ATÉ
OS MORTOS FALAM NA RÁDIO
É
assim. Fatal como o destino.
De vez em quando aqui tenho que voltar para atualizar as notícias de amigos e
camaradas que partem.
Hoje,
para comunicar que faleceu em Guimarães o camarada Armando Leston Martins –
homem da Cultura e da Informação, tendo trabalhado em jornais em Angola no
tempo colonial, em Luanda e creio que também em Benguela, para além de fundador
da Revista Mensagem e de
colaborador na 2ª série da Revista Cultura. Amigo de Agostinho Neto, de Mário
de Andrade e de Viriato da
Cruz, engajados na luta anti-colonial, Leston Martins viu o
regime fixar-lhe residência em Lisboa [tal como aconteceria com outro seu amigo,
D. Alexandre Nascimento, hoje Cardeal e Arcebispo emérito de Luanda], onde
acabaria mais tarde por integrar os quadros do Rádio Clube Português, depois na
RDP – ainda em Lisboa – e mais tarde no Porto, na área dos Programas, onde eu o
conheci. Tudo isto pode ser confirmado nas imagens que acompanham este texto.
Leston
Martins deixa este mundo aos 86 anos,
depois de ter visto partir dois dos
três filhos do seu primeiro casamento e vencido por uma lenta doença
degenerativa cerebral que não o impediu de – até há uns meses – teimar em fazer
palavras cruzadas.
O
corpo poderá ser velado a partir de amanhã na capela mortuária da Igreja do Campo da Feira, em Guimarães,
realizando-se o funeral na terça-feira. À atual mulher e mãe do seu filho mais
novo, tal como ao Pedro Leston e a todos os familiares e amigos, deixo o meu abraço solidário.
Até sempre Leston Martins.
Do Livro ESCRAVOS DO PARAÍSO, 2005.
Entretanto, do Leonel Cosme aqui referido, acabei de receber umas notas do que ainda se recorda de Leston Martins, como segue:
"- Foi. nos anos 1951-52 um dos promotores do Movimento dos NovosIntelectuais de Angola e colaborador activo da histórica revista
MENSAGEM, tendo publicado logo no primeiro número (só houve mais um segundo) o poema "Canto de amor e esperança." Num concurso literário da mesma data promovido pela ANANGOLA, obteve o 2º prémio de Conto.
- Naquela mesma época colaborou em programas culturais de Luanda, Benguela e Moçâmedes(donde era natural), aqui ao lado de Sebastião Coelho, director de produção.
Pode ser considerado um activista cultural pró-angolanidade, enquanto integrado num grupo que, alguns anos depois,(com ele já em Portugal) passaria pelo Tarrafal.
Não me lembro se ainda passou pelo Apostolado e R.C.Português. Quando contactei com ele já estava na RDP".
António Bondoso
Jornalista
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