MAQUIAVEL À SOLTA EM PORTUGAL…ou de como os média tudo procuram «condicionar» através dos “testas de ferro” saloiamente chamados a comentar a vida em sociedade. Tem hoje a ver especificamente com uma entrevista a António Costa, estrategicamente «alinhada» para um momento de grande indefinição político-partidária, sabendo-se das demoradas movimentações internas no PSD e no CDS. A entrevista, precisamente na sequência do chumbo da proposta de OE que o governo apresentou na AR. Nada mais natural, neste momento, não fosse a conjuntura.
E
qual a razão de eu «chamar» Maquiavel à minha narrativa? Exatamente pelo facto
de – apesar da influência dos média e da supostamente mais livre decisão dos
eleitores – não ter ainda acabado o fosso entre a política e a moral. Por isso,
diz Edouard Balladur[1] é
necessário ainda mais hipocrisia, enganando não apenas alguns mas todos, para
triunfar. E acrescenta: “O mérito de Maquiavel está em ter acabado com a
hipocrisia dos bons sentimentos”. E caracterizou os métodos do poder [os fins
são outra história] simplesmente dizendo que a «luta pela conquista do poder é
a realização das ambições egoístas e nada mais». E como «cheira» a muito
dinheiro a entrar neste país nos próximos tempos. Até me faz lembrar o início
dos anos de 1990, com as maiorias absolutas de Cavaco Silva. Como foi produtivo
esse duradouro «período de betão».
Na sequência do recente «golpe» na AR,
escrevi eu há dias que SABEMOS LER MAS NÃO CONSEGUIMOS ENTENDER…mesmo depois de
ouvir. Porque foi impossível «escutar». E por isso não podemos ignorar. Custa
lembrar Sofia, mas é fundamental seguirmos o seu pensamento. Tal como não foi
por acaso que escreveu «vemos, ouvimos e lemos – não podemos ignorar», também
hoje não podemos ignorar o triste, doloroso e caríssimo espetáculo na chamada
«Casa da Democracia». E como seria possível não o fazer, quando vimos ali
desfilar vaidades, lutas pela sobrevivência, estratégias pessoais – tudo à
frente do chamado «interesse nacional». Existe até uma «cassete» que o designa
por «superior». O interesse nacional e o Povo. Há dias, havia criticado aqui os
patrões e os sindicatos e quem os segue. Agora, acrescento ao lote os meios de
comunicação social. E é assim que eu digo que a entrevista a António Costa,
emitida ontem, não deixou de ser um «balão de ensaio» para o anunciado debate
de hoje sobre o que pensa a «direita».
Por outro lado, insistem – sem sequer
questionar (como fizeram a Costa) – em dar “tempo de antena” a todos os que
mais responsabilidades tiveram no desencadear da crise, aproveitando para
estender uma passadeira ao «principal» partido da atual oposição, que – vejam lá
– tem a «sorte» de ter dois líderes (duplicando, assim, o tempo de antena). E
essa «tirada» demagógica do inefável Rangel, a interpretar a entrevista de
Costa? Alguém terá ouvido António Costa «admitir» a derrota, como disse Rangel?
O que o 1ºM disse, respondendo a uma questão de AJT, é que, se o PS não ganhar,
não tiver mais votos do que os adversários, assumirá a sua responsabilidade
política. Como é natural num partido democrático, colocando o seu lugar à
consideração dos militantes do seu partido. Isto é «admitir» alguma derrota? Tanto…como
a angelical intervenção dos pontas de lança do PCP e do BE. Como se nada fosse
com eles!
Não me admira que um candidato a
disputar o poder no partido da oposição diga o que disse. O que me entristece é
os média deixarem passar essa «blague» sem questionar. Os «pés de microfone»
estão de novo na moda? Ou há «ordens» para ser assim?
[1] - Maquiavel Em Democracia – a mecânica do poder. Casa das Letras, 2006.
Todos sabemos como funciona o
«sistema». E todos sabemos que o poder tem encanto e é um prazer. Tal como
sabemos que o povo gosta de ser desejado a qualquer preço. Por isso…siga o
espetáculo da demagogia!
António
Bondoso
Novembro
de 2021.
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