2014-08-24





 A MORTE E A SUA CIRCUNSTÂNCIA
…ou a dor antes do tempo – no desaparecimento de Eduardo Costley-White.

         Lembro-me de La Palisse quando estas coisas acontecem…e o Eduardo tinha chegado agora ao meio da vida. Faria 51 anos em Novembro.
         Não o conheci. Apenas tinha agora como leitura o seu mais recente livro Bom Dia, Dia, com a chancela das Edições Esgotadas. E fica-me aquela sensação de que, apesar da sua já vasta obra literária, muito poucos o conheceriam. Vejo no Facebook.
         E vou à página 71 do Bom Dia, Dia – e logo me vem à memória o grande Almada Negreiros – com a sua Rosa dos Ventos. Ou Francisco José Tenreiro e o seu Mestiço.
         Eduardo, que nasceu em Quelimane, assume toda a sua mestiçagem e moçambicanidade sem sofismas. Diz claramente dito:- “por haver um pássaro incendiado dentro do seu grito, do meu pardo mestiço eu não me demito”. Ele, que “nasceu livre desde o primeiro dia”, é dos eleitos que já não morrem. Fica a sua obra para realçar o seu talento. Fica a tristeza de ter partido a meio da vida.
         Mas tenho a certeza que terá morrido a sorrir…aquele sorriso africanamente trocista e a desejar ao mundo um novo Bom Dia, Dia!
Mangwana…
         Por isso, deixo ao escritor, ao poeta Eduardo Costley-White este meu “Quando Eu Morrer”:

QUANDO EU MORRER! ( A Publicar)

Quando eu morrer
Quero que seja a sorrir.

Não para zombar da morte
Pois ele há gente sem sorte,
Mas para lembrar à vida
Que não vale a pena viver
Se dela prazer não houver.

Quando eu morrer
Quero que seja a sorrir.

E que seja num dia onze
Para poupar aos verdugos
De tanta burocracia
O fardo de anotar
Diferente data no óbito.

Quando eu morrer
Será certamente a sorrir.

E a voar
E a cantar
Ao silvo do trem das onze
Pra que ninguém sinta a falta
Da hora de ver partir.
==== António Bondoso ( A Publicar).
António Bondoso
24 de Agosto de 2014

2 comentários:

Rosário Freitas disse...

Adorei o seu poema, António. Não conhecia o Eduardo mas, fiquei curiosa.

António Bondoso disse...


O poema não nasceu por causa do Eduardo. Já existia. Eu é que aproveitei a circunstância. Obrigado pelo comentário. Bjs.