2019-10-16

COESÃO…
…ou de como os habituais «profetas da desgraça» olham para o país e para o novo governo.


Ontem e hoje – passe a Catalunha e os Curdos da Síria, pois ninguém se lembra de África – o grande tema nos títulos dos jornais, na rádio e nos comentários das televisões tem sido o governo. Contornando as previsões de muitos, António Costa manteve Centeno e Van Dunem e «politizou» o núcleo duro. Mas eis que alguns membros do chamado «4ºpoder» ou «contrapoder», deixo à escolha, logo «descobriram» algumas brechas para alimentar a «escrita» e o «paleio»: os poderes que Centeno terá perdido – já dizem que vai durar no máximo dois anos – a ousadia ou teimosia em manter os da Educação e da Saúde e, vejam lá, o desplante em promover a ministra uma simples presidente da CCDRC, com a «pasta» da Coesão. Sabe-se como é um tema caro a António Costa. E conhecem-se algumas tentativas para dinamizar a ideia, apesar de nem ter corrido bem. Não por falta de ideias mas por falta de vontade política. O primeiro-ministro não conseguiu casar o seu projeto com as limitações da conjuntura herdada e que era fundamental ultrapassar. Mas agora acredita, embora eu seja cético, e por isso acrescentou importância à «Coesão».
         O meu ceticismo é velho de muitas décadas. Tantas quantas já passaram depois do 25 de Abril. E a falta de coesão, que motivou a desertificação e foi causa maior da emigração, vem até de muito antes. Nunca fomos um país «inteiro». Como eu escrevo e demonstro no meu recente livro TERRA DE NINGUÉM (Edições Esgotadas) e sobre o qual vos deixo alguns pontos de reflexão, particularmente nas páginas 22 e 23:
Falar, hoje, em “reforma do Estado” sem promover a Regionalização...parece-me ser pior a emenda do que o soneto! Racionalizar não significa propriamente apenas “cortar” mas sim tornar mais eficaz e produtivo (…)
Porque não se cumpre a Constituição? É costume alguns responderem com a pequenez do território e outros refugiarem-se na pequenez de mentalidades. Desconcentração, descentralização, regionalização – enquanto se definem e alinham conceitos ao sabor das circunstâncias, o país vai-se mantendo assimétrico, desordenado e cada vez menos coeso (…)
Assimetria “maior”? Tudo é diferente “lá” no litoral...e em “dó” maior no interior ou nos designados territórios de baixa densidade. 
Interior? Armamar, Lamego, Moimenta da Beira, Sernancelhe, Tabuaço ou Tarouca?
Territórios de baixa densidade? Vila Nova de Paiva, Penedono, Resende ou Cinfães?
Também Lisboa e o Porto (ou Braga e Coimbra) têm os seus interiores, tal como possuem os seus arrabaldes. O que os distingue verdadeiramente…é a falta de coesão (…)”.
Esperemos então que a nova ministra e o novo governo possam ultrapassar os eternos condicionalismos da pequenez e da falta de visão estratégica. Se falhar mais uma vez…não será caso para desistir. Mas será uma perda muito grande e uma ferida que tardará a sarar.  

António Bondoso
Jornalista
Outubro de 2019.

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