2013-12-30

OS MEUS LIVROS DE 2013.


 OS MEUS LIVROS DE 2013 (I)

Continua a publicar-se muito em Portugal. O facto não é novo e não tem uma explicação lógica ou racional, mas há quem esteja a ganhar muito dinheiro com as palavras. Publicar é um negócio. E a qualidade é um segundo plano.
Entre os milhares publicados – e alguns de grande qualidade – escolhi quatro desta vez. Perdoar-me-ão a “proximidade”...mas é como em outros lugares e com pessoas diversas. Há sempre uma escolha e, naturalmente, subjetiva.
Para “estar em linha com as previsões” – como diz o (des)governo – começo com o sugestivo título de Luís Sepúlveda PALAVRAS EM TEMPOS DE CRISE. Exatamente em linha com a atualidade, este livro do escritor chileno – editado pela Porto Editora – fala da dialética “escritor-pessoa”, pretende dar voz aos que nunca (ou muito raramente) têm voz, e explica a razão de escrever do autor: narrar para resistir – o seu compromisso político. A pedra fundadora do seu ser de escritor foi uma simples (mas marcante) frase que viu e leu nas proximidades dos fornos crematórios de Bergen Belsen : «Eu estive aqui e ninguém contará a minha história». E jurou dar voz para que o silêncio tivesse vida. E Luís Sepúlveda escreve também sobre poesia, lembrando o “antipoeta” Nicanor Parra – Prémio Cervantes – Don Nica como é conhecido no Chile. E depois Neruda: “Nós, os daquele tempo, já não somos os mesmos”!
De facto. Perdemos a capacidade – ou a coragem? – de lutar. E vamos perdendo a dignidade. E “morrendo” cada vez mais depressa, apesar das estatísticas…


E de Vizela chegou-me um romance prometedor.
Com a chancela de Seda Publicações, Francisco Correia afirma que LAÇOS DE AMOR NÃO MORREM. Da investigação ao arrumar das ideias e das palavras – um excelente trabalho. E com muitos dos condimentos que completam uma história: amor, paixão, tragédia, sexo q.b.
Mas esta primeira incursão do autor – um poeta feito – pelos caminhos do romance, foi uma tarefa arriscada. Escolheu para a trama a difícil manobra da transição que dura um século. Francisco Correia, que escolheu como palcos da novela Portugal e Inglaterra, soube manter a expectativa e dar igualmente um bom seguimento aos desencontros e intrigas – nomeadamente sobre a “exaltação” (ou deveria dizer-se frustração?) da velha aliança Luso-Britânica que, não por acaso, teve os seus fundamentos no Pacto de Tagilde, Vizela, em 1372.
A cidade do Porto, África e o Brasil oferecem também aos leitores momentos que tocam profundamente.
Apenas mais dois pormenores sobre este “esperançoso” romance: o muito british Luís Alberto Júnior, pelo AMOR de uma brasileira, aprendeu muito rapidamente a falar a língua de Camões em Vizela. Ali, onde se dá uma imagem mais instruída, mais culta e mais humana à GNR.  
*****Amanhã falarei de outros dois. Livros, claro.
António Bondoso
Jornalista – CP359.

Dezembro de 2013.

Sem comentários: