ANGOLA – 4 DE FEVEREIRO.
É IMPORTANTE LEMBRAR…FUNDAMENTAL NÃO ESQUECER!
Não é fácil digerir
esta parte da história, em ambos os lados da barricada, mas é preciso sempre não
esquecer o passado, para melhor encarar o futuro.
Numa
página da Fundação Agostinho Neto pode ler-se por exemplo: “…no intuito de libertar
os compatriotas injustamente encarcerados, um grupo de nacionalistas munidos de
catanas e poucas armas de fogo atacou as principais cadeias, em Luanda dando
início a Luta Armada de Libertação Nacional.
Face a esta bravura,
a retaliação não se fez esperar. Portugal enviou para Angola, milhares de
soldados fortemente armados que foram perseguindo não só os participantes
activos desta revolta, mas sobretudo as populações indefesas que eram as
principais vítimas dessas barbáries que incluíam raptos e assassinatos, um
pouco por todo o país. Isso fazia com que os defensores da liberdade fossem
cada vez mais para as matas aderirem ao movimento de guerrilha acabado de
nascer, em função dessa revolta”.
Mas nem tudo é linear na história
«recente», apesar de ter passado já mais de meio século. Lendo um extenso e bem
documentado artigo de Fernando Martins, do jornal Observador, focamos a «ideia»
de «verdades e de mitos» a propósito de dois marcos da luta armada em Angola no
tempo colonial se acrescentarmos o 15 de Março: No entanto, o essencial da
narrativa que aqui nos traz assenta sobretudo em factos que o não foram, ou
omite factos que são determinantes para se perceber, de uma outra forma, como
se iniciou, porque se iniciou e quem iniciou uma luta sistemática contra o
colonialismo português assente em acções de guerrilha. Por exemplo,
desvendando-se a autoria correcta dos acontecimentos de Fevereiro, ou uma
responsabilidade mais rigorosa no que à preparação e desenrolar do
acontecimentos de Março diz respeito, de ambos retirar-se-á um outro
significado.
O que implica, não apenas que a narrativa do anticolonialismo
angolano (iniciada, grosso modo, em 1960, e concluída, numa primeira fase, em
Fevereiro e Março de 1961) merece uma outra interpretação, como as conclusões a
retirar sobre o efeito destes dois acontecimentos, pelo menos a curto médio
prazo, serão distintas daquelas até agora apresentadas.
Enquanto se debruça nas
leituras, valorizamos e deixamos aqui uma pequena nota sobre o estado de espírito
do Presidente-Poeta, em 1960. Agostinho Neto, preso no Aljube, manifestava «impaciência
nesta mornez histórica» e tinha pressa. Dois poemas ali escritos são
exemplares: em DEPRESSA (Agosto de
1960), Neto propõe:
(…)não esperemos os
heróis
sejamos nós os heróis
unindo as nossas vozes e os nossos braços
cada um no seu dever
e defendamos palmo a palmo a nossa terra
escorracemos o inimigo
e cantemos numa luta viva e heróica
desde já
a independência real da nossa pátria.
sejamos nós os heróis
unindo as nossas vozes e os nossos braços
cada um no seu dever
e defendamos palmo a palmo a nossa terra
escorracemos o inimigo
e cantemos numa luta viva e heróica
desde já
a independência real da nossa pátria.
E em Setembro do mesmo ano, Agostinho Neto já fala de LUTA, de violência e de corpos
insepultos:
LUTA
Violência
vozes de aço ao sol
incendeiam a paisagem já quente
vozes de aço ao sol
incendeiam a paisagem já quente
e os sonhos
se desfazem
contra uma muralha de baionetas
Nova onde se levanta
os anseios se desfazem
sobre corpos insepultos
E a
nova onde se levanta para a luta
e ainda outra e outra
até que da violência
apenas reste o nosso perdão.
e ainda outra e outra
até que da violência
apenas reste o nosso perdão.
=== António Bondoso
4 de Fevereiro de 2019.
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