NESTE DIA DE ÁFRICA...É BOM SABER QUE “ÁFRICA NÃO É APENAS UM LUGAR, É UM SENTIMENTO…
Figura da Web
“ÁFRICA NÃO É APENAS UM LUGAR, É UM SENTIMENTO…
…E
só alguns de nós fomos tocados por ele!”
Ashley Gerrand
Certamente
todos ou quase todos sabem onde fica a ÁFRICA! No coração do mundo…se tivermos
bem presente a cartografia.
O
que talvez nunca tenhamos interiorizado…é que há MUITAS ÁFRICAS! E muitas
Línguas: É impressionante!
Com 54 países, a África possui 2092 línguas faladas, número correspondente a nada
menos que 30% dos idiomas em todo o planeta. Além das duas mil línguas, estão
presentes mais oito mil dialetos
A quantidade de línguas faladas na África
supera provavelmente a de qualquer outro continente. O árabe é predominante entre as nações da costa do Mediterrâneo.
Línguas derivadas do banto são
faladas por grande parte das populações subsaarianas. Nos grandes centros
urbanos de alguns países é comum adotar-se a língua dos antigos colonizadores
europeus, como o inglês, o francês, o espanhol e o português.
Esse sentimento, que felizmente me tocou, tem
vindo a obrigar-me, sobretudo nos últimos anos, a uma reflexão sobre o dilema ESQUECER E LEMBRAR!
Haverá
contradição? Embora possa parecer…veremos que não existe! E a verdade é que,
pela história, seremos eternamente confrontados – quer dicotomicamente, quer
pela dialética – com esta questão!
Esquecer…não
é matar a memória. Pelo contrário…é preciso dar vida à memória, para que não
sejamos assaltados pela melancolia pesarosa ou por uma nostalgia perniciosa. É
preciso perceber e aceitar os outros, aceitar a verdade dos outros e os
avatares da história.
E
OUTRA COISA:- de África não nos chegam apenas “refugiados”!
Portanto…o
desafio é este: por um lado, esqueçamos os filmes idílicos sobre África.
Lawrence da Arábia, África Minha, Fiel Jardineiro, Amor sem Fronteiras, por
exemplo. Esqueçamos livros como As Verdes Colinas de África, de Hemingway…Um
Lugar Dentro de Nós, Adeus África, ou Uma Fazenda em África. E é sempre bom
lembrar, por exemplo – reconhecendo o sabor a sangue e a ambição desmedida –
outros filmes como O Senhor das Armas, Hotel Ruanda, Diamante de Sangue ou
Crianças Invisíveis.
Em qualquer
caso…Esqueçamos África, vista pelos olhos eurocêntricos. Mas,
por outro lado, seja-nos permitido lembrar a busca do conhecimento propiciada
pela era dos descobrimentos – recordando que se assinalaram recentemente os 600
anos do início da expansão. Podemos até lembrar Camões ou as missões
científicas de Silva Porto, Hermenegildo Capelo ou Roberto Ivans uns séculos
depois…mas esqueçamos, definitivamente, os Impérios de países europeus em
África! Ou melhor, não deixemos de lembrar as atitudes menos próprias, as
condutas erradas, indignas e violentas desses impérios – como o desenvolvimento
da escravatura humilhante, por exemplo.
E
não devemos deixar de lembrar, igualmente, os genocídios mais recentes do
Biafra, do Ruanda ou do Darfur…
Numa
outra perspetiva, e apesar de tudo, tenhamos sempre presente figuras como Santo
Agostinho, Senghor, Wangari Maathai,
Lumumba, Nyerere, Eduardo Mondlane, Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Aristides
Vieira, Kaunda, Kenyatta, Selassiè, Samora Machel, Desmond Tutu, Nelson
Mandela…De outro modo, não deixemos
de lembrar – pelos piores motivos – nomes como Bokassa, Francisco Macias
Nguema, Idi Amin Dada, Habib Bourguiba, Sékou Touré, Mobutu, Robert Mugabe…
Fundamental é que – sabendo que esquecer não
significa o mesmo que varrer para debaixo do tapete – ainda assim é bom
esquecer a África da Conferência de Berlim, em 1884/1885 – na qual 14 países
redesenharam o Continente onde tudo terá começado, sem ter em consideração as
fronteiras linguísticas e culturais estabelecidas. Antes dessa data, 80% do
continente africano era dominado por chefes tribais. Basta recordar que, em finais do séc.XVIII,
a “estrutura política” variava entre reinos,
impérios, cidades-Estado, e outras linhagens de clãs e aldeias, resultado de
inúmeros movimentos migratórios associados à sobrevivência, à religião, à
cultura, ao poder e ao comércio. Mas bastou um século para se assistir a uma notável
transformação do continente, fruto de uma expansão de modernidade
com base em fatores exógenos –
particularmente as armas de fogo, que alteraram significativamente os conceitos
de estratégia militar e de ocupação dos espaços.
E nesse período houve até um reino/império…por
onde passou o navegador e explorador Sancho de Tovar (que alguns identificam
mesmo como espião!)…império que floresceu entre os séculos 15 e 18 – numa
região banhada pelo rio Zambeze e cujo território hoje se pode situar entre o
Zimbabwe e Moçambique – o Império de
Monomotapa. De tão curioso – e talvez até pelas ligações que mais tarde se
verificariam a propósito do Mapa Cor-de-Rosa – seria objeto de uma obra de Ana
Maria Magalhães e de Isabel Alçada “ NO
CORAÇÃO DA ÁFRICA MISTERIOSA”. Ouro e marfim foram as riquezas que elevaram
e derrubaram esse império. Como outros casos inumeráveis.
E ainda hoje se encontram no topo das Relações
Internacionais os problemas diretamente ligados à exploração das riquezas
africanas – matérias-primas de caráter vital para muitas potências. Isto,
apesar de – entre os 10 países mais pobres do mundo – 9 serem africanos. E de, entre
estes, se encontrarem a Guiné-Equatorial e S. Tomé e Príncipe, países inseridos
na área da lusofonia/CPLP e ambos com a palavra “PETRÓLEO” gravada na agenda
mediática.
O caso é que, nos dias de hoje (pese embora o
eterno acordo entre a CEE/União Europeia com os países designados como ACP), o
pêndulo do relacionamento está nitidamente a desviar-se para a Ásia: - primeiro
foi a China [que até criou há pouco mais de uma dezena de anos o Fórum de Macau
para desenvolver as relações com os países «lusófonos»]…e agora, com muitos
anos de atraso, está a ser a Índia a promover essa aproximação. Dois dos países
BRICS a recentrar o eixo da política internacional.
A União Europeia, apesar da sua
atenção/preocupação mais centrada em questões internas, no leste europeu e no próximo
e médio oriente, vai tentando arrepiar caminho no que foi o seu afastamento dos
problemas da África. E não só no que diz respeito aos “refugiados” ou
Migrantes, apesar da recente tentativa de perceber, para resolver, esse
complexo problema. Só dinheiro para os Estados Africanos não resolverá
certamente. Por isso é que Federica Mogherini, [Alta Representante
da UE para a política externa] diz que “o
objetivo é criar oportunidades para as pessoas, proteger a vida das pessoas,
lutar contra as redes de tráfico que exploram o desespero das pessoas e fazer
tudo isto em conjunto”. Daí, o avanço das parcerias estratégicas.
Quero dizer eu…não impor, mas aceitar e adaptar regimes com a maior
transparência possível e à medida de uma justiça universal, sem pretender ser
donos da justiça ou de um conceito único de democracia. A isto chamo COOPERAÇÃO
– uma atitude para a qual é fundamental rever os atuais paradigmas. Por isso,
Podemos sempre incluir aqui inúmeras ideias.
Há sempre qualquer
coisa de novo em África e uma aptidão constante para
surpreender – diz o historiador Elikya M’Bokolo – ciente de que há muitas
Áfricas.
Apesar de tudo, apesar das imagens que
nos chegam, esperemos poder continuar a ser surpreendidos. E no que diz
respeito ao chamado espaço da África Lusófona – o que nos toca – continuemos a
acreditar na Guiné-Bissau; reforcemos o pragmatismo de Cabo Verde; tenhamos
esperança no “rio dos bons sinais” em Moçambique; não regateemos esforços
relativamente a S. Tomé e Príncipe; olhemos convictamente para Angola…com Kizola (Amor) e com Kidielela (Esperança).
Segundo o Artigo 1º da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, “Todos os seres humanos nascem livres e iguais
em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em
relação uns aos outros com espírito de fraternidade.” Traduzido
para Ovimbundu, é mais ou menos assim: - Omanu vosi vacitiwa valipwa kwenda valisoka kovina vyosikwenda komoko.
Ovo vakwete esunga kwenda, kwenda olondunge kwenje ovo vatêla okuliteywila
kuvamwe kwenda vakwavo vesokolwilo lyocisola.
E
no princípio…o Senhor alimentou África, dando vida aos rios no continente:
senegal, gâmbia, níger, congo, cuanza, kwando, cubango, zambeze, limpopo,
orange, nilo…e plantou no mar as ilhas de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe,
com muito sol. Lembrando a língua Xhosa de Nelson Mandela – NKOSI SIKELELE iÁFRICA (o que significa
= Senhor, abençoai a África!).
António Bondoso
Jornalista
Maio de 2017
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