2023-02-18


UM LIVRO DE VEZ EM QUANDO…ou de como parece tudo poder começar na literatura infantil ou infantojuvenil. 



Desde sempre, os temas difíceis foram, de algum modo, tratados na literatura infantil, apesar das reservas que a sociedade pode ou não ter em relação à sua abordagem junto dos mais novos. Se por um lado a Humanidade procura proteger as crianças destes temas mais complexos, esta proteção não pode nem deve ser confundida com ignorância, relativamente a acontecimentos ou a aspetos com os quais os mais jovens se podem vir a confrontar.

(AZEVEDO, Fernando; BALÇA, Angela; SELFA SASTRE, Moisés (2017). Os conflitos bélicos e a criança na literatura infantil. Perspectiva, 35(4), 1141-1156. 

         Vem isto a propósito dos tempos que vamos vivendo, claro, mas sobretudo de um livro que acabei de ler. Tem por título “A CIDADE QUE DEIXOU DE SORRIR” e sobre o qual eu percebi que, na literatura infantojuvenil, há histórias que podem espelhar um país ou o mundo em momentos particulares. 



         O livro de que falo e que integra o Plano Nacional de Leitura é da autoria de Milu Loureiro, publicado em 1ª edição em 2018 e reimpresso em 2022. É natural que a «ideia» tenha sido «bebida» nas dificuldades de um cotidiano de alguma forma perturbador e inquieto, pois exemplos não têm faltado. Depois dos anos da Troika e da difícil recuperação económica e financeira, a «pandemia» quase não deixou respirar a sociedade e – ainda numa fase crítica de «rescaldo» – sobreveio nova guerra em território europeu.

                   Portanto, entrando mais diretamente no que me traz aqui – que é o livro da Milu Heitor – à época em que a história foi idealizada, tal como hoje, “A vida na cidade ia de mal a pior e a tolerância era menos que zero”. E para além das discussões que se sucediam, “muita vezes passava-se ao uso da força”. Por outro lado, toda a gente reclamava e chegou-se ao ponto de “os filhos não respeitarem os pais e estes não terem paciência para eles”. 



         Buscando novamente Ângela Balça (2007), citada por Vera Lúcia Correia Mota em dissertação de mestrado (2019), temos que “Para formar leitores literários é necessário facultar as ferramentas adequadas − suportes escritos de qualidade −  bem como orientar os leitores no sentido de criarem novas perspetivas, de modo a torná-los «capazes de ler uma obra literária de forma competente, crítica, reflexiva, leitores capazes de olhares plurais, múltiplas leituras e distintas interrogações sobre o texto literário»”. E é também isto que nos oferece Milu Loureiro, nesta sua “CIDADE QUE DEIXOU DE SORRIR”, independentemente do facto de a história ter um final feliz – uma das características da literatura infantil, para além, claro, dos aspetos didáticos e pedagógicos. 



                   O livro tem a «chancela» da editora SANA e tem capa e ilustrações da própria autora. Vale a pena ler e seguir o trajeto desta licenciada em Filologia Românica, natural de Aguiar da Beira e que, deixando de ser Professora Bibliotecária, passou a «ensinar» pela escrita, pela narração oral e até pela confeção de tapetes narrativos, aventais e livros de pano.

António Bondoso

Fevereiro de 2023. 


 

2 comentários:

Miluloureiro disse...

Obrigada pelas suas palavras e pela lúcida visão da literatura infantojuvenil! É meu sonho maior formar leitores críticos e interventivos que se imbuam dos verdadeiros valores que devem nortear a nossa passagem por este mundo! Em suma, ajudar as crianças a serem pessoas de Bem!!

Anónimo disse...

Uma análise bem conseguida, já que nos tempos que vivemos existem muitas cidades que deixaram de sorrir. Mas uma criança que tenha a possibilidade de receber um sorriso é uma criança feliz e esse é realmente o foco da escritora no seu livro. Continuem a sorrir.