LUSOFONIA E LÍNGUA PORTUGUESA A ORIENTE.
A propósito desta Conferência, recordo hoje um trabalho que elaborei em 2008 e subordinado ao título:
“PORTUGAL E A
LUSOFONIA A ORIENTE:
ESPLENDOR,
ESQUECIMENTO E UMA NOVA EXPANSÃO”
António Augusto Bondoso
PORTO
2008
INTRODUÇÃO
Terminado o Império físico
português, e não se tendo cumprido em qualquer altura e circunstância um tal
“Quinto Império” de Vieira ou de Pessoa – ou mesmo de Camões, que o tinha
pensado sem qualquer limite à liberdade na ilha dos Amores, como refere
Agostinho da Silva[1]- a
presença da Cultura e da Língua Lusas no mundo volta a merecer atenções na cena
internacional.
Em Portugal, naturalmente; no Grande
Brasil; também nos países africanos falantes do português mas não só. A Oriente
da História (sobretudo), onde o português desempenhou o papel de língua franca
– a par do glorioso passado de Goa, Damão e Diu temos ainda hoje o caso
singular e não menos preocupante do território de Macau, desde Dezembro de 1999
parte integrante da República Popular da China.
Foi exactamente em Macau que o
Professor Malaca Casteleiro, no Verão passado, se lamentou do facto de Portugal
não ter uma política para a língua – dizendo haver falta de dinheiro para
coisas essenciais.
Então, como conciliar não só a preservação
mas já uma nova expansão, se não houver meios para o conseguir?
Temendo não encontrar uma resposta
inequívoca – ou até mesmo minimamente apropriada – vamos procurar recolher
algumas opiniões que possam sustentar um caminho a seguir em direcção ao objectivo.
CAPÍTULO I
O ESPLENDOR DO
PASSADO NÃO MERECE O ESQUECIMENTO.
“Considero que o
monumento mais importante do passado histórico dos portugueses por terras do
Oriente não é nenhuma fortaleza ou catedral mas sim o ‘portuguese settlement’ de Malaca, na Malásia. As casas de
pescadores são de madeira, mas a sua língua, a sua religião e os seus costumes
– o seu substrato cultural – permaneceram ao longo de 500 anos sem outros
contactos com Portugal”.
Armando Teixeira Carneiro,
2004[2]
Este testemunho, que podemos de certa forma subscrever – não se desse o
caso de desconhecermos muitos outros monumentos e lugares – merece apenas uma
ligeira “correcção”: durante os últimos anos da Administração Portuguesa de
Macau, a comunidade de luso-descendentes de Malaca foi alvo das atenções que
foi possível desenvolver em termos oficiais, mesmo sem o apoio ou iniciativa do
Governo da República. De Macau partiram para o Bairro Português de Malaca
alguns conjuntos de trajes folclóricos para “alimentar” uma das grandes atracções turísticas da cidade[3].
Nós próprios pudemos colaborar com gravações de música portuguesa,
incluindo o Hino Nacional (a música que
se toca e canta com a Bandeira!) – quer instrumental, quer cantado – a
pedido do proprietário do restaurante Lisboa, Sr. Silva (já por diversas vezes
aliciado para trabalhar num restaurante português da ilha de Coloane em Macau)
e do amigo Sr. Alcântara, cujos netos nos “brindaram” com a simplicidade e à
vontade de uma longa convivência, dizendo em perfeito e perceptível Kristang que “na escola fala malaio, em casa fala português”! Querendo manter
vivas as suas raízes, George Alcântara (Alcantra) publicou mesmo nos anos de
1990 um pequeno livro onde conta toda a história dos luso-descendentes de
Malaca e da sua fixação no Portuguese Settlement nos anos de 1930. Escrito
embora em língua inglesa e com o título “The Malacca Malaysian Portuguese
Heritage”, o livro inclui até um modesto e pequeno “dicionário” de vocábulos
portugueses traduzidos para Inglês e para Malay (Kristang)
Num artigo para a Revista Macau, o bolseiro da Fundação Oriente Brian Juan
O’Neill[4]
– que trabalhou em Malaca cerca de ano e meio – descreve também em pormenor
toda essa história e, a propósito do livro “Undi nos by di aki?”[5],
destaca as dificuldades que a comunidade enfrenta no presente, nomeadamente a
questão jurídica da posse da terra e a construção de um aterro para instalar um
complexo hoteleiro – aterro que poderá significar a “morte” do Bairro
Português. Ficará em perigo a actividade piscatória a que se dedica ainda uma
boa parte dos luso-descendentes. A questão do hotel não é pacífica e tem
dividido a comunidade, que receia poderem vir os especuladores imobiliários a
colocar em risco a coesão dos cerca de dois mil habitantes do Bairro.
Sem pretender mediatizar excessivamente a questão de Malaca – talvez a
menos conhecida e menos estudada das possessões do antigo Império Português –
destaque ainda para outro livro, da autoria da Historiadora Beatriz Basto da
Silva, publicado em Macau em 1989 pelos Serviços da Educação e distribuído e
dedicado às crianças de Malaca. Trabalho pedagógico, simples mas atractivo e bilingue
(português e inglês), “Malaca – o Futuro
no Passado” põe na palavra de Luís de Camões a história da aventura lusíada
que uniu povos e países bem distintos, apesar da distância acentuada. De 1511 a 1641 – foram apenas
130 anos de convívio, contudo suficientes para o que a autora classifica de
milagre: “o sentimento de portugalidade
preservado pela religião e pela língua lusíada, apesar de tudo em volta ser tão
diferente”. Beatriz B. da Silva termina perguntando “será que a herança recebida irá permanecer por muito tempo”?
Uma pergunta ainda sem resposta, tal como muitas outras referentes a outros
tantos pontos de contacto luso a Oriente e nos quais a presença portuguesa
sempre assentou em dois pilares – a religião católica e a língua crioula.
CAPÍTULO II
INCAPACIDADE =
FALTA DE VONTADE POLÍTICA
“Em toda a parte, aquilo que avulta como menos
vulnerável e como cimento mais forte, é realmente a língua e, com ela, se a
capacidade existir e a vontade não faltar, o veículo da cultura capaz de
disputar o seu espaço e de o fazer crescer”.
Adriano Moreira
Aquando da sua eleição presidencial, Cavaco Silva dirigiu aos portugueses
na diáspora uma carta[6]
em que prometeu criar, na Presidência da República, uma assessoria política
para as Comunidades Portuguesas.
Aproveitando a circunstância, as “Comunidades ou Cristandades Crioulas
Lusófonas do Oriente” dirigiram a Cavaco Silva uma carta aberta[7],
na qual solicitaram atenção para as suas dificuldades de sobrevivência cultural
por parte daquela “assessoria”, que funciona – de facto – no âmbito da
tradicional assessoria política da Presidência da República. Não se sabe a
resposta mas, tratando-se de uma questão de política externa, é natural que o
assunto tenha sido encaminhado para a Secretaria de Estado das Comunidades e
Cooperação.
Contudo, como é lembrado naquela carta aberta, “a incapacidade de Portugal nesta matéria tem sido uma evidência
secular, filha da ignorância e do preconceito”. O documento refere também
uma Conferência realizada em Malaca, em 1996, sobre “O renascimento do Papiá-Cristão e o Desenvolvimento do Património
Malaco-Português”, na qual as diversas comunicações questionaram temas de
grande importância – nomeadamente sobre o crescente interesse dos estudantes e
professores malaios pelo estudo do crioulo Kristang; sobre a eventualidade de o
crioulo e o Português padrão poderem vir a incluir o sistema de ensino da
Malásia e sobre a necessidade de uma sumariação dos crioulos existentes no
mundo e de uma troca de experiências dos seus falantes. Apelou-se então ao
apoio de Portugal e das Fundações Portuguesas, falando-se inclusive da
possibilidade de ligação das Comunidades Crioulas Lusófonas do Oriente à CPLP.
Por outro lado – e a atestar a dita incapacidade de Portugal – foi pedido ao
Governo Português que viabilizasse a organização de um pavilhão das Comunidades
Crioulas na EXPO 98. Primeira resposta – o envio do preçário para arrendamento dos
pavilhões! Nova diligência, nova
resposta – cada Comunidade deveria diligenciar no sentido de ser incluída
nos pavilhões dos respectivos países!
Assunto arrumado e que mereceu do Arcebispo Emérito de Mandalay
(Birmânia-Myanmar) – D. U Thang Aung, descendente de portugueses e onde a
maioria do clero católico é de origem portuguesa com raízes na cidade de Pegú,
desde 1600 – o comentário de que “quem
nunca recebeu a mais ténue manifestação de solidariedade de Portugal nada tem a
esperar daí”!
Confirmando este lamento e dando corpo ao título deste Capítulo II e ainda
ao “se” de Adriano Moreira, não é de estranhar que o crioulo de Myanmar – já
não seja falado, tendo a comunidade perdido, com o tempo, os nomes e apelidos
cristãos, apesar de permanecer fiel à religião católica.
Em Goa – considerada em tempos a Roma do Oriente – ainda hoje se fala e
escreve em português padrão, não tendo as características dialectais chegado a
dar origem a um verdadeiro crioulo[8].
A presença da Fundação Oriente tem, certamente, muita influência, mas o mesmo
parece já não acontecer em outras regiões da Índia, como Diu, Damão, Mangalor,
Cananor, Mahé e Cochim – e também no Sri Lanka, Xangai, Java, Flores, Bali,
Sumatra e Singapura.
Entretanto em Korlai, junto a Chaúl, na Índia – é provável que ainda
resista o crioulo Kristi, revelado ao
mundo somente em 1982 pelo etnólogo romeno Laurentiu Theban, e na Tailândia
(Bangkok e Ayutia) ainda permanecem vocábulos de uso corrente no relacionamento
familiar e na religião.
Aliada a outros sinais da presença lusa a Oriente, a preservação e a
expansão do ensino da língua devem ser encaradas – não como despesa mas sim
como investimento para o futuro de Portugal – opção estratégica que implica
equacionar meios e objectivos diferentes, consoante os territórios e os
públicos alvo.
Esta evidência, a par de um real desinvestimento por parte do Estado
Português ao longo dos últimos anos, estava contida num Projecto de Resolução
apresentado por deputados do PCP na A.R., já em 2005, e no qual se propunha –
por ex – a criação de um sítio na Internet; a divulgação de programas de
qualidade na RTP Int., na RTP/África e em idênticos canais da Rádio Pública, de
modo a estimular a aprendizagem da língua portuguesa no mundo; e o apoio aos
Órgãos de Comunicação Social de língua portuguesa publicados ou transmitidos no
estrangeiro.
Não se conhecem efeitos práticos desta iniciativa do PCP mas, a julgar
pelas críticas que continuam a surgir de diversos quadrantes, não terá sido um
projecto bem sucedido. Curiosamente, no mesmo ano, o sítio do Ministério da
Educação na Internet, sobre a promoção e ensino da língua – antecipava que “O século XXI assistirá, pois, a um
assinalável processo de expansão da Língua Portuguesa nos diversos
continentes”.
É verdade que o século actual vai ainda consumir muitas e longas décadas,
mas também é um facto que os primeiros anos não têm sido muito animadores para
tal desiderato. Guerras e crises financeiras e económicas complicam o presente
e ensombram o futuro.
Numa análise breve e simplista, poder-se-á ficar com a ideia de que o
assunto é ‘um caso perdido’.
Contudo e certamente não de forma espontânea e casuística, eis que a
Indonésia – através do seu Embaixador em Lisboa, o timorense por nascimento
Francisco Lopes da Cruz[9]
– afirma ter dado início aos contactos
para obter o estatuto de observador associado da CPLP. A Indonésia tem
Timor-Leste como vizinho e o relacionamento entre os dois países é excelente –
disse Lopes da Cruz – acrescentando haver
muitas razões de ordem histórica que ligam a Indonésia a Portugal, sobrando
ainda o facto de a língua indonésia contar com cerca de duas mil palavras de
origem portuguesa.
Uma aposta estratégica e geopolítica da Indonésia – sem dúvida – mas também
um verdadeiro ‘balão de oxigénio’ para os objectivos de Portugal nesta matéria.
As palavras de Lopes da Cruz mereceram já assentimento e elogios por parte
do Presidente Timorense, Ramos Horta[10]:
“é uma excelente ideia” e a Indonésia
“é um país com longas tradições
portuguesas. Só por aí, a Indonésia merece o estatuto”.
Ramos Horta levantou ainda a hipótese de ser concedido o mesmo estatuto à
Malásia por causa de Malaca, se esse país se mostrar interessado.
CAPÍTULO III
TIMOR-LESTE E
MACAU – CASOS ESPECIAIS.
“Seria lógico
pensar-se que o fim da administração portuguesa de Macau significaria a morte
da língua portuguesa na China. Mas ao fazer de Macau uma plataforma para os
países lusófonos, a política de Pequim mudou tudo. Afinal, há um número
crescente de chineses que querem aprender a falar português”.
Luís Pereira[11]
Não há muito tempo, este lead de um
artigo na Revista Macau com o título “queremos falar português” talvez
merecesse dos eternos cépticos um sorriso irónico e amarelo. Mas hoje, mau
grado a “falta de (vontade) política”, a falta de estratégia ou a falta de
meios financeiros, há que encontrar um caminho para dar resposta – não só à
procura (essencial no imediato) mas sobretudo ao “esquecimento” de longo prazo,
onde estão os afectos e onde o futuro da língua pode ser mais sólido e mais
duradouro.
Já vimos o caso de Goa onde, apesar
de ainda se falar e escrever em português corrente, a língua está em regressão. Segundo
Vasco Graça Moura[12],
a situação só poderá ser ultrapassada “se
houver políticas de cooperação bilateral suficientemente fortes e sugestivas”.
Em Timor, acrescenta Vasco Graça Moura, “a
tradição cultural e religiosa, aliada à cooperação bilateral e inscrita em todo
o complexo processo que levou à independência em relação à Indonésia, levam a
que o português possa aspirar a um papel importante na construção desse novo
país”.
Não custa imaginar, por isso, que –
se “a capacidade existir e a vontade não
faltar”, na palavra de Adriano Moreira – as recentes declarações de Lopes
da Cruz e de Ramos Horta possam
ultrapassar a simples retórica.
Timor, ex-colónia portuguesa,
independente em 1975, invadida e ocupada pela Indonésia que a fez sua 27ª
província, libertada pela ONU em finais do século XX e de novo independente em
2002 – tem dezasseis línguas autóctones[13]que,
ao longo do último século, foram “ligadas” pelo tétum-Praça (ou tétum-Díli), uma forma específica do tétum,
crioulizado pelo português. De considerar também a importância recente do
inglês e, particularmente, o português e o bahasa[14]
indonésio.
Ao inverso do português durante o
período colonial – praticamente só as elites escolarizadas e os funcionários da
administração pública nos grandes centros utilizavam a língua de forma corrente
– o idioma indonésio foi imposto (com a proibição total da utilização da língua
portuguesa) numa tentativa de promover a
assimilação completa do povo timorense. Uma intenção acompanhada, e salientada
por Rui Feijó, de “uma invasão
administrativa e da religião muçulmana, na sequência de uma invasão militar
que, nos primeiros quatro anos, terá sido responsável pelo desaparecimento de
cerca de duzentos mil cidadãos”.
Mas foi exactamente neste período de
ocupação indonésia que os timorenses decidiram afirmar a sua identidade,
resistindo por todas as formas – até mesmo pela simples “nomeação” e, talvez
particularmente, pela religião. O estudo de Rui Feijó destaca o baptismo de
amplos sectores da população de qualquer escalão etário no tempo indonésio e cita Frédéric Durand (2004)[15]
para referir que “a população baptizada
terá passado de cerca de um quarto a mais de três quartos” adoptando
geralmente nomes em língua portuguesa.
E há ainda a “guerrilha” – diz Rui
Feijó. Taur Matan Ruak (o seu último comandante), em 2001, sustentou ter havido
três factores de peso na decisão de a guerrilha manter o uso da língua
portuguesa: “a) a presença de
intelectuais falantes dessa língua, cujo contributo para a formação da
estrutura militar da guerrilha terá sido considerável; b) a existência entre os
timorenses conhecedores da língua escrita de um elevado número de indivíduos
que se exprimiam em português; e ainda c) o facto de ser uma língua
ortograficamente estabilizada e desenvolvida”. Essa – acrescenta Taur –
seria “uma arma para contrapor à língua malaia no âmbito da luta cultural”.
Contudo, é um problema passado.
Hoje, interessa criar ali condições para um correcto e atractivo ensino da
língua a estrangeiros.
Como se clama hoje em Macau (tanto
pelo IPOR como pelo IPM e pela Universidade), onde a grande maioria da
população chinesa nunca se interessou pela aprendizagem do português –
exceptuando talvez o esforço desenvolvido nos últimos anos da Administração
Portuguesa. A falta de capacidade e de uma política das entidades de Portugal
para o ensino e expansão da língua foi uma constante e Rui Rocha[16]
– empresário macaense de origem portuguesa – diz mesmo que “Portugal sempre desprezou Macau”.
Vasco Graça Moura salienta o exemplo
de Goa, em contraponto com o caso de Macau, onde – “sem uma política concertada com as autoridades daquela autonomia
especial da República Popular da China, o português estaria condenado a
desaparecer de todo a breve trecho”.
Voltando a Luís Pereira e ao seu
trabalho na Revista Macau, o Director dos Serviços de Educação – Sou Chiu Fai –
afirma que o interesse pelo português se faz sentir desde a escolaridade
infantil ao secundário complementar, incluindo o nocturno e programas de
formação contínua. Mas… só há um professor de português por cada 2,3 escolas,
exceptuando as do ensino luso-chinês e, naturalmente, a Escola Portuguesa.
De que se queixam as instituições
para o ensino do português em Macau? Sobretudo da falta de materiais adequados,
pelo menos numa versão bilingue, com explicações gramaticais e vocabulário para
facilitar o processo de estudo – afirma o director da Escola Superior de
Línguas e Tradução do IPM, Choi Wai Hão[17].
O Prof. Malaca Casteleiro está de acordo, confessando que os materiais
bilingues produzidos em Portugal apenas se adequam ao contexto europeu.
Para além do Tribuna de Macau, há
outros jornais em língua portuguesa como o Clarim, o Hoje Macau e o Ponto
Final.
José Sales Marques, macaense e
antigo Presidente do Leal Senado – hoje Presidente do Instituto de Estudos
Europeus – aproveitando mais um aniversário do Hoje Macau[18]
e referindo-se à questão do que deve ser um jornal em língua portuguesa naquele
território, hoje, afirmou que “deve
contribuir para a divulgação da língua portuguesa e da nossa cultura numa
perspectiva de diálogo humanista e sem preconceitos sobre o passado, como
processo legítimo de vincar e aprofundar uma mais-valia da RAEM: a sua
diversidade cultural”.
Recorda-se ainda que a Administração
de Macau mantém em funcionamento um canal de rádio e outro de televisão em
língua portuguesa, apesar da diminuta percentagem de falantes – mas como
resultado dos acordos que levaram à transferência de poderes para a RPC. E é exactamente
no vasto território chinês que a língua portuguesa é cada vez mais procurada.
Só em Pequim, já existem quatro universidades que leccionam a língua
portuguesa.
CONCLUSÃO
Tendo em
atenção que a língua portuguesa é a sexta a nível mundial, a terceira língua
europeia mais falada no mundo com cerca de 250 milhões de falantes – para o ano
de 2050 as estatísticas apontam para 357 milhões, embora com menos portugueses
mas mais falantes nos países lusófonos[19]
– é fundamental considerar a língua e a sua expansão como um investimento
decisivo para o futuro; produção de materiais adequados, pelo menos em duas
línguas; formação específica de professores; acordos bi-laterais com os países
dos vários continentes onde se notou e nota a presença portuguesa; uma parceria
especial com o Brasil – o país da CPLP com maior número de falantes – e apoiar
os Órgãos de Comunicação Social com vocação para serem veículos de promoção e
divulgação, sem esquecer a Internet. Foi exactamente “na rede” que pudemos
consultar o sítio geoscópio[20],
no qual se propõe o ano de 2015 como “O
Ano da Expansão” e ponto culminante dos 600 anos do processo, considerando
a decisão estratégica da expedição a Ceuta. Até lá, são propostas quatro datas
para assinalar a efeméride:
- 2009 – 500
anos sobre a batalha de Diu.
- 2010 – 500
anos sobre a criação de Goa.
- 2011 – 500
anos sobre a presença dos portugueses em Malaca.
- 2014 – 500
anos sobre a primeira grande operação de marketing internacional de uma grande
potência, uma inovação dos portugueses com a embaixada a Roma.
Entre outras sugestões, o autor da
“iniciativa” propõe ainda avançar com um projecto de filme internacional e um
jogo online sobre a batalha de Diu
(1509), a concluir em 2009 – não no sentido de exaltação imperial, mas como
crónica romanceada das lições de estratégia e de inovação militar e
tecnológica.
Novembro de
2008
António Augusto Bondoso
[2] - Doutorado em Ciências da Educação pela Univ de
Salamanca e fundador do Instituto Superior de Ciências da Informação e
Administração de Aveiro. Em Revista de
Cultura Pensar Iberoamérica, nº5- Janeiro/Abril de 2005.
[5] - Joseph Sta Maria, luso-descendente de Malaca. A capa do livro mostra duas
dançarinas “portuguesas” vestidas com típicos trajes folclóricos, provavelmente
de origem minhota.
[7]- 23 de Janeiro de 2006. Consultada em Elos
Clube de Uberaba,
a 20/11/08, em www.uaisites.adm.br/iclas/solidariedade
e em http://passaleao.blogspot.com/
[8] - Maria Isabel Tomás, em Os Crioulos Portugueses do Oriente – uma Bibliografia,
Instituto Cultural de Macau, 1992 e Teotónio R. de Souza, em Lusofonia sem Lusofilia? O caso do Antigo
Estado da Índia – consultado em 12/11/08 em www.geocities.com/Athens/Forum/1503/lusof_goa.html
[13] - Rui Graça Feijó, 2008, em Etnográfica.
(Língua, nome e identidade numa situação de plurilinguismo concorrencial: o
caso de Timor-Leste).
[19] - Diário de Notícias, 16 de
Novembro de 2008, com base num relatório da ONU sobre a situação da população
mundial, que não inclui S.Tomé e Príncipe.
Jornalista e Mestre em RI.
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