2022-12-03


Quando as palavras são o espelho da alma e do coração…ou de como nunca é fácil esse processo de um autor chegar ao título de uma obra.

José Teixeira é um poeta de fôlego. Pelo menos palavras não lhe faltam, atentando na sua já vasta bibliografia que culminou neste seu recente “PALAVRAS QUE O VENTO (E) LEVA”, título que o autor fez salientar exatamente do último poema do livro. Admito que o facto de ser o último – certamente por estar mais fresco na sua mente – o tenha levado à escolha, provavelmente nada subjetiva. 


Foto da USRM

         Contudo, a minha leitura – e neste caso naturalmente muito subjetiva – levou o curso da mente para uma abordagem que, tendo em conta as marcas do passado do autor e a reflexão que faz do presente, em busca do futuro que – como diz – está a acontecer ou em construção, como destaca em repetição nas páginas 51 e 56, me conduziu a outras opções. Como por exemplo «É urgente mudar o mundo», «Rasgar horizontes», «O poder do tempo», «Libertar as palavras» ou ainda «É preciso libertar o homem» – um construtor de sonhos gota a gota, e sempre a remar contra a maré.

         Estas, são palavras do tempo presente, um tempo difícil como sabemos e vivemos, um tempo em que a Europa voltou a receber a violência da guerra. Recordo que, no século XX, para além das duas Grandes Guerras, houve ainda a moderna guerra dos Balcãs depois da implosão/fragmentação da ex-Jugoslávia. E José Teixeira, que fez a guerra em outros tempos, não tão recuados quanto isso, sabe precisamente que a “Guerra é guerra” para a qual não é possível uma justificação. No entanto e apesar de tudo, os poemas deste PALAVRAS QUE O VENTO (E) LEVA falam igualmente de «amor», que faz milagres e não tem cor; do maior amor do mundo, revisto em «Mulher e mãe» e num «Botão de rosa enamorado»; ou então numa vida a dois, na qual o amor aconteceu e onde é essencial saber conjugar o verbo amar, sublimado em “Filho, a tua mãe está aqui”! 


Capa

Este meu jogo de palavras, que vivem esperançosamente nos poemas do livro em apreço, de José Teixeira, não tem por objeto criticar – qualificando – a forma e o conteúdo do que li, com prazer devo dizer. Pelo contrário, pretendo apenas seguir o eco dos pensamentos do autor, que me parece não estar agarrado a um qualquer estilo definido. Não sendo uma poesia totalmente branca e não se obrigando a uma rima perfeita – o que, de certa forma, me agrada – ela percorre ainda temas que passam pela ecologia, pela força da natureza e pelo sempre difícil e complexo campo da filosofia. Buscando Almada Negreiros, devo recordar que «o poeta não precisa de intermediários». E como ele salientava, “O preço de uma pessoa vê-se na maneira como gosta de usar as palavras. (…) As palavras dançam nos olhos das pessoas conforme o palco dos olhos de cada um”. O palco de José Teixeira, salienta na sua introdução, é então este livro, no qual se deixou embalar nas palavras que lhe saltearam a mente e contaminaram o coração. Não necessariamente pela poesia. Tudo poderia ter sido dito ou escrito em prosa. E tudo poderia certamente «dar» um belo romance.

         Basta tomar nota de que…«Numa manhã de sol radioso, e ansioso esperava as palavras do Profeta, ainda acreditava num jardim de paz e de bonança, quando os senhores do mundo tiraram a espoleta.

“(…) Pára-me de repente o pensamento,

E vejo sangue, vejo lágrimas, vejo gente,

Caminhando no trilho, em fuga. Sem lamento;

Vejo o inferno vomitando chamas,

De enxofre enegrecido pelo tempo,

São as armas a troar continuamente;

Vejo corpos desfeitos e sem vida;

E vejo sangue, vejo lágrimas, vejo gente; (…)”

José Teixeira – «É preciso libertar o Homem» – faz o favor de participar nas minhas aulas de Relações Internacionais na USRM – Universidade Sénior Rotary de Matosinhos.


                                                                       Foto da USRM

O livro PALAVRAS QUE O VENTO ( E ) LEVA, foi editado por “Poesia Impossível, do Grupo Editorial Atlântico”, neste ano da Graça de 2022.

António Bondoso

Dezembro de 2022. 



 

1 comentário:

José Teixeira disse...

Obrigado professor, pelas suas amáveis palavras.
Procurei neste livro fazer passar uma mensagem de que é possível acreditar num futuro melhor, se o soubermos construir hoje.
A sua leitura ajudou-me a ver melhor as palavras que "agarrei" no meu íntimo, ordenei de forma a cativar os leitores e passei ao papel.
Um desafio que me deu muito gozo ao escrever e agora me alegra pelo carinho como está a ser acolhido pelos meus leitores e amigos.
Um fraternal abraço do
José Teixeira