RUMO AO SUL em mares já muito navegados…ou a maior viagem do
navio-escola Sagres, quer em duração,
quer em distância – nos seus 82 anos de história
RUMO AO SUL em mares já muito
navegados…ou a maior viagem do navio-escola Sagres, quer em duração, quer em distância
– nos seus 82 anos de história – para recordar ao mundo «perigos e guerras
esforçados…mais do que prometia a força humana, (…) e outros em quem
poder não teve a morte (…)». O comandante da Sagres, Maurício Camilo, assinalou que esta viagem “vai ter a maior tirada da história do navio, que serão
32 dias a navegar, entre o Taiti e Punta Arenas”.
Ao ouvir e ao ler isto, veio-me à
memória um escrito brilhante do chileno Francisco Coloane, natural de Quemchi –
Chiloé – no sul do país e filho de um marinheiro, com quem tive o prazer de
conversar telefonicamente há mais de 20 anos (juntamente com a minha camarada
da Rádio Macau Joyce Pina), escrito a que deu o título de «O Último Veleiro» para homenagear a última viagem do navio-escola BAQUEDANO até ao cabo Horn.
Coloane,
que Luís Sepúlveda considera o seu mestre na arte de contar, foi jornalista e
um dos maiores escritores chilenos, deixando-nos outras obras como Terra do Fogo, Terra do Esquecimento, A Voz
do Vento, Cabo Hornos ou O Caminho da Baleia – as quais retratam de forma
vigorosa a geografia social e humana das longínquas terras e mares por onde navegou
Magalhães para chegar ao outro lado do mundo, antes de ser morto em Cebu, uma das
inúmeras ilhas das Filipinas.
Neste «O Último Veleiro», no capítulo “De
Punta Arenas Até La Tumba Del Diablo”, Coloane descreve uma viagem em sentido
inverso ao de Magalhães, dizendo que a Baquedano
“…deu a volta ao cabo Froward, abrupta extremidade que assinala o fim da
parte continental do Novo Mundo,e, passado o Farol San Isidro, numa manhã de
Inverno, avistou a bonita cidade de Punta Arenas, com quarenta mil habitantes,
situada nas margens do estreito de Magalhães, frente à lendária ilha da Terra
do Fogo. (…) A cidade, reclinada no sopé da península de Brunswick, surgiu
completamente branca de neve, como se fosse uma fantástica metrópole de
mármore».
Pois vai ser também por ali que o navio-escola Sagres vai navegar, nesta
reedição da viagem de circum-navegação que Fernão de Magalhães iniciou há 500
anos, ao serviço de Espanha. O navio vai passar por 22 portos de 19 países,
prevendo-se que visite 12 cidades da rede mundial de Cidades Magalhânicas antes
de regressar a Lisboa em 10 de Janeiro de 2021.
Pode acompanhar o rumo da Sagres, aqui: https://www.facebook.com/groups/2369641546620781/?fref=mentions
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António Bondoso
Jornalista
6 de Janeiro de 2020
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