AGENDA MANGWANA
É
UM LIVRO COM MUITOS DIAS…
É
UM LIVRO COM MUITOS DIAS…
…ou
de como uma AGENDA, partindo de uma das línguas moçambicanas, consegue reunir
muito do pensamento do espaço lusófono.
Não é que a ideia seja inédita. Mas não
deixa de ser um projeto arrojado em língua portuguesa e de um modo muito
simples: solidariedade e espírito cooperativo, nesta iniciativa do CEMD –
Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora.
MANGWANA – assim se chama esta Agenda
para o ano de 2014 – pretende significar exatamente isso. Um amanhã mais
solidário, mais fraterno, vivido e participado em cada um dos 365 dias que nos
aguardam, num mundo cada vez mais complexo e egoísta, dominado por interesses
mesquinhos das grandes potências – elas próprias dominadas pelos potentes e
prepotentes mecanismos das multinacionais, geridos pela alta finança
internacional.
O espírito da coisa conseguiu, assim,
reunir poemas, textos e pinturas de muitos autores moçambicanos, outros tantos
de Portugal, alguns do Brasil, um de Angola, um da Galiza e mesmo um do Perú.
Embrulhado numa capa superiormente executada com base numa pintura de Lívio de
Morais, o trabalho final pode ser definido como quase um livro a jorrar poesia
por cada uma das suas 217 páginas. Não tem prefácio – e nem precisa – pois os
autores se encarregaram de se apresentar aos utilizadores da Agenda, num breve
resumo do trajeto de cada um.
E não deixará de ser interessante que,
no início do ano de 2015, o CEMD possa juntar – pelo menos os autores desta
edição – para que cada um consiga dizer aos outros o uso que deu ao seu
exemplar, mostrando, se quiser, as anotações vertidas no calendário. E dizer
igualmente se, desta iniciativa, terão resultado novas amizades, novos
contactos, eventualmente novos projetos. Pela minha parte, confesso até que
algum fruto já produziu esta Agenda/Livro, pois de Coruche – pela ideia de Ana
Teixeira Freitas que nasceu no Pinhão – me chegou um convite simpático para
participar em Fevereiro numa das mensais sessões de poesia que coordena, sob o
título genérico de UM POEMA NA VILA. Provavelmente não tanto pela poesia que
vou revelando, mas sobretudo pela minha ligação a S.Tomé e Príncipe. Que eu fiz
questão de, mais uma vez, salientar durante a apresentação de Mangwana, em
S.Domingos de Rana. As Ilhas no Meio do Mundo continuam a viajar comigo. Delas
também sou “diáspora”, entendida por Lívio de Morais “não como uma emigração
para regressar, mais como uma saída para ficar”.
Um
abraço de parabéns e de gratidão ao Delmar Maia Gonçalves, que se assume como
“Mestiço de Corpo Inteiro” e que escreve “Os pássaros/acordaram esperanças/a
morte morreu/e a vida renasceu”; por extensão e por direito também à sua
mulher, Vera Novo Fornelos, que nasceu em Viana do Castelo mas que agora
respira Moçambique e que diz “Muito tu, caneta,/escreves…/é infinda/a tua
tinta/quando/me circunscreves/na folha/que se pinta”.
E como foi bom partilhar a voz cantada
de Alfredo Magalhães Júnior, moçambicano que – há pouco – inovou a canção Parabéns a Você, vertendo-a para a
língua bosquímana: Tsonga e o Tsãngane.
Que enriquecedor foi conhecer Lívio de Morais, que me recordou o TEMPO DE CAJÚ “ao ritmo dos passos das
mães/de cestas carregadas de cajú à cabeça/…e que trocam palavras/que a língua
materna as prendou/riem, cantam e batem palmas/(…)Ah! África exuberante!”
E ler Zacarias Faztudo, que não teve
possibilidade de estudar e que começou a ler por curiosidade. Diz que faz parte
da família de analfabetos funcionais e acredita que pode escrever poesia
anti-revolucionária porque não acredita nos políticos e pergunta: “Até quando
os sofrimento/Dos povo moçambicano?”
Agenda/Livro MANGWANA – maningue bonita. Os dias e as palavras ganguissam ao som de timbalões e de quissanges, mesmo que a história não comece obrigatoriamente com o
jeito de José Craveirinha: Karingana ua
karingana.
Antonio Bondoso
Jornalista –
CP359.
Dezembro de 2013
===================
Mangwana = amanhã
Maningue = muito
Ganguissam = namoram
Timbalão = tambor médio duma bateria musical
Quissange = género de piano africano
Karingana ua karingana = Era uma vez...
Sem comentários:
Enviar um comentário