2021-04-12

UM PAÍS ESTRANHO…ou de como os portugueses pretendem dividir o país em bons e maus, competentes ou incompetentes, justos ou injustos. 



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         Não há juízes bons e maus. Há juízes que seguem/interpretam as «leis» produzidas pelos deputados sentados no Parlamento. Os mesmos juízes avaliam, com olhos de saber diferente, os indícios e/ou as provas que lhe são apresentadas pelos investigadores do Ministério Público. Que, tal como os deputados, podem ser «falíveis» por motivos diversos. E quem acusa é que tem o ónus da prova. Por isso se exige que os investigadores possam agir com rapidez e competência. Por isso se exige que haja meios humanos e técnicos capazes e eficazes para apoiar o «juiz de instrução».

         Os juízes são de carne e osso, como todos nós. Mas são juízes. Alguém pode pensar que os juízes não têm preferências partidárias? Claro que têm, embora não a possam revelar. Mas alguém sabe a «cor» de cada juiz? O senhor Carlos Alexandre será bom por ser do partido «a» ou «b»? E o senhor Ivo Rosa será mau, por ser do partido «c» ou «d»? Não. Um juiz é um juiz – ponto final!

         E das decisões de cada um, há sempre recurso para uma instância superior. Por isso o MP, que não pode estar isento de culpas nas suas investigações, entendeu recorrer das decisões de Ivo Rosa. Deixemos a «justiça» funcionar. Independentemente da maior ou menor «perplexidade» que possa ter transparecido para a opinião pública. O que não pode ser avaliado da mesma forma pelos agentes da Procuradoria-Geral da República.

         Por outro lado, e seguindo a linha de raciocínio, alguém sabe quantas decisões de um coletivo de juízes terão sido tomadas por unanimidade? Podem consultar os acórdãos dos diversos Tribunais de Relação, do Supremo ou do próprio Tribunal Constitucional. O que é importante reter é que os juízes, de forma perfeitamente normal, podem ter interpretações diferentes do espírito e da letra da «Lei». Por isso, haverá sempre quem possa ficar agradado ou se possa sentir injustiçado com uma determinada decisão. Mas isso, só por si, não justifica a condenação de um juiz na «praça pública». Como tem vindo a acontecer, infelizmente, com a quase totalidade dos arguidos deste país. Porquê? Pela simples razão de que há sempre interesses que se movem, pró ou contra. Para além dos diversos «agentes» da «justiça», há depois os interesses dos «média» que se alimentam das chamadas «fugas de informação» e das formas de pressão exercidas pela seleção dos seus comentadores.

         José Sócrates vai ser entrevistado? Pode ser bom…ou mau para ele. Falar muito ou «fora de tempo» pode não significar ganhos de causa. Em qualquer caso, Sócrates tem sido «condenado» pela opinião pública nos últimos sete anos.  

         Mas a justiça em praça pública não é dignificante. Demasiada mediatização em nada contribui para uma «justiça serena». E quando tudo isto cai na praça pública de forma «enviesada», cai o «pilar» fundamental do regime democrático. Um país, nesse caso, poderá estar a caminho de ser um país «falhado». Exemplos não faltam por esse mundo fora. Não estamos no tempo dos «tribunais plenários» do Estado Novo nem tão pouco no tempo da lenda da «Justiça de Fafe».  

         Quando falo nisto, vem sempre à ideia a célebre frase do Pinheiro de Azevedo: - calma. É só fumaça!   

         O que verdadeiramente nos deve preocupar é o vírus, o desemprego e a pobreza. Uma petição para eliminar ou controlar a pobreza, atacando os verdadeiros alicerces? Isso, eu assino sem reservas. Como assino o fim da má distribuição da riqueza – um mal que nos assalta há séculos. Por isto vale a pena lutar, com inteligência e competência. A ignorância e o carreirismo são os germes de todos os males.

António Bondoso

12 Abril de 2021.  

 

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