AI VENEZUELA.
Ou a pequenez de Maduro que, não tendo coragem para enfrentar outros mais
fortes da UE, como a Alemanha ou a França, ataca o ponto mais fraco por via da
enorme comunidade lusa na Venezuela. E fá-lo covardemente, pois dá ordens ao
seu «bobo da corte» para enviar os recados a Lisboa. Não utiliza o seu MNE como
se usa em «diplomacia pura» num Estado «normal». O que, convenhamos, não se
passa na atual Venezuela, praticamente um Estado semifalhado, no qual a
autoridade apenas se exerce pela força militar e pelas milícias. Metade do país
definha, sem medicamentos e sem comida. E o presidente da Assembleia
Constituinte, ali colocado pela outra metade, vai cumprindo o seu papel de moço
de recados, atropelando ideias e conceitos com a sua ignorância, confundindo
República com «reino» e «império».
Depois
do tristemente célebre episódio da «carne de porco», diria que é uma forma
«saloia» de fazer diplomacia, para não ter que utilizar o termo «chantagista». Apenas
pegaram agora na TAP, pela circunstância de Guaidó ter viajado para a Venezuela
a partir de Lisboa. E no avião plantaram (à chegada a Caracas) o que dizem ser
«explosivos» que ninguém viu, pois não foram mostrados até hoje. No meio desta
«patologia diplomática», o que Maduro pretende, já o disse o seu «bobo da
corte», é que Portugal reconheça a sua legitimidade como presidente.
A defesa dos interesses e da segurança
da comunidade lusa naquele país até poderia levar Portugal a essa atitude. Mas
há a União Europeia de que Portugal é membro e que definiu uma estratégia –
discutível para o bem ou para o mal – para conduzir a Venezuela a uma situação
de normalidade democrática. Ao atacar Portugal, Maduro pretende abrir uma
brecha na política externa da União, mostrando ao mundo a sua «força». E esta,
em última análise, só lhe advém do petróleo, da distribuição de benesses aos
«generais» e do «falhanço» da «nova/velha» política dos EUA para a região
repescada pela Administração Trump. Enquanto Guaidó for poupado pelo regime de
Maduro, apesar das humilhações que vai sofrendo, iremos assistindo a episódios
caricatos como este. Mas não podemos confiar em Trump, como se tem visto, para
exercer uma política externa coerente. Seja para o Médio Oriente, seja para as
Américas Central ou do Sul. Já que ele não lê, para saber…alguém lhe deveria
ter dito que a política «do bastão e do dólar» já passou à história.
À Diplomacia portuguesa, desejo e
espero que saiba manter os pergaminhos de séculos. Quer ao «ditador Maduro»,
quer ao «boneco Trump», apetece reproduzir a frase de Daniele Varè em Laughing Diplomat (edição de 1941citada
por José Calvet de Magalhães em 2002): «…O general disse: Mesmo depois de você
ter despido o seu uniforme, não se esqueça de rir. Ria do sucesso e ria do
fracasso. Ria da forma como o mundo é governado. Ria dos outros e sobretudo ria
de si próprio!(…)».
António Bondoso
Jornalista e
Mestre em R.I.
Fevereiro de
2020.
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