OBRIGADO NUNO...
NEM
ABERTO NEM FECHADO…
…mas
de espírito livre!
O
meu lamento de ser pensante tanto serve para criticar a SAD azul e branca como
para homenagear Nuno Espírito Santo – o homem educado e bem formado que se
dispôs a transformar um plantel moribundo – e desequilibrado – numa equipa de
futebol. E quase o conseguiu…embora sabendo que não havia dinheiro para
jogadores de topo. Na hora da partida, a
SAD e o Clube deviam mostrar-se gratos. Mais que não seja, pelo sacrifício da
tua carreira nas condições em que assumiste o cargo de treinador do FCP. Cometeste
erros? Claro que sim. Mas a maior responsabilidade está a montante do teu
trabalho. Que não deixou de ser excelente para uma época conturbadíssima. Obrigado Nuno. E sorte para o futuro.
Por
outro lado, o meu tom amargurado [pois ainda não é o tempo de agonia], que
agora manifesto, não tem exclusivamente a ver com eventuais danos colaterais
próprios de uma vida marcada pela intensidade das circunstâncias de uma cidade
apaixonada. E apaixonante. Não é só o meu clube que me intriga, não são os
golos desperdiçados, não é a Câmara fechada, não é o azul e branco trémulo por
uma vez. A mais azeda amargura relaciona-se diretamente – e sobretudo – com o
cinzento da vida, com o retrocesso da esperança que nasceu há 43 anos. Porque
foi bonito mudar, porque foi legítimo mudar, porque foi importante transformar,
porque foi fundamental avançar! As pontes passaram a fazer sentido e daqui
voltou a irradiar um forte sinal de vontade, de querer, de sentir a liberdade,
de conquista. E sim…também o futebol foi nessa onda.
Mas
os lugares do poder ficaram inquietos. E como sempre, bem cedo se dedicaram a
estudar e a aplicar uma estratégia de regresso a um centralismo atávico, que
tudo arrasta, tudo arrasa e tudo mata. Mesmo com a conivência de alguns lugares
e de certos poderes locais, iluminados por uma fosca claridade de jogos
egoístas, ambições mesquinhas, interesses desmedidos e concertados ou escorados
em pessoas e organismos pouco recomendáveis. E tudo foi permitido, calando ou
esbanjando. De um tempo bonito de abertura e de felicidade, pouco a pouco o
país foi sendo coagido, chantageado, esmifrado dos valores da redenção de um
Abril esplendoroso. E quase tudo se foi! Aos poucos fomos morrendo, amputados
já de um frágil poder de decisão, mutilados nas convicções. E não foi o vento
que quase tudo levou. Foi a fraqueza e a maldade dos homens vestidos de
políticos, de juízes, de líderes de um qualquer organismo centralizado na
capital. Qualquer que tenha sido a roupagem, do desporto à cultura. Depois da
esforçada façanha para colocar um ponto final aos célebres “roubos de igreja”,
voltou-se a um tempo em que a dignidade se pendura por uma perna e em que o
caráter se enrola numa folha branqueada de princípios. Começa no Clube e na
Cidade…e prolonga-se por 300 quilómetros. Voltamos a estar quase como a 24 de Abril
de 1974, o Terreiro do Paço agoniza de pasmo, há um túnel da Alexandre
Herculano até ao Jamor, os árbitros treinam inclinados e só se adaptam a certos
campos, os ministros enviam telegramas de felicitações aos reformados que vivem
abaixo do limiar da pobreza, A AR endeusa uma canção de um festival – embora internacional
– a comunicação social está nas mãos e no pensamento de um pequeno grupo de
iluminados e endinheirados. Não deixam que a televisão se veja, a não ser o que
lhes possa parecer matematicamente favorável, não deixam que a rádio se ouça e
se espalhe, a não ser a horas mortas ou de audiência moribunda.
GENTE
SEM PORTE
Temos um
país suspenso
Em
agonia de morte,
É já a
Lei que se rejeita
Por
certa gente sem porte.
E sofre
mais quem não suspeita
Que essa
gente percebe
E até
promove
Traição
infame, desonra e dor.
===Pag.19
em O PODER E O POEMA.2012. Ant.Bondoso e Edições Esgotadas.
António Bondoso
Jornalista
Maio de 2017.
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