa gente sem porte.
E sofre mais quem não suspeita
Que essa gente percebe
E até promove
Traição infame, desonra e dor.
===Pag.19 em O PODER E O POEMA.2012. Ant.Bondoso e Edições Esgotadas.
António Bondoso
Jornalista

Maio de 2017. 

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