A PROPÓSITO DOS 130 ANOS DO NASCIMENTO DE FERNANDO PESSOA - O MAIOR E O
MAIS COMPLEXO DOS POETAS MODERNISTAS PORTUGUESES.
Não sendo eu um estudioso de Pessoa, a
verdade é que - tentando escrever Poesia e falando amiúde da função - não posso
deixar de refletir sobre algumas notas daquele que foi um dos "mentores" do que viria a ser conhecido como o
"V Império". E aqui deixo um excerto do que partilhei há tempos na
Universidade Sénior Aprender a Viver/CES, em Pedras Rubras, na Maia.
Escreveu
Fernando Pessoa, pela sua própria mão, aos 46 anos: "Profissão: A
designação mais própria será «tradutor», a mais exacta a de «correspondente
estrangeiro em casas comerciais». O ser poeta e escritor não constitui
profissão, mas vocação."
A
ideia de “vocação”, contudo, não me parece consensual. A vocação, por si só,
não será explicação suficiente para o que viria a produzir. Pode ter sido
determinante, mas as circunstâncias da sua vivência conferiram-lhe certamente
uma estrutura muito particular de pensamento.
Ao
contrário dos pseudónimos, os heterónimos constituem uma personalidade
fictícia, sobretudo de autores. Por isso, Fernando Pessoa não só criou outros
nomes para assinar os seus textos, mas com eles criou também as respectivas
biografias e personalidades. Segundo José Paulo Cavalcanti Filho, em Fernando Pessoa: uma quase autobiografia (Rio
de Janeiro: Record, 2011), foram 127 heterónimos gerados pelo escritor
português.
Foi a partir de 1914 que Fernando
Pessoa começou a dar corpo a Alberto Caeiro, Ricardo Reis, António
Mora (abandonado), Álvaro de Campos e Bernardo Soares (prosas
poéticas).
E na Carta de Fernando Pessoa sobre a génese dos
heterónimos, com Introdução e selecção de Casais Monteiro – II Vol., destaca
como que o carácter dos seus heterónimos, escrevendo: «pus no Caeiro
todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a
minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de
Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida».
A propósito da sua célebre estrofe,
referindo que «o poeta é um fingidor»...é importante lembrar que a metáfora não
significa que o poeta seja um mentiroso ou
alguém dissimulado, mas apenas que ele é capaz de se transformar nos próprios
sentimentos que estão dentro dele e, por essa razão, consegue expressar-se de
maneira única.
E foi, de
facto, único. Apesar de ter falecido muito novo, com 47 anos de idade, no
Hospital de S. Luís dos Franceses, em Lisboa, curiosamente no mesmo quarto onde
viria a falecer Almada Negreiros – um dos seus companheiros iniciais do
Modernismo – 35 anos mais tarde.
António Bondoso
Junho de 2018
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