COESÃO…
…ou de como os
habituais «profetas da desgraça» olham para o país e para o novo governo.
Ontem
e hoje – passe a Catalunha e os Curdos da Síria, pois ninguém se lembra de
África – o grande tema nos títulos dos jornais, na rádio e nos comentários das
televisões tem sido o governo. Contornando as previsões de muitos, António Costa
manteve Centeno e Van Dunem e «politizou» o núcleo duro. Mas eis que alguns
membros do chamado «4ºpoder» ou «contrapoder», deixo à escolha, logo «descobriram»
algumas brechas para alimentar a «escrita» e o «paleio»: os poderes que Centeno
terá perdido – já dizem que vai durar no máximo dois anos – a ousadia ou
teimosia em manter os da Educação e da Saúde e, vejam lá, o desplante em
promover a ministra uma simples presidente da CCDRC, com a «pasta» da Coesão.
Sabe-se como é um tema caro a António Costa. E conhecem-se algumas tentativas
para dinamizar a ideia, apesar de nem ter corrido bem. Não por falta de ideias
mas por falta de vontade política. O primeiro-ministro não conseguiu casar o
seu projeto com as limitações da conjuntura herdada e que era fundamental
ultrapassar. Mas agora acredita, embora eu seja cético, e por isso acrescentou
importância à «Coesão».
O meu ceticismo é velho de muitas décadas. Tantas quantas já
passaram depois do 25 de Abril. E a falta de coesão, que motivou a
desertificação e foi causa maior da emigração, vem até de muito antes. Nunca fomos
um país «inteiro». Como eu escrevo e demonstro no meu recente livro TERRA DE
NINGUÉM (Edições Esgotadas) e sobre o qual vos deixo alguns pontos de reflexão,
particularmente nas páginas 22 e 23:
“Falar,
hoje, em “reforma do Estado” sem promover a Regionalização...parece-me ser pior
a emenda do que o soneto! Racionalizar não significa propriamente apenas
“cortar” mas sim tornar mais eficaz e produtivo (…)
Porque não se cumpre a
Constituição? É costume alguns responderem com a pequenez do território e
outros refugiarem-se na pequenez de mentalidades. Desconcentração,
descentralização, regionalização – enquanto se definem e alinham conceitos ao
sabor das circunstâncias, o país vai-se mantendo assimétrico, desordenado e
cada vez menos coeso (…)
Assimetria “maior”? Tudo é
diferente “lá” no litoral...e em “dó” maior no interior ou nos designados
territórios de baixa densidade.
Interior? Armamar, Lamego, Moimenta
da Beira, Sernancelhe, Tabuaço ou Tarouca?
Territórios de baixa densidade?
Vila Nova de Paiva, Penedono, Resende ou Cinfães?
Também Lisboa e o Porto (ou Braga e
Coimbra) têm os seus interiores, tal como possuem os seus arrabaldes. O que os
distingue verdadeiramente…é a falta de coesão (…)”.
Esperemos
então que a nova ministra e o novo governo possam ultrapassar os eternos
condicionalismos da pequenez e da falta de visão estratégica. Se falhar mais
uma vez…não será caso para desistir. Mas será uma perda muito grande e uma
ferida que tardará a sarar.
António Bondoso
Jornalista
Outubro de 2019.
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