UM LIVRO DE VEZ EM QUANDO…neste ano de 2021.
“OS MANUSCRITOS DE R.”
– DA MORTE, como eu lhe chamo, …ou de como as guerras deixam marcas
indelevelmente profundas. É mais uma obra do camarada Jaime Froufe Andrade, 2ª
edição já em 2019, – uma história crepuscular, como ele refere na sua
dedicatória, desassossegada e de pegada demencial, à volta do ocaso da vida de
um “estilhaço humano” gerado pela guerra colonial!
O tema é recorrente, mas esta narrativa do Jaime – ora simples, ora mais erudita – conduz-nos por um inesperado labirinto de mensagens, importantes porque baseadas em vivências, esperando encontrar uma saída correta, sensata, equilibrada, para a questão de fundo que é o ser e estar vivo! Mais importante ainda – estar na posse de todas as faculdades físicas e mentais. Mas numa «guerra», depois de rebentar a mina e a metralha, nunca mais se é o «mesmo»… mesmo que o BI ou o CC o confirmem! E depois, como é frequente o fenómeno da “Anosognosia” – essa incapacidade de o doente reconhecer, ou simplesmente aceitar a sua disfunção mental.
O autor, que cumpriu uma missão em
Moçambique como “alferes ranger” (miliciano), entre 1968 e 1970, coloca a sua
personagem contadora da «estória» a descer a Circunvalação, com Matosinhos à
direita e o Porto à esquerda. E nessa passada «clandestinamente delirante»,
antes de chegar à Anémona e depois do Magalhães Lemos, o “Rodrigues” – ou alferes
Rodrigues, o Rodrigues-poeta, ou ainda o Rodrigues-escritor – vai construindo a
narrativa de uma «operação especial» de alto risco que ficou por fazer em
Moçambique, e para a qual foi aliciando os novos companheiros do hospital que,
no início, era uma pensão onde havia partilhado “secretamente” a ideia da
«operação» com o Artur, o qual – apesar de entusiasmado – viria a desistir,
sabe-se lá porquê, não sem antes ter encontrado um camarada fundamental para a
operação, conhecido da comissão em África onde terá ganhado a alcunha de «operacional
de nascença».
Pelo meio, outras memórias: dos familiares, de cá (atónitos e inquietos após o teste das 3 palavras), e da «família» de lá – os companheiros de armas – no início todos “viventes-a-longo-prazo”, mas aos poucos transformados em “mortos-definitivos” ou em “viventes-a-curto-prazo”, expressões invulgares que marcam e diferenciam a obra!
Jaime Froufe Andrade, jornalista e
dirigente da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, já nos
presenteou anteriormente por exemplo com «Não sabes como vais morrer», da
coleção “Memória Perecível”, da AJHLP. «Os Manuscritos de R.», de leitura
obrigatória e igualmente editado pela AJHLP, pertencem à coleção “Palavra
Transitiva”. Contacto do autor: «froufe.andrade@yahoo.com».
António
Bondoso
Novembro
de 2021.
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