A PROPÓSITO DA DIGNIDADE...
A MINHA CRÓNICA (ESCRITA NA 2ªF.) A PUBLICAR NO JORNAL BEIRÃO DE 6ªFEIRA.
(Foto e Legenda de António Pedro Ferreira)
A TÁTICA DO QUADRADO...
...ou de como a “guerrilha” obriga, muitas vezes, a preferir
um recuo tático. A imagem também se utiliza em política, traduzida em dois
passos atrás para poder avançar um.
Mesmo
dando-se o caso de estarmos todos – ou quase – fartos dos joguinhos e das
jogatanas politiqueiras, há sempre assuntos que nos motivam a refletir,
colocando à prova a nossa imaginação, a criatividade e a sensibilidade de cada
um.
Acontece
que o número de Julho da revista Courrier
Internacional – edição para Portugal – debruça o seu “Olhar” sobre os
refugiados e a sua circunstância, colocando a questão: Se tivesse que fugir num
minuto, o que levaria?
Trata-se
de uma “campanha fotográfica”, da autoria de António Pedro Ferreira, que foi
integrada nas comemorações do Dia Mundial do Refugiado e promovida pelo
Conselho Português para os Refugiados em parceria com o ACNUR – Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. A iniciativa pretende
sensibilizar a sociedade portuguesa para o impacto da guerra nas famílias
refugiadas que, “num minuto, perderam tudo: o seu lar, os seus amigos, o seu
futuro”.
Nos
retratos selecionados – na sua maioria africanos e asiáticos – é dada ênfase a
pormenores como água, uma Bíblia, um par de ténis, um tapete ou mesmo um beijo
da mãe. Mas há um que me tocou particularmente: o de Francisco, que saiu da
Palestina com 2 anos de vida e foi para a Síria, acabando por fugir dali
rapidamente e sem nada. Trazendo apenas, como escreveu num cartaz, a sua DIGNIDADE.
Isto
faz-me lembrar que, mesmo não estando os portugueses em estado de guerra pura
com qualquer outra nação – no sentido bélico, portanto – não deixam de ser
muitos de nós refugiados na sua própria terra. Exatamente porque vamos sendo
despojados da nossa “dignidade”. Não só material. Sobretudo moral!
Se
atentarmos bem...sabemos que, por um lado, apenas 11 quadros bancários ganharam
mais de um milhão de euros em 2012, somando salário fixo e remunerações
variáveis; por outro lado, lemos que, já em 2011, quase metade da população
portuguesa estava em risco de pobreza. E hoje sabe-se que mais de 38% dos
desempregados estão em risco de pobreza, para além de ter aumentado esse risco
para um elevado número de famílias com crianças dependentes. Acresce que mais
de dois milhões de portugueses vivem com privação material e que é já muito
elevado o número de alunos em debilidade económica grave. E, mais grave, os
suicídios e homicídios: alguém vai ter que ser responsabilizado pelo facto de
haver “um cada vez maior desprezo pela vida humana”. Carlos Poiares, psicólogo
forense, acentua que a culpa é da crise pois “as pessoas perderam a esperança.”
O Estado
deixou de ser uma “pessoa de bem”, os governantes que o representam optaram
pela mais simples e mais antiga fórmula de “depenar” os cidadãos – cortes e
mais cortes nos salários e nas pensões e reformas, sempre aliados ao aumento de
impostos, diretos e indiretos. As pessoas ficam sem teto, deixam de poder
cumprir os compromissos para os quais foram sendo aliciadas, os bancos apropriam-se
das casas e “leiloam-nas” a quem tem dinheiro. Tudo em nome da alta finança
internacional – os mais perfeitos agiotas neste mundo globalizado. Tudo com a
benção de um Presidente que não preside.
E, assim,
vai aumentando igualmente o número de portugueses praticamente “obrigados” a
refugiar-se noutros países, recorrendo ao estatuto de “emigrantes”. E a maior
parte o que levará? Certamente a DIGNIDADE!
Eu, por
exemplo – se voltasse a emigrar e na certeza de não correr o risco de excesso
de bagagem – gostaria de levar também os Roteiros,
de Cavaco Silva; as folhas excell, de
Vitor Gaspar; a décima parte da reforma
de Catroga ou um sexto da pensão de
Assunção Esteves; umas ações do BPN,
mesmo que irrevogavelmente desvalorizadas;
a sabedoria e o arrojo de José Gomes
Ferreira – que já tem um governo à sombra da SIC; o brilhantismo da careca de Medina Carreira; um manual de espião e
muita LIBERDADE! Para poder pensar pela minha cabeça e agir de acordo com a
minha consciência, com os meus valores morais e éticos. E como um verdadeiro
soldado nunca deixa um camarada para trás, se tivesse que fugir num minuto[provavelmente
para as ilhotas Selvagens], levaria seguramente as verdadeiras AMIZADES que fui cultivando ao longo da vida. Sem qualquer tipo de tática!
António Bondoso
Jornalista – C.P.359.
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