2018-06-13

A PROPÓSITO DOS 130 ANOS DO NASCIMENTO DE FERNANDO PESSOA - O MAIOR E O MAIS COMPLEXO DOS POETAS MODERNISTAS PORTUGUESES.

Não sendo eu um estudioso de Pessoa, a verdade é que - tentando escrever Poesia e falando amiúde da função - não posso deixar de refletir sobre algumas notas daquele que foi um dos "mentores" do que viria a ser conhecido como o "V Império". E aqui deixo um excerto do que partilhei há tempos na Universidade Sénior Aprender a Viver/CES, em Pedras Rubras, na Maia. 

       Escreveu Fernando Pessoa, pela sua própria mão, aos 46 anos: "Profissão: A designação mais própria será «tradutor», a mais exacta a de «correspondente estrangeiro em casas comerciais». O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação."
         A ideia de “vocação”, contudo, não me parece consensual. A vocação, por si só, não será explicação suficiente para o que viria a produzir. Pode ter sido determinante, mas as circunstâncias da sua vivência conferiram-lhe certamente uma estrutura muito particular de pensamento.
Ao contrário dos pseudónimos, os heterónimos constituem uma personalidade fictícia, sobretudo de autores. Por isso, Fernando Pessoa não só criou outros nomes para assinar os seus textos, mas com eles criou também as respectivas biografias e personalidades. Segundo José Paulo Cavalcanti Filho, em Fernando Pessoa: uma quase autobiografia (Rio de Janeiro: Record, 2011), foram 127 heterónimos gerados pelo escritor português.
        Foi a partir de 1914 que Fernando Pessoa começou a dar corpo a Alberto Caeiro, Ricardo Reis, António Mora (abandonado), Álvaro de Campos e Bernardo Soares (prosas poéticas).
E na Carta de Fernando Pessoa sobre a génese dos heterónimos, com Introdução e selecção de Casais Monteiro – II Vol., destaca como que o carácter dos seus heterónimos, escrevendo: «pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida».      
    A propósito da sua célebre estrofe, referindo que «o poeta é um fingidor»...é importante lembrar que a metáfora não significa que o poeta seja um mentiroso ou alguém dissimulado, mas apenas que ele é capaz de se transformar nos próprios sentimentos que estão dentro dele e, por essa razão, consegue expressar-se de maneira única.

       E foi, de facto, único. Apesar de ter falecido muito novo, com 47 anos de idade, no Hospital de S. Luís dos Franceses, em Lisboa, curiosamente no mesmo quarto onde viria a falecer Almada Negreiros – um dos seus companheiros iniciais do Modernismo – 35 anos mais tarde.



     

António Bondoso

Junho de 2018  



Sem comentários: