2020-02-19


AI VENEZUELA. Ou a pequenez de Maduro que, não tendo coragem para enfrentar outros mais fortes da UE, como a Alemanha ou a França, ataca o ponto mais fraco por via da enorme comunidade lusa na Venezuela. E fá-lo covardemente, pois dá ordens ao seu «bobo da corte» para enviar os recados a Lisboa. Não utiliza o seu MNE como se usa em «diplomacia pura» num Estado «normal». O que, convenhamos, não se passa na atual Venezuela, praticamente um Estado semifalhado, no qual a autoridade apenas se exerce pela força militar e pelas milícias. Metade do país definha, sem medicamentos e sem comida. E o presidente da Assembleia Constituinte, ali colocado pela outra metade, vai cumprindo o seu papel de moço de recados, atropelando ideias e conceitos com a sua ignorância, confundindo República com «reino» e «império».  



Depois do tristemente célebre episódio da «carne de porco», diria que é uma forma «saloia» de fazer diplomacia, para não ter que utilizar o termo «chantagista». Apenas pegaram agora na TAP, pela circunstância de Guaidó ter viajado para a Venezuela a partir de Lisboa. E no avião plantaram (à chegada a Caracas) o que dizem ser «explosivos» que ninguém viu, pois não foram mostrados até hoje. No meio desta «patologia diplomática», o que Maduro pretende, já o disse o seu «bobo da corte», é que Portugal reconheça a sua legitimidade como presidente.
         A defesa dos interesses e da segurança da comunidade lusa naquele país até poderia levar Portugal a essa atitude. Mas há a União Europeia de que Portugal é membro e que definiu uma estratégia – discutível para o bem ou para o mal – para conduzir a Venezuela a uma situação de normalidade democrática. Ao atacar Portugal, Maduro pretende abrir uma brecha na política externa da União, mostrando ao mundo a sua «força». E esta, em última análise, só lhe advém do petróleo, da distribuição de benesses aos «generais» e do «falhanço» da «nova/velha» política dos EUA para a região repescada pela Administração Trump. Enquanto Guaidó for poupado pelo regime de Maduro, apesar das humilhações que vai sofrendo, iremos assistindo a episódios caricatos como este. Mas não podemos confiar em Trump, como se tem visto, para exercer uma política externa coerente. Seja para o Médio Oriente, seja para as Américas Central ou do Sul. Já que ele não lê, para saber…alguém lhe deveria ter dito que a política «do bastão e do dólar» já passou à história.
         À Diplomacia portuguesa, desejo e espero que saiba manter os pergaminhos de séculos. Quer ao «ditador Maduro», quer ao «boneco Trump», apetece reproduzir a frase de Daniele Varè em Laughing Diplomat (edição de 1941citada por José Calvet de Magalhães em 2002): «…O general disse: Mesmo depois de você ter despido o seu uniforme, não se esqueça de rir. Ria do sucesso e ria do fracasso. Ria da forma como o mundo é governado. Ria dos outros e sobretudo ria de si próprio!(…)». 


António Bondoso
Jornalista e Mestre em R.I.
Fevereiro de 2020.

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