2022-12-30

 

É UMA “POESIA DE TRAÇOS” e de “Forte Intervenção” a que preenche este escrito sobre UM LIVRO DE VEZ EM QUANDO...neste final de ano de 2022, quando me chegam “Caminhos de Sombra”, de Carlos Nascimento, um «pintor/poeta» que conheci num convívio de Natal da Editora Edições Esgotadas. 



Carlos Nascimento, que se define como «artista plástico/poeta», foi o autor que me saiu em sorte para trocarmos conhecimento. E o beneficiado fui eu, pois recebi uma obra muito interessante, quer do ponto de vista literário, quer estético, com uma capa muito bem conseguida – a partir de uma foto de Clotilde Abrantes – e com belas ilustrações de alguns amigos do autor, nomeadamente Helena Freitas, Isabel DeNascimento, Jéssica Moura, José Cid e Júlio César, para além da já citada Clotilde Abrantes e do pintor João José Alvão Pereira, sobrinho de José Régio.  



É uma «poesia de traços», como disse, de continuidade e de cruzamentos sem nunca perder o centro. «Caminhos de Sombra» tem poucas reticências, mas o leitor sabe que pode contar com a sequência da matéria e do enredo num dos poemas que vem a seguir: - o amor, a liberdade de ser e de estar, o direito à chamada igualdade de género.

         Traços fortes, como no poema “No Olhar dos Sentidos”: «as cores refletem – movimentos/ Rodopiantes em paleta cromática/ Nasce uma mulher – vestida/ de sedas finas – cores salmonadas/ – Desnudas.» Ou… “Por detrás da janela – outra janela reluz na água/ – Flores como estátua – ardente na madrugada;/ navego no “dongo” – abraço a minha libata”. Este último tem já a ver com os seus «diálogos» com África. Talvez não através dos seus caminhos de «sombras» [a nota biográfica não deixa perceber isso], mas talvez pelos seus caminhos de «vida», pelo «amor conjugal» que o transporta nomeadamente a Benguela – Angola. Um território que eu também conheço e que, como refere Carlos Nascimento, «…cheio de sabores e felicidade numa harmonia de irmandade». Mas há também o outro lado que não escapa à «Tolerância Zero» do autor: – “Embora de coração mutilado/ A menina brinca “canhé”/ – Sem brilho – olhar parado pela dor residente/ Por debaixo “jinjiguita” a criança/ Que corre e procura o “quero”/ – O feminino genital mutilado, grita:/ Tolerância Zero”. 



Caminhos de Sombra é, portanto, um livro com «poesia traçada», com linguagem «mestiça» e colorida e que também não esquece a dor incomparável das crianças na guerra – em todas as guerras.

         Carlos Nascimento – artista plástico/poeta – respira aqui «Acordes de Luz» – Cinzelados nas pedras milenares;/ Entre rolham-se/ Os pincéis e os dedos cúmplices – e um poema». 




Apenas «traços» da minha leitura, pois a poesia não carece de explicações e de intermediários. Por tudo isto vale a pena ler. Caminhos de Sombra, Carlos Nascimento e Edições Esgotadas – 2019. 



30 De Dezembro de 2022

António Bondoso        














 

1 comentário:

Anónimo disse...

Caríssimo amigo António Bondoso, depois de ler estas suas magnas palavras sobre os meus " CAMINHOS DE SOMBRA " só me resta deixar cair a minha lágrima do canto do olho ao encontro do meu mar.
Um grande fraterno abraço.
Carlos Nascimento