Foto de António Bondoso
ABRIL PODERIA TER SIDO EM MARÇO…ou
de como os militares, em 1974, tiveram dificuldades em comunicar e se viram
envolvidos num fogo cruzado de informação e de contrainformação, envolvendo
oficiais oriundos da Academia e sendo outros milicianos. Mas o 16 de Março, garante Manuel Monge, não
foi um engodo de ninguém e muito menos do PCP. A operação desencadeada pelo
RI5, das Caldas da Rainha, tinha como objetivo primeiro reagir às anunciadas
demissões de Spínola e de Costa Gomes pelo regime de Marcelo Caetano.
Manuel
Monge diz sentir mágoa pela situação fortuita que levou ao falhanço do 16 de
Março, nomeadamente as hesitações dos Paraquedistas que – segundo ele –
eram incapazes de desobedecer à cadeia de comando e que, por isso, não deveriam
ter sido contactados. Foi um erro, diz o general Monge, apesar de as Ordens de
Operações apenas incluírem os Paraquedistas numa situação de “reserva”. Mas
garante que estava tudo preparado pelo Movimento dos Capitães, incluindo o
empenhamento de Otelo e de Jaime Neves, por exemplo e de outros elementos do
RI5 como Casanova Ferreira.
Para
além do episódio com os Paraquedistas, Manuel Monge refere igualmente problemas de última hora com alguns dos
militares do CIOE de Lamego que não puderam tomar parte na operação. No fim,
acrescenta, acabou por assumir a responsabilidade juntamente com Casanova
Ferreira, tendo sido presos na Trafaria. Foram libertados na tarde do dia 25 de
Abril por uma unidade de Vendas Novas. Era para ter sido uma força do Batalhão
de Estremoz, mas foi preciso desviar esses militares para ajudar Salgueiro Maia
no Largo do Carmo.
Apesar
de tudo, Manuel Monge não sente desilusão com a sequência do golpe de 25 de
Abril, excetuando talvez o problema da
descolonização, cujo obreiro foi Melo Antunes, num período difícil da
Guerra Fria. Pior não era possível –
diz o gen. Monge – que não se esquiva igualmente a criticar o que chama de
infiltrações esquerdistas, nomeadamente da Marinha, cujo rosto mais visível era
o de Rosa Coutinho e que “nunca fez nada para o Movimento”. Por outro lado, o
já Movimento das Forças Armadas, apesar das tentativas de Spínola, não
conseguiu arregimentar o poder interventivo da ONU, ao contrário do que viria a
passar-se anos mais tarde com a sensibilização para a resolução do problema de
Timor-Leste.
E
sobre a União Europeia, o gen. Monge diz que a Organização sucumbiu atualmente aos
interesses do grande capital e da Alemanha, notando igualmente que há uma
gritante falta de líderes e de liderança.
A propósito do 25 de
Abril de 1974, quero ainda deixar um excerto de uma entrevista que o Coronel
Castro Carneiro deu em 2014 aos alunos do Instituto Multimédia do Porto Tomás
Cazaux e João Farpa. Castro Carneiro, que aderiu ao
Movimento dos Capitães em Angola, em 1973, foi o oficial encarregado de
distribuir as Ordens de Operações do golpe pelas unidades da Região Militar do
Norte (Lamego, Vila Real, Chaves e Bragança), a partir do CICA, no Porto. Nessa
entrevista, aquele oficial confessa que o sigilo era fundamental. Nem a sua
mulher sabia dos movimentos para que foi destacado.
António Bondoso
Jornalista
Abril de 2017.
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