2016-11-24


POESIA, POETAS E PODERES, em Portimão - a convite do Instituto de Cultura de Portimão/Universidade Sénior. 
Foi há dias ...e hoje deixo aqui o texto do que escrevi e disse. Grato pela qualidade e quantidade da assistência. Uma conversa/convívio de simplicidade sénior.  



POESIA – POETAS – PODERES
A relação desigual…ou uma estranha forma de analisar a Sociedade

         Foi este o título que preferi para a minha intervenção mas confesso que poderia ter escolhido por exemplo estes outros  – DE MEMÓRIA EM MEMÓRIA, ATÉ AO TEMPO EM QUE VIVEMOS… ou ATÉ AO ESTADO A QUE CHEGÁMOS – como disse há mais de 42 anos o Capitão Salgueiro Maia. E que se tem repetido, infelizmente, ao longo dos tempos:
- descontando os conflitos que envolveram o nascimento da nação e do Estado…temos logo a guerra civil de 1211-1216, seguida da revolução de 1245-1247. E nova guerra civil entre 1320-1324, culminando com o drama de Inês de Castro. Nova revolução entre 1383-1385. Depois aparece o empreendimento das descobertas que motivou disputas com os vizinhos e despertou invejas de aliados e de inimigos. E foi D. Sebastião em Alcácer que, não percebendo Camões ou ao serviço de outros interesses, levou à crise de 1578-1580. E aconteceu o domínio Filipino até 1640 com reflexos irreparáveis nos territórios de além-mar. A Guerra da Restauração e a difícil consolidação do novo poder. É verdade que veio ouro do Brasil mas também não deixa de ser verdade que nem todo foi bem aplicado. E a tragédia do terramoto, a expulsão dos Jesuítas e a Guerra dos Sete Anos. Mais intrigas, a Campanha do Rossilhão e o Bloqueio Continental até às Invasões Francesas. Verdadeiro golpe d’asa estratégico foi a saída da Corte para o Brasil…mas, a prazo, impôs-se a grandeza do território.
***** juro que não pretendo elaborar uma qualquer sinopse histórica…***** Mas continuando…
…Veio a Revolução Liberal de 1820, seguida de revoltas e contra revoltas, da perda do Brasil e de mais uma guerra civil. Depois da sangria das descobertas veio a sangria da emigração na segunda metade do século 19. Acresce a luta pela manutenção das colónias em África, salientando-se episódios como o Congresso de Berlim, o mapa cor-de-rosa e o Ultimato inglês. Estávamos às portas da República mas foi preciso a tragédia do Regicídio para lá chegar mais depressa. Para desgraça da Iª República vieram a Guerra de 14-18 e o Golpe militar de 28 de Maio de 1926 que conduziu à ditadura do Estado Novo. Realce ainda para o apoio encapotado aos franquistas na guerra civil espanhola…e depois a chamada neutralidade colaborante na IIª G.M. E finalmente aconteceram a Índia e a Guerra Colonial – em tempo de Guerra Fria – antes do golpe de 25 de Abril de 1974 e a subsequente revolução democrática. Perdidas as colónias virámo-nos bem para a CEE…mas depois sucedeu a ilusão da UE – sobretudo do Euro – e não nos demos conta das perdas de soberania. E vieram as crises financeiras e os resgates dos donos do dinheiro. E é por aqui que temos caminhado, não nos dando conta de que o desafio mais aliciante deste século está na consolidação da Lusofonia. Apesar de tudo o que sabemos e apesar de tudo o que se diz. Vão já muito longe os tempos do “espírito de Bissau” – uma abertura de mentalidades e uma boa dose de realismo do então presidente Ramalho Eanes.   
         Voltando ao rumo da conversa…lembro que na Monarquia, entre 35 Reis e Regentes, contam-se pelos dedos das mãos aqueles que dedicaram tempo e pensamento à Cultura – como foram os casos dos últimos, Carlos e Manuel…e antes deles Dinis, Duarte, João V, Maria II e Fernando II.
         Já na Iª República, 8 presidentes foram 8 homens de cultura – seguramente mais de cultura do que políticos. Os tempos não eram fáceis…e daí ao 28 de Maio de 1926 foi um sobressalto permanente.
         Desses oito…dois eram algarvios – José Mendes Cabeçadas e Manuel Teixeira Gomes – sendo este último natural de Portimão. Chegou a presidente depois de passar por Coimbra e pelo Porto, acabando por se auto exilar na Argélia. Manuel Teixeira Gomes – homem mais de cultura do que político…Foi ele que disse:
A política longe de me oferecer encantos ou compensações converteu-se para mim, talvez por exagerada sensibilidade minha, num sacrifício inglório. Dia a dia, vejo desfolhar, de uma imaginária jarra de cristal, as minhas ilusões políticas. Sinto uma necessidade, porventura fisiológica, de voltar às minhas preferências, às minhas cadeiras e aos meus livros.
Contudo, dizia Pio XII, a Política é das formas mais nobres de exercer a caridade. E D. Manuel Martins, Bispo Emérito de Setúbal – a propósito do meu livro O PODER E O POEMA – acrescentou a ideia de que o Poder Político é o mais nobre dos poderes, apesar de infelizmente, poder “dar em portas abertas para corrupção, injustiças de toda a ordem, boyismo, vaidades pessoais e familiares. Porém é uma função nobre – insiste! É uma das funções mais nobres. Exerce-se com autoridade confiada (em eleições) em vistas a realizar um serviço inteiro, competente, feliz, a toda a Comunidade. «Eu sou tu». Político versus Sociedade”.
         Igualmente neste sentido se pode considerar a ideia do grande filósofo político Norberto Bobbio: - o homem tem a capacidade de determinar o comportamento do homem, sendo não só o sujeito mas também o objeto do Poder Social.
Um poder entendido, claro está, na sua dimensão mais vasta, do simbólico ao económico e financeiro, ficando de fora – por motivos óbvios – o militar e o ciberespaço. 
O homem, esse homem – enquanto ser individual e em liberdade – recordando Miguel Torga como resistente à ditadura e à censura, tem nas suas mãos o terrível poder de recusar!
         Voltando a alinhar o desencanto de Manuel Teixeira Gomes – homem de cultura – com as suas ilusões políticas, sigo lembrando que já na IIª República, foram os militares e os economistas a dar cartas, continuando a fazê-lo no início da IIIª República, até aparecerem Mário Soares e Jorge Sampaio…e agora, neste tempo novo, Marcelo Rebelo de Sousa.   
         Tudo isto para vos dizer que as perspetivas são diversas, as opiniões mais do que muitas, as análises divergentes – todas eventualmente com alguma ponta de bom senso…OU NÃO!
         Por outro lado, sabe-se que a MEMÓRIA é fundamental para qualquer das situações. E alguns disseram – e bem! – que um povo sem memória é um povo sem história. Nós portugueses, felizmente, temos uma história – uma longa, interessante, decisiva história, como vimos! De atos e de palavras.
         Por isso digo e repito que a palavra é que me move, as ideias nascem nelas e os poetas são cultivadores da palavra por excelência. E do sonho! O lado positivo da utopia é a manutenção do sonho, conferindo sentido à etimologia das palavras poema, poeta ou poesia = fazer, ato de criar. Volto a D. Manuel Martins para lembrar que “na base dos feitos que levam ao Poder, normalmente está o Poema, isto é, o desejo de ser capaz de, com sacrifício de todo o género e feitio, conseguir cantar o Poema. Deus é o Poeta: criou tudo do nada. Criados à sua imagem somos poetas, sem que disso tomemos consciência. O Poeta vê o mundo de maneira diferente: O Poeta ouve uma flor que fala, um rio que canta, um oceano que espanta, uma montanha que esmaga. O poeta ouve o silêncio, canta como ninguém a beleza da natureza e da vida, chora a tristeza de tantos humanos. O poeta escuta o murmúrio das correntes, as mensagens das flores, o chilreio dos passarinhos. O poeta descobre luz onde os outros veem treva, espalha esperança quando tantos desesperam, abre infinito enquanto tantos se fecham. O poeta é um homem livre que anda por onde quer. Até por isso, se exprime sem regras, as regras que impedem a simplicidade e, quantas vezes, a verdade do pensamento. É corrente dizer-se que o poeta está fora do mundo. Não é verdade. Acontece, sim, que ele mergulha na alma do mundo. Podemos avançar e dizer que o poeta tem entrada certa nos segredos de Deus, o grande Poeta do universo. Então, conclui o Bispo Emérito de Setúbal, uma das grandes condições para entender a vida é ser poeta”.
         É neste “entender a vida/mergulhar na alma do mundo” que eu tenho procurado centrar a minha intervenção, independentemente dos poderes que possamos enunciar.
         E aceitando – apesar de tudo – a ideia de que já ninguém ouve os poetas (como diz o meu amigo e Prof. Jubilado Jorge Olímpio Bento) …é, no entanto, quase impossível descartar os sonhos. É por aí que vou…foi por aí que fomos grandes…é por aí que o país deve alimentar a esperança! Apesar de ser uma relação difícil esta, entre quem escreve e quem representa os poderes, como vimos no pensamento de Manuel Teixeira Gomes.
A relação entre quem tem a liberdade de pensar e de dizer e quem tem o poder da censura. O tempo atual, há uns bons anos a esta parte e embora possa não parecer – é até paradigmático. Por motivos diversos…e os mais importantes até nem serão demasiado óbvios.
         Luís Veiga Leitão, um dos grandes poetas do século XX português – beirão de gema que amava o Douro e o mundo – e que memorizava os poemas nas masmorras da PIDE ou nas celas do Aljube e de Caxias, porque não lhe davam papel e lápis…escreveu em 1984:- “Dizem que os poetas são o sal da terra. Hoje, como nunca, necessários são para que o mundo não apodreça mais ainda”.
         Nessa perspetiva…vir e estar no Algarve sem falar em e de ANTÓNIO ALEIXO, é provavelmente como ir a uma casa de fados e não sentir a melodia.
Peço às altas competências
Perdão, porque mal sei ler,
P’ra aquelas deficiências
Que os meus versos possam ter.
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Descreio dos que me apontem
Uma sociedade sã:
Isto é hoje o que foi ontem
E o que há-de ser amanhã.
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Se o hábito faz o monge
E o mundo quer-se iludido,
Que dirá quem vê de longe
Um gatuno bem vestido?
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Eu já não sei o que faça
P’ra juntar algum dinheiro;
Se se vendesse a desgraça
Já hoje eu era banqueiro.
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Tu, que tanto prometeste
Enquanto nada podias,
Hoje que podes – esqueceste
Tudo quanto prometias…
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Sem que o discurso eu pedisse,
Ele falou; e eu escutei.
Gostei do que ele não disse;
Do que disse não gostei.
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Elucidativas estas palavras de António Aleixo. E atuais, claro: - isto é hoje o que foi ontem/ e o que há de ser amanhã.
E as promessas…e os discursos, daqueles que detêm os poderes – bem percetíveis nas duas últimas quadras. A herança vem de longe. E pelos vistos, os que mais sofrem e mais humilhados têm sido…continuam a não ser capazes de reagir.
E poderíamos ir mais além nas quadras a selecionar.
Mas é preciso notar que não há apenas quadras na produção literária de António Aleixo. Há também interessantes incursões pelo teatro – como por exemplo no Auto do Curandeiro, no qual podemos apreciar uma cerrada crítica social, particularmente quando se dirige ao irmão mais novo: a culpa é minha e é tua, porque nós somos o povo:
(…)E o povo, a crer na mentira,
Dorme num sono profundo,
Sofre um pesadelo eterno,
Que faz com que ele prefira
O inferno deste mundo
Por medo desse outro inferno.

Fingem-se ao bem dedicados,
Muitos como os curandeiros,
P’ra não os vermos estranhos;
Porque os lobos disfarçados
Com as peles de cordeiros
Melhor destroem os rebanhos.

Quando a verdade os aterra,
Querem a moral pregar,
Prometendo no céu dar
O que nos roubam na terra.

O mundo está na infância,
E adulto só pode ser
Quando desaparecer,
Do povo, a ignorância.
Viajámos, assim, pela alma deste grande António Aleixo…que, por esta época (embora não pareça e talvez não se tenha feito assim tanto por isso), já ultrapassou a barreira algarvia. Quem o tem lido, quem o tem percebido = rapidamente abarcou e se deixou envolver pela universalidade da sua palavra e das suas ideias. Como há uns anos JOÃO VENTURA, da Fundação que leva o nome do poeta: 
António Aleixo é, sem dúvida, um poeta que extravasa em muito a restrição que o cataloga como poeta popular. É talvez um dos grandes poetas deste século pela jactância, pela sua capacidade de improviso e pela sua visão do mundo que, nesta curva do milénio, continua a ser o mesmo. Neste sentido, está ao mesmo nível de dois outros grandes poetas que com uma cultura mais erudita, também se distinguem nesse aspecto: o Fernando Pessoa e o Vitorino Nemésio.
Hoje, o nome de António Aleixo está consagrado na toponímia de diversos lugares do país – de Coimbra a Paço de Arcos, de Setúbal a Albufeira, passando pelo Liceu Católico de São Paulo, no Brasil – tal como o Liceu de Portimão ganhou a designação de Escola Secundária Poeta António Aleixo.
Igualmente algarvio, natural de Portimão, é o poeta NUNO JÚDICE. Distinto académico, poeta erudito, consagrado e reconhecido, Nuno Júdice diz que escrever um poema é um trabalho que faz parte da sua vida. Mas não atribui grande sentido político à literatura – apesar de reconhecer que ela tem sido diminuída e atacada. Júdice afirma que “a grande literatura é uma resistência, não no sentido político mas no sentido de lutar para manter os grandes valores estéticos que vêm do passado”.
Nesta linha de pensamento – e para quem leu o ensaio sobre a definição de poesia de Nuno Júdice (AS MÁSCARAS DO POEMA, de 1998) – diria que ao poeta talvez não fosse fácil enquadrar ou classificar António Aleixo. Clássico, barroco, romântico? Popular?
Se nos lembrarmos da ideia de João Ventura – que ousa colocar António Aleixo ao nível de Pessoa e de Nemésio, pela sua jactância, capacidade de improviso e visão do mundo…o que poderia dizer Nuno Júdice?
É certo que ele não apresenta uma orientação fechada da criação poética, dizendo mesmo que o poema se define a partir de algo que tem uma realidade não exclusivamente linguística. E que o sentido do poema decorre de algo que não se encontra exclusivamente na esfera da linguagem – incluindo um universo de sensações, emoções, ideias e imagens, o qual implica toda a vivência humana.
É ainda nesta ligação à vida que Cristina Carvalho coloca a poesia. Acrescenta-lhe a arte: - a poesia pode dizer tudo o que quiser. É uma arte. E como toda a arte tem uma linguagem que permite tudo, sempre. Talvez na senda de seu pai, António Gedeão – e o mundo a avançar nos pulos dos sonhos como bola colorida…..
E assim…o que importa perguntar é se todas essas particularidades da vivência humana não poderão determinar, em certas circunstâncias, uma ligação – conflituosa ou não – do poeta e do poema às mais diversas formas de poder?
         Quando D. Manuel Martins refere que “o Poder, normalmente, aparece frio, insensível, mas, ao mesmo tempo insaciável // e que o Poema, pelo contrário, nos aparece quente, sonhador, aventureiro, solto”…igualmente se pode colocar a questão de saber se – perante essas variáveis de frio, insensível e insaciável, atribuídas ao poder – os poetas e a poesia devem privilegiar apenas a estética ou assumir um papel de comprometimento e de intervenção. Talvez entender a vida/mergulhar na alma do mundo. E cito de novo: “uma das grandes condições para entender a vida é ser poeta”.
E em situações de conflito social permanente – e o nosso espelho é universal – podemos ver como a poesia é avessa ou inimiga de qualquer poder, simbólico ou não, no dizer de Luís Veiga Leitão;
…Que a honra da poesia foi ter saído à rua e que ela é uma insurreição, como afirma Pablo Neruda. Não se ofende o poeta porque o chamam subversivo;
…Os verdadeiros versos não são para embalar mas para abalar – comenta Mário Quintana, o brasileiro que um dia disse: “Se alguém te perguntar o que quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo...
…ou então, ouvir José Carlos Ary dos Santos dizer a força que tem um verso. Para ele, a poesia é, ou devia ser, um pouco como uma flor que nasce, uma árvore que irrompe, uma pedra que se levanta. Poeta castrado…não!
         Como Fernando Pessoa, que nunca deixou de glosar O Estado Novo e Salazar. E Joaquim Namorado, militantemente do contra, dizia que os poemas não se servem frios. Ou Jorge de Sena…que já em 1956 dizia que não havia de morrer sem saber qual a cor da liberdade! E soube, embora longe.
…há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não! – corrobora Manuel Alegre; E Reinaldo Ferreira dava até uma receita para fazer um herói.
…O poder teme a poesia. Um poder que esteja de consciência tranquila, nunca poderá temer um poeta – salienta Pedro Barroso;
E Natália Correia: Poetizar as mais fundas aspirações humanas arrancando-as do peito dos homens distraídos é o que se deve entender por mensagem do poeta.
Curioso é notar que, no meio de tantos contras, e sobretudo com o cenário da guerra colonial, aparecem muito poucos poetas engajados com o regime do Estado Novo. Contudo – e como já veremos – os que existiram parecem desmentir de alguma forma a ideia de Eugénio de Andrade, que não vê qualquer relação entre a poesia e o poder. Talvez com o contrapoder! E assim…e sem esquecer Fernando Farinha e o seu Fado das Trincheiras; Marcha do Soldado Português, na voz de João Maria Tudela ou Na Hora da Despedida, na voz de Ada de Castro – houve um, Santos Braga, que produziu talvez o mais marcante desse período: Angola é Nossa! Era a joia do Império…e Santos Braga dizia –
Angola é nossa gritarei
É carne, é sangue da nossa grei
Sem hesitar, p'ra defender
É pelejar até vencer

Mas a grande força do poema estava no clamor do refrão, com a música de Duarte Pestana. Compassadamente em crescendo…repetia-se Angola…é nossa!...Angola…é nossa! 46 SEGUNDOS em crescendo…repetindo sempre.
         Aliás, neste período, o engajamento era nota principal no outro lado da guerra, com a grande poesia de Agostinho Neto, António Jacinto, Viriato da Cruz, Alda do Espírito Santo ou Marcelo da Veiga.
         Tal como na América da Guerra Fria, da guerra do Vietnam, da luta pelos direitos cívicos da população negra – tudo temas poetizados e cantados por Bob Dylan, um longo caminho até ao reconhecimento do Nobel da Literatura que ele viria a desvalorizar, depois da estéril e corporativista polémica no seio dos literatos e eruditos, que nunca devem ter percebido o alcance das lutas de Bob Dylan. Há ou não…um poder dos poetas?
         E onde estão eles…sobre a Síria? Sobre o Iraque, todo o médio oriente? E o que dizem hoje os poetas africanos sobre o Mali, as Guinés, a Nigéria, Congo ou Angola? Quem os ouve?
…e no meio de tudo isto, claro, a poesia e a loucura, que nos é apresentada por José Eduardo Agualusa: Se é para ser poeta, não há que temer a loucura. Se é para ser louco, que seja com poesia. Sim, eu acredito que se não for a poesia a salvar o mundo, o mundo está perdido.
…É assim, também, que a alma do poeta tem uma porta de entrada escancarada e não deve ter uma porta de saída vigiada. – Isto digo eu, modestamente como calculam, neste livro/ensaio O PODER E O POEMA, que fiz publicar em 2012, e sobre o qual levei o Prof. Doutor JOEL MATA a retirar uma última ideia: “o poeta também é um construtor de pátrias, apelando ao inconformismo, da mesma forma que Almada Negreiros o fizera, com o Ultimatum Futurista às Gerações do Século XX: «O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades»”.


Tudo começa no princípio. O nascimento e a morte. O Poema vem no fim – como diz Luís Veiga Leitão: 
Por ti
Mão de céu
E mão de mar,
Por ti…mão de ser
E mão de amar!
Por ti
Mão de rio
E mão de faina,
Por ti
Que és mão de dar…e receber
Por ti
Mão de mim que nada espera
Por ti
Mão perdida e mão achada
Por ti
Que és mão amiga
E não fechada.

Por ti
Mão segura…e mão de abrigo
Por ti
Mão que acena ao ver partir
E ao ver chegar,
Por ti
Mão ilustre que eu aperto
Sensível, serena, solidária.
Por ti…
Mão.
ASSIM SE CHAMA O POEMA…


António Bondoso
Jornalista
Nov 2016

1 comentário:

João Pedro George disse...

Caro António Bondoso, chamo-me João Pedro George e gostaria de saber se tem o contacto do Manuel Rodrigues Vaz. Gostaria de falar com ele sobre Luanda e o poeta Herberto Hélder, de quem estou a preparar uma biografia. Muito obrigado pela sua atenção, os meus melhores cumprimentos, João Pedro George