AO
PAI LUÍS…
A MEMÓRIA
NÃO É DIVINA...MAS TEM GRANDEZA.
Em
vida, celebrarias hoje o 101º aniversário. Mas partiste há 24 em silêncio, pois
– como diz a Tita – raramente falavas com palavras.
Sem
pretender repetir-me, lembro que foste um pai perfeitamente comum, à imagem de
um tempo outro, no qual os valores da existência encomendavam, porventura, uma
atitude mais patriarcal.
Também
não cabe aqui julgar-te à distância de uma vida. Seria como julgar a história à
luz do presente. Prefiro a memória do gesto de me dares a mão a caminho dos
ensaios para um dos espetáculos de variedades, ali junto do jardim da Curadoria
e da Câmara Municipal de S. Tomé. Ou ainda esses “safaris” às praias da Boa
Entrada e das Conchas, tal como as idas inesquecíveis à Roça Molembú.
De
Moimenta da Beira sobram já as memórias de adulto, sentados à braseira na sala
da Casa do Terreiro ou dois dedos de conversa à porta do Café Jardim, mas só em
fotos me chega o passado da viola no Dramático do Arcozelo ou do avançado na
equipa de futebol.
Em
qualquer caso, não esqueço a saudade da alegria da tua presença, a saudade do
sentido de humor e do riso maroto…a saudade de quem, por obra do destino, se
viu desenraizado nas “raízes” e encostado
a uma solidão – embora não permanente – mais espiritual do que física.
E
procurando evitar grandes tiradas filosóficas...direi simplesmente que os
filhos não devem servir como montra dos pais, mais ou menos perfeita ou de
alguma forma defeituosa, um espelho de elogios permanentes ou de críticas mais
intensas. Os filhos não devem ser um prolongamento obrigatório dos pais. Como
eu não fui, seguramente, embora reconheça traços fundamentais de carácter. Por
convicção…os valores da retidão.
Os
pais não são eternos e, por isso, partem mais cedo ou mais tarde. E tu partiste
relativamente cedo…mesmo antes de eu partir de novo em busca do meu Oriente
imaginário centrado em Macau, em Março de 1994. Ao Pai que foste, avô do filho
que tenho, recordo de novo alguns versos de há uns anos:
Ser
pai
Ser
filho
Ser
filho do pai e pai do filho
É
ter um sorriso de vida
A
emoção de um olhar
A
certeza de que estamos e que somos.(…)
Apesar de raramente falares com palavras, como diz a Tita, «eram repletos
os teus silêncios. E todos nós sabíamos o significado de cada um deles». Voltaremos
a “olhar-nos” um dia destes, Pai. Sempre como ontem…
António Bondoso
Filho
18 de Junho de 2018.
Sem comentários:
Enviar um comentário