HÁ IDEIAS QUE MARCAM...
...sobretudo quando proferidas por verdadeiros líderes.
Hoje, por exemplo - e a propósito da minha crónica no Jornal Beirão (escrita na terça-feira) - destaco esta de Vital Moreira:-"Regionalização está morta e sepultada. Não vale a pena contar com o sapato do defunto"!
O caso é que o tema está consagrado na CRP...e até parece que ninguém jurou defendê-la - a Constituição!
A TÁTICA DO QUADRADO...
...ou de como perduram – e podem até perpetuar-se – os
discursos (e as obras) com substância.
Ficou na
história uma célebre frase de Kennedy, dita em Berlim – cidade dividida pela
“Guerra Fria” – Ich bin ein Berliner;
tal como ficou na memória do mundo civilizado o vigoroso “grito” de Martin
Luther King – I have a Dream –
proferido em Washington, no final de uma grande marcha pelos direitos cívicos e
políticos dos negros nos EUA, realizada faz agora 50 anos.
A
“substância” – o que está por debaixo, o essencial, o mais importante – desses
dois momentos, foi e tem sido identificada pelo seu aspeto mais
propagandístico, mais do tipo slogan,
mais promessa. Sendo real, sem dúvida, parece ter sido esquecido ou menorizado
o papel da mensagem. E no caso de Luther King, importa agora reter a “leitura”
de José Luís Garcia – professor de Ciências Sociais na Universidade de Lisboa –
ao realçar que a mensagem “é uma grande peça da oratória cívica democrática e
não marketing político”.
Na nossa
ordem interna, e por oposição a Kennedy e a Luther King, o que temos? A
mediania mais baixa, sobretudo em Passos Coelho e mesmo em Cavaco Silva. Este,
com a agravante de ocupar a mais alta posição do Estado e, por isso, ter a
obrigação de olhar igualmente para todos os portugueses respeitando e fazendo
respeitar a Constituição. Falando e agindo quando deve. Intervindo com
oportunidade. Contudo – e sinceramente – alguém, algum dia, se virá a lembrar
de uma ideia, de uma simples frase com impacto na vida dos portugueses e com
origem no actual PR? Mais do que duvidar, tenho a certeza que não! O que Cavaco
Silva vai deixar como herança não irá além da presunçosa e negativa frase
“nunca tenho dúvidas e raramente me engano”! Não se vê nestes homens, nestes
políticos portugueses, um mínimo rasgo de génio, uma luzinha onde se possa
projetar a simples e evidente ideia de que o mundo gira e avança. E ao PR, para
ser eleito, basta uma promessa:- cumprir e fazer cumprir a CRP.
Nesta
perspetiva, o que nos resta? Rejeitando a hipocrisia e a política rasteira dos
arranjos partidários para atingir a posição de deputado – o que deveria ser uma
prática política nobre – talvez nos reste ainda uma ponta de dignidade no poder
local, apesar de alguns [felizmente poucos] maus exemplos revelados desde o 25
de Abril de 1974. O caso é que, nos últimos mandatos, o número tem vindo a
subir exemplarmente. Agravado agora com a tentativa saloia de alguns
pretenderem perpetuar o seu poder, fintando a lei de limitação de mandatos.
E por
aqui, pretendo chegar a este tempo de pré-campanha eleitoral para as
«Autárquicas», onde a substância tem primado pela ausência. O que se lê e se
ouve, então? As maiores banalidades – quando não ilegalidades – do tipo das
alegadamente praticadas por Menezes, no Porto, e por mais uns quantos
candidatos espalhados pelo país, sem contar com a referida triste figura dos
chamados “dinossauros”.
Promessas
são muitas e para todos os gostos apesar da “crise”. Nos grandes centros é
quase tudo a papel químico no que respeita à baixa de IMI, IRS ou Derrama, mas
no interior esquecido e cada vez mais desertificado – onde os municípios
continuam sendo os maiores empregadores – é muito pequena a margem de manobra.
Destaco, assim, o “arrojo” do presidente da Câmara de Arouca ao anunciar que a
autarquia vai complementar com mais 50% o salário base dos médicos de família
que aceitem ocupar as quatro novas vagas do Centro de Saúde local.
Eleitoralismo...ou resposta realista ao desagrado e protesto das populações
pela falta de médicos? Estes evitam Arouca porque os acessos são maus. Como
cativá-los então, se o poder central se demite dessa função, não cuidando,
sequer, de melhorar os acessos? Talvez não seja caso para dizer que o autarca
de Arouca “tem um sonho” à dimensão do que teve Luther King – que seria muito
provavelmente apenas melhores estradas e mais emprego – mas as populações que
recorrerem no futuro ao Centro de Saúde e lá tiverem um médico para as atender,
certamente se vão lembrar do que agora foi dito. A “mensagem” terá passado,
apesar de tudo. Se não para o poder central, pelo menos para as populações.
E por
muito que tenhamos a tentação de “castigar” os políticos e os partidos
tradicionais com o chamado voto nulo, nestas eleições de 29 de Setembro, será
de bom senso não o fazer. Votemos, mesmo que seja nas candidaturas designadas
como independentes. Deixemos o protesto do voto para 2015, já que foi essa a
vontade de Cavaco Silva.
António Bondoso
Jornalista – CP nº359.
Agosto 2013.
1 comentário:
Reflexão oportuna! Conteúdo assertivo, que subscrevo sem qualquer tipo de rebuço!
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