LUSOFONIA - O DESAFIO MAIS ALICIANTE DO SÉC. XXI NO ÂMBITO DAS R.I. (PARTE I)
ESTAMOS AQUI PARA FALAR DESTE
ALICIANTE DESAFIO QUE É A “LUSOFONIA”.
O MAIS ALICIANTE DESTE SÉCULO…NO
ÂMBITO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. Sobretudo quando a tendência global é no
sentido da ATOMIZAÇÃO [pelo menos da FRAGMENTAÇÃO] das relações entre Estados…excetuando os casos muito particulares das chamadas
Organizações Regionais – como a UE, a UNASUL, a CEDEAO e mais umas quantas
deste tipo – MUITAS DELAS com um acentuado pendor PROTECIONISTA.
MAS O CASO DA LUSOFONIA ultrapassa
este sentido regionalista. Parte em busca do UNIVERSAL, independentemente do
seu CENTRO MOTOR.
****Escreveu Ernâni Lopes (2011) que “A Lusofonia é um
conceito difuso e complexo, mais facilmente vivenciado do que teoricamente
estabelecido, porque a língua, como instrumento para os que a utilizam, é o que
tiver sido feito com ela, está em permanente evolução e reinterpretação. Mas é
um conceito natural para aqueles que, ao longo dos tempos e das suas vidas,
vivenciaram essa realidade, utilizaram esse instrumento de comunicação e de
racionalização”.
Mas o ser difuso e complexo, não retira ao conceito – à
maior parte dos muitos que se têm perfilado no Estado da Arte do espaço
lusófono – a importância que o Prof. Ernâni Lopes e a sua equipa de
investigação lhe atribuem no estudo “A
Lusofonia – Uma Questão Estratégica Fundamental”.
Sendo fundamental para o futuro coletivo dos povos de
língua oficial portuguesa, é também uma janela de oportunidade para os “oito” [agora
são nove] da CPLP comunicarem entre si e serem compreendidos nos seus
propósitos.
E porque esta questão estratégica é fundamental, vale a
pena recordar – quando a CPLP já atingiu a maioridade de 18 anos – uma
caminhada difícil, cheia de contradições, muitas vezes analisada mais emocional
do que racionalmente e, para sua riqueza, portadora de pensamentos distintos em
qualquer dos países e continentes de pertença da língua oficial.
As ideias mudam, evoluem; o pragmatismo e os interesses
sobrepõem-se muitas vezes a emoções e/ou afetos; as teorias são renovadas ou
reconstruídas.
Partindo da certeza de que, por muito que se tente, não
se pode ignorar a História que ditou uma colonização de mais de quatrocentos
anos – conflituosa, naturalmente – não será estranho que o período
pós-independência (quer em África, quer em Timor relativ/a Portugal) tenha ele
sido, também, de alguma forma conflituoso. E a Lusofonia foi vivendo, (re) convivendo,
ao sabor dos mais diversos estados de alma – ora por meio de uma retórica
saudosamente otimista, ora por via de alguns discursos, marcadamente críticos,
de elites intelectuais e de gradas figuras académicas. Ou ainda pelas visões
oficiais de assumido alinhamento pelos Blocos dominantes da Ordem Mundial
vigente. Foram desfilando, assim, nomes como os de Eduardo Lourenço, Veiga
Simão, António Tabucchi, Adriano Moreira, Carlos Pacheco, Alfredo Margarido,
Aparecido de Oliveira, Agostinho da Silva, Boaventura de Sousa Santos, José
Carlos Venâncio, Joaquim Chissano, Fernando Mourão, Virgílio de Carvalho, Jaime
Gama, José Augusto Seabra, Luís Moita, Barradas de Carvalho, Luís Bernardo
Honwana, Sá Machado, Vasco Graça Moura, Mia Couto, Pepetela ou ainda Malaca
Casteleiro.
De uma forma particularmente realista, encontramos a
visão timorense de Xanana Gusmão e de Mário Alkatiri e também a ideia de
Amílcar Cabral, segundo a qual: “O [idioma] português é uma das melhores coisas
que os portugueses nos deixaram”.
E Paula Medeiros leva a citação mais longe, referindo uma
publicação do próprio Cabral (1974):- “O português (língua) é uma das melhores
coisas que os tugas nos deixaram, porque a língua não é a prova de nada mais,
senão um instrumento para os homens se relacionarem uns com os outros, é um
instrumento, um meio para falar, para exprimir as realidades da vida e do
mundo”.
E desta frase de Amílcar Cabral também se pode extrair a
ideia de que – não sendo a prova de nada mais – a língua pode não ser pertença,
pode não derivar de uma relação afetiva e cultural. O que importa, é que ela
seja um instrumento para chegar ao mundo. E esse, era sem dúvida um objetivo do
seu Movimento de Libertação. Por isso e embora reconhecendo força e valor
identitários ao crioulo, defendido pelos seus adversários internos, Cabral
contrapunha a importância de uma língua de afirmação “universal” dizendo: - “Há
muita coisa que não podemos dizer na nossa língua, mas há pessoas que querem
que ponhamos de lado a língua portuguesa, porque nós somos africanos e não
queremos a língua dos estrangeiros. Esses querem é avançar a sua cabeça, não é
o seu povo que querem fazer avançar. Nós, Partido, se queremos levar para a
frente o nosso povo, durante muito tempo ainda, para escrevermos, para
avançarmos na ciência, a nossa língua tem que ser o português”.
Trinta anos depois de Cabral, o sociólogo luso-angolano
José Carlos Venâncio – professor e pró-reitor da Universidade da Beira Interior
(UBI) – disse em Macau que “a língua portuguesa é a grande herança da
colonização”, acrescentando que “os grandes obstáculos entre os países da
lusofonia já foram ultrapassados e venceu a fraternidade e a aproximação cultural”
(2006). Mas para fazer do português “uma língua de cultura em termos
internacionais” – refere Venâncio – é necessário um esforço coletivo maior e “é
fundamental que Angola, Moçambique e o Brasil sejam entendidos como centros de
irradiação da lusofonia”. José Carlos Venâncio, que é também professor
visitante da Universidade de Macau, foi ali apresentar a sua obra A Dominação Colonial – Protagonismos e
Heranças, dada à estampa em Dezembro de 2005, por ocasião de uma homenagem
ao Pe. Videira Pires na UBI.
Por outro lado, ainda a meio da primeira década deste
séc. XXI se erguiam vozes contra a ausência, em Portugal, de estudos em
quantidade e qualidade que nos possam transmitir uma imagem atualizada da nossa
história comum. MARIA MANUEL BAPTISTA (da Univ. Aveiro) diz mesmo que “Estamos,
presentemente, num momento que, psicanalítica e simbolicamente, poderíamos
designar de “recalcamento e negação”. A autora reconhece que é preciso tempo e
distanciamento para refletir a História, cita as feridas ainda recentes e
“significativamente silenciosas” de E. Lourenço (2000) e fala de “um desenraizamento
histórico que afeta a nossa atual cultura globalizada” e que nos leva a
questionar para que servirá uma língua comum “miraculosamente” partilhada. Tudo
isto justifica, diz Baptista, o facto de não haver ainda pensadores
pós-coloniais em Portugal para exigir um processo de reconstituição histórica
do nosso nada “inocente colonialismo” (Lourenço, 1975,1976), a fim de podermos
construir com verdade e conteúdo valioso uma Comunidade de Povos Lusófonos.
Contudo, a autora baseou o seu trabalho em alguma
bibliografia crítica de pensadores portugueses e talvez tenha esquecido muitos
ensaios e publicações do IPRI – Instituto Português de Relações Internacionais;
do IEEI – Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais; IDN – Instituto de
Defesa Nacional; Academia de Ciências de Lisboa; Universidades; mais
recentemente do MIL – Movimento Internacional Lusófono; e a vasta produção
literária, em Portugal, quer sobre a Guerra Colonial/do Ultramar, quer sobre a
colonização e descolonização portuguesas. Entre muitos outros, podemos citar
Lídia Jorge, Manuel Alegre, António Lobo Antunes, Álvaro Guerra, João Paulo
Guerra, Guilherme de Melo, Leonel Cosme, António Duarte Silva e Rui de Azevedo
Teixeira – um dos organizadores dos Congressos sobre a Guerra Colonial, na
Universidade Aberta em Lisboa, nos primeiros anos deste século. Hoje,
poderíamos acrescentar esta novel AICEM – que deveria ter um “P” na sua sigla…
Em boa verdade, não nos parece que haja qualquer
“milagre” na partilha da língua comum (RECORDEMOS AMÍLCAR CABRAL) – apesar da
realidade de muitas outras línguas e dialetos em equação neste espaço que
analisamos – e, eventualmente, o que talvez falte sejam estudos sobre o que realmente
sabem e querem os povos lusófonos. Independentemente da maturidade política de
cada um dos “oito” Estados do assim chamado “espaço lusófono”, não há memória
de qualquer consulta popular a propósito do que se entende por Lusofonia e
sobre a CPLP – (como não houve em Portugal sobre a integração europeia, no
Brasil sobre o Mercosul ou em Moçambique sobre a Commonweath). Não há mesmo
memória de qualquer proposta desse tipo.
E, assim, os povos têm ficado praticamente à mercê das
ideias de muitos dos pensadores pós-coloniais que, quando viajam, quando
analisam, quando estudam e quando (ou se) convivem, talvez não o façam com os
“povos”. Apenas recorrem ao passado…QUANDO O PRESENTE E O FUTURO SÃO O QUE MAIS
IMPORTA. Não basta raciocinar! Como diz EDUARDO GALEANO – há que pensar e
sentir, pois – quando a razão se separa do coração, tudo começa a tremer!
Apesar de tudo, hoje, não pode já negar-se o avanço registado
na reconstituição da história portuguesa (BASTA VER A PROJEÇÃO DE NOVOS
HISTORIADORES COMO RUI RAMOS, FILIPE RIBEIRO DE MENESES e MANUEL LOFF),
particularmente, na reconstituição do que alguns designam como nosso “nada
inocente” colonialismo. Nenhum colonialismo foi inocente – devo dizer – nenhum
colonialismo foi idêntico ao do vizinho – pela simples razão de realidades e
circunstâncias diferentes. O que, hoje, ex-colonizados e ex-colonizadores
parece reconhecerem, mesmo sabendo e vivendo diferentes estados de alma.
E DEPOIS…HÁ ESSAS EVIDÊNCIAS QUE NOS DEIXAM
(BORGES COELHO) = Os Historiadores são como que os
manipuladores do Tempo; e - IRENE PIMENTEL = a verdade é relativa.
O caso é que alguns dos pensadores e intelectuais
pós-coloniais continuam a querer fazer das suas “leituras” e das suas
“análises” uma bitola de verdade absoluta a propósito da História, rejeitando
ou pretendendo diminuir as leituras de outros e sobre o “Outro”! Discursos, por
vezes, demasiadamente “intelectuais” ou supostamente “académicos”, ora
procurando o grau de politicamente correto, ora procurando seguir a onda da “novidade”
do ser do contra. Ou simplesmente “estar na moda” – como escreveu Mariana
Pinheiro no jornal Público (2008):-
“Há uma mágoa que está na moda, a mágoa na literatura pós-colonial” que invade
editoras e livrarias. É uma mágoa com muitas definições – diz a jornalista – “e
que se agrupa em duas categorias que espelham gerações diferentes: a mágoa que
parou no tempo e a mágoa que se adaptou ao presente e tem uma visão
«descomplexada» do mundo”.
Sempre foi esta a minha postura. Descomplexadamente,
escrevi EM MACAU POR ACASO; TONS
DISPERSOS; ESCRAVOS DO PARAÍSO; SEIOS ILHÉUS; O PODER E O POEMA; …E A MINHA
TESE DE MESTRADO FOI DESEJADA…PARA MOSTRAR – SEM SOMBRA DE PECADO, SEM QUALQUER
PONTA DE MANIQUEÍSMO – A MINHA VISÃO GLOBAL SOBRE ESTA MATÉRIA.
===== E agora acabo de trazer à luz do dia – BASEADO NA
MINHA EXPERIÊNCIA PESSOAL – como que uma nova INCURSÃO PELOS MEANDROS DO
ANTERIOR REGIME e pelo Fim do Império.
Neste meu EM
AGOSTO…A LUZ DO TEU ROSTO – não há saudosismo. Apenas a ligação crítica de vivências,
viagens, factos e acontecimentos reais: A MINHA CIRCUNSTÂNCIA DE CIDADÃO DO
MUNDO.
Está na moda, hoje, pedir desculpas.
Mas estar aqui, perante vós…a expor as minhas ideias, não
é ponto que me leve a pedir desculpas. Não sendo dono da verdade – nesta, como
em outras matérias – apenas RELATO, INTERPRETO E OFEREÇO PARA VOSSA
INTERPRETAÇÃO. Condene-se o que houver para tal…mas enalteçamos os pontos
memoráveis: a língua, os afetos, as vivências – e também, claro, OS INTERESSES!
POR ISSO…é que eu refiro sempre este pensamento sobre a
LUSOFONIA…
(Uma
dimensão outra das línguas)
Quando
a língua é tanto como a Amizade
Quando
a língua é tanto como os Afetos
Quando
a língua é tanto como o Amor
Quando
a língua é tanto como a Arte
Quando
a língua não é Abandono,
Tudo
pode ser para Além de…
Como
Ágape.
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António Bondoso
Jornalista
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