TLÊXI
FÊVÊLÊLU 2020
…ou
de como o «regime colonial» sofreu uma derrota em S. Tomé e Príncipe há 67
anos. Uma «revolta inventada» e movida por interesses mesquinhos e pessoais
provocou violência, dor, sofrimento e humilhação que conduziram à repressão, à tortura
e ao ódio.
Da
falta de mão-de-obra – que se arrastava desde o século XVIII – à luta pela
posse de terras dos nativos no tempo da segunda colonização, no século XIX, passando
pelas «brigadas de trabalhos forçados» para erguer a capital da colónia nos
anos de 1940 e de 1950, tem havido tentativas diversas de «explicar» as causas
remotas e imediatas dos acontecimentos em Batepá, na cidade de S. Tomé, em
Fernão Dias e na ilha do Príncipe em 1953.
Alda do Espírito Santo (“Onde estão os homens caçados neste vento de
loucura”), Carlos do Espírito Santo, Inocência Mata, Gerhard Seibert, Tomás
de Medeiros, Sum Marky, Hermínio Ferraz, Francisco Costa Alegre, Jerónimo
Salvaterra, Carlos Neves, Aíto Bonfim e Armindo de Ceita do Espírito Santo têm
deixado muitas pistas ao longo dos anos. O meu modesto contributo está plasmado
em Escravos do Paraíso, de 2005.
Não pretendendo ser repetitivo, quer
quanto ao «filme» dos acontecimentos, quer quanto ao número de mortos – ainda hoje
dificilmente quantificável com exatidão – deixo-vos apenas estes versos de um
longo e belo poema de Conceição Lima: «1953»*
(…) Ó penal
colónia que no Equador contorces
Sem sentir do
Kabaka a exilada dor
Arquipélago
sobre as rasgadas tripas fechado
Mar de Fernão
Dias pelo frio varado
Ó algas
marinhas, ó pedras dos rios!
Lulas
sem olhos encalham nas praias
Pombas sem asas
despenham nas ondas
Seca nos seios o
leite das mães
Há sangue, há
pus no vão das escadas
Gemem passos em
fuga nas matas da ilha. (…)
*Em A DOLOROSA RAIZ DO MICONDÓ, Caminho,
2006
https://youtu.be/ubfAX8QdDd0
António Bondoso
Jornalista
3 de Fevereiro de 2020
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