2019-11-09


O MURO…NÃO CAÍU POR ACASO. Ou de como a «Conferência de Imprensa» que os média (alguns) tanto têm vindo a valorizar, não foi apenas mais um pormenor. A chamada CORTINA DE FERRO estava rota e cheia de caruncho. Desde a sua tomada de posse, Gorbatchev sabia do «sacrifício» que o esperava e tinha noção de que era inevitável. 


Há 12 anos – por outro lado – quando escrevi o texto que segue, ainda não se tinham registado factos que hoje são demonstrativos de que, afinal, a queda do muro de Berlim e as suas consequências imediatas não constituíram o «Fim da História» anunciado por Fukuyama. Os Estados Unidos desbarataram por mais do que uma vez o capital conquistado (Adriano Moreira disse recentemente que “A maior ameaça atual é a incultura e a leviandade do Presidente dos EUA), a UE vai marcando passo a cada passo e a Rússia voltou a ser grande, como o demonstram por exemplo os conflitos «Geórgia/Ossétia» e particularmente o da Ucrânia/Crimeia. Mais recentemente, o reforço da sua posição na Síria. E depois, a esperada e anunciada emergência da RP China e do seu projeto expansionista: África é paradigma de uma visão universal que a liderança chinesa designa agora de iniciativa «Belt and Road» ou a «rota da seda do século XXI».
         Vejamos, então, a minha «leitura» desse tempo distante, elaborada há 12 anos, como disse:
“Apesar de ainda hoje serem visíveis algumas situações de conflito herdadas da chamada “Guerra-Fria” – como por exemplo a divisão da Península da Coreia, o problema de Cuba e a questão do Médio Oriente, particularmente entre Israel e a Palestina – não tem sido possível estabelecer um consenso sobre os limites temporais, causas e definição desse período.
           No entanto, parece não haver dúvidas sobre algumas características que marcaram significativamente quase toda a segunda metade do Séc. XX (talvez não seja um acaso a designação corrente de “Século da Guerra-Fria”, atribuída ao século passado): -- para além de um confronto político, económico e tecnológico, a Guerra-Fria foi, sobretudo, um conflito ideológico travado por dois Blocos, liderados pelos EUA – a Ocidente, e pela URSS – a Leste. Os primeiros, numa tentativa de conter a expansão do Comunismo e, os outros, na expectativa de derrotar o Capitalismo Demoliberal.
          Bernard Droz e Anthony Rowley[1] parecem situar o início do confronto no seguimento da oficialização do plano Marshall (a guerra-fria cristalizou-se, inicialmente, em torno do problema alemão para, rapidamente, adquirir uma dimensão mundial) – atribuindo especial relevo à doutrina Jdanov ou dos “dois mundos antagonistas” e à questão da Coreia. Este problema é também mencionado por Maurice Vaïsse[2] - o ano de 1947 representa uma cisão – mas refere já o que chama de “primeiras fricções”, aludindo nomeadamente à célebre frase de Winston Churchill (já não exercendo o cargo de primeiro-ministro), em 1946 no Missouri (EUA) : “a cortina de ferro que, de Stettin, no Báltico, a Trieste, no Adriático, caiu sobre o nosso continente”.
          O ano de 1947 volta a ser uma referência no Atlas das Relações Internacionais, dirigido por Pascal Boniface[3], no qual se considera a “clivagem Este/Oeste” decomposta em dois grandes períodos – a guerra fria (1947-1962) e a détente (1962-1979), aos quais se sucederam dois períodos mais curtos: uma nova guerra fria (1979-1985) e uma nova détente (1985-1989).
           Para Boniface, apesar de se apresentar globalmente o período de 1947-1989 como de “guerra fria” (foi tudo excepto uma guerra)esse espaço temporal comportou, efectivamente, duas etapas distintas : a guerra fria e a détente! 
           O complexo jogo de interesses, inclusive a preservação da paz mundial, levou a que o confronto nunca se desenvolvesse até ao extremo, ficando célebre o slogan de Raymond Aron “Guerra improvável, paz impossível”!
           Mas não se esgota aqui o leque de opções, destacando Adriano Moreira[4] cinco períodos na vida dessa “guerra que só podia ser evitada pelo permanente equilíbrio pelo terror”:- entre 1945-1951 a dissuasão unilateral, com o monopólio atómico dos EUA; entre 1952-1959 a dissuasão bilateral, com a entrada da URSS no clube nuclear; a disputa cósmica entre 1959-1961, já com o grupo dos cinco do Conselho de Segurança da ONU no “clube”; entre 1961-1975 a política de co-responsabilidade, com os vários tratados de limitação das armas estratégicas e a suspensão formal das experiências nucleares; e, por último, o período que vai da guerra das estrelas à queda do muro, em 1989.
           Resumindo, poderemos estabelecer a Cronologia dos Principais Acontecimentos deste “confronto” como segue:
*** 1945/1947 – A chamada Paz Falhada, em torno do problema alemão.
*** 1947 – Plano Marshall e criação do Kominform (nova designação atribuída por Estaline ao Komintern – a Terceira Internacional – Associação Internacional Operária dos Movimentos Comunistas de todo o mundo).
*** 1948 – Golpe de Praga e Bloqueio de Berlim.
*** 1949 – Tratado da Aliança Atlântica.
*** 1950/1953 – Guerra da Coreia.
*** 1955 – Criação do Pacto de Varsóvia.
*** 1956 – Crise do Suez e repressão soviética na Hungria.
*** 1961 – Nova crise de Berlim e Construção do Muro.
*** 1962 – Crise dos Mísseis em Cuba. (Juntamente com a efeméride anterior – os momentos de maior tensão da Guerra Fria). 
*** 1963 – Instalação do “telefone vermelho” e Tratado sobre interdição dos ensaios nucleares na atmosfera.
*** 1964 – Guerra do Vietnam (envolvimento dos EUA).
*** 1968 – “Primavera de Praga” e TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear).
*** 1969 – Auge da “corrida espacial” (iniciada pela URSS em 1957 com o Sputnik) com a chegada à Lua da Missão Apollo 11 – EUA.
*** 1972 – Tratado SALT 1 sobre controlo de mísseis estratégicos.
*** 1975 – Conferência CSCE em Helsínquia.
*** 1979 - Invasão Soviética do Afeganistão, Descolonização da África Negra.
*** 1980 - IIª Guerra Fria, com a ascensão de Ronald Reagan ao poder, nos EUA.
*** 1985 – Nova Détente, com a Glasnost e Perestroika de Gorbatchev, na URSS.
*** 1989 – Queda do Muro de Berlim e Fim da Guerra Fria.”
         Para além de tudo isto, há igualmente outros factos e acontecimentos que mereceriam destaque idêntico. Poderemos falar deles em outra ocasião e num contexto apropriado, como por exemplo deste «affair» de 1952:  “DC3 Affair” ou “Catalina Affair”.



[1] História do Século XX – 3º Vol, pág. 141. Dom Quixote, Lisboa, 1991.
[2] As Relações Internacionais Desde 1945, pág. 23/24. Edições 70, 2005.
[3] Atlas das Relações Internacionais. Pascal Boniface (Dir). Pág. 22. Plátano Editora- 3ªedição, Lisboa,2005.
[4] Teoria das Relações Internacionais, citada em www.iscsp.utl.pt/cepp. Consulta em 24/11/07.



 E as consequências da queda do muro, claro.
= Desmoronamento da Cortina de Ferro
= Reunificação da Alemanha
= Implosão da União Soviética (URSS)
= Fim do Bloco de Leste (Pacto de Varsóvia)
= Rússia
= Criação da CEI – Comunidade de Estados Independentes
= Implosão da Jugoslávia
= Guerra dos Balcãs
= Afirmação dos EUA como Hiperpotência - «Polícia do Mundo».
= O FIM DA HISTÓRIA E O ÚLTIMO HOMEM - Francis Fukuyama escreveu o “Fim da História e o Último Homem” no começo da década de 1990 (publicado em 1992), época em que o mundo atravessava uma séria crise ideológica. Depois de aproximadamente 70 anos de avanços, o socialismo começa a perder espaço político para a democracia e o capitalismo. O modelo capitalista, a democracia e o liberalismo económico aparecem como a melhor alternativa de sobrevivência para os países recém democratizados. Mais tarde disse que foi mal compreendido pela esquerda e publicou em 2006 «Depois dos Neoconservadores – A Encruzilhada Americana», no qual critica fortemente as políticas de GW Bush.
Redemocratização do Chile – Março 1990.
Realinhamento político e económico dos países saídos da órbita soviética (à exceção da Coreia Norte, Cuba e Vietnam).
Espaço africano (Angola, Namíbia, África do Sul, Moçambique)
                              Retirada cubanos de Angola – retirada sul africanos
                              Mas as «Guerras civis» prosseguem
Democratização dos PALOP (STP, Cabo Verde – inclusive na mudança do símbolo da soberania como a bandeira – GB); tentativas de paz,várias, em Angola e Moçambique.
Crise Asiática e Compasso de Espera no Movimento dos Não Alinhados – particularmente após a implosão da ex- Jugoslávia – Índia, Indonésia e Egito.
Não é tudo, mas é uma boa parte.
António Bondoso
Jornalista e Mestre em R.I.
Novembro de 2019.



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