A MULHER SANTOMENSE/SÃO-TOMENSE EM PORTUGAL…e esse caminho
longe!
“A
saudade é uma distância que dói porque não é acessível”.
“Carregamos
a saudade de gente que nos fez bem…e por vezes dói”.
Duas
ideias que marcam pessoas diferentes mas que manifestam idêntica emoção quando
se fala do país distante.
Duas
mulheres de S. Tomé e Príncipe, na diáspora em Portugal, a propósito do Dia da
Mulher Santomense que se assinala a 19 de Setembro.
Independentemente
do simbolismo da data, que vai ser comemorada a preceito e com dinamismo – como
saberemos mais à frente – há sentimentos e emoções na comunidade que traduzem
uma forte ligação às ilhas encantadas do Golfo da Guiné. E foi por aí que
tracei o caminho, solicitando pequenos depoimentos sobre a saudade da «terra» e
sobre a perceção que têm do país à distância.
E se a saudade «não é mensurável» por
vezes – como são os casos da Áurea Graça Amorim, da Mena e da Nanda Teixeira,
ela também é «infinita», por outras, por exemplo para a Maomé Cravid e Milé
Albuquerque Veiga. Em qualquer caso, foram vivências únicas para Conceição
Beirão Carvalho, que as recorda sem «saudosismo doentio» e podem ser analisadas
sob vários pontos de vista – como sucede com Maria José Rebelo: “é uma ausência
de algo que já passou” e “também é uma questão emocional. Carregamos o peso de
algo invisível e por mais que se diga que se mata a saudade, ela está dentro de
nós”. No fundo, reforça a Mena Teixeira, há uma «saudade boa dos cheiros, dos
sabores, da presença e da ausência».
E é nesta ambivalência da presença e da
ausência que se coloca a questão da perceção do país à distância.
A Maomé, por exemplo, diz ter «um
sentimento de pertença, resignação e amor incondicional» enquanto a Nanda
Teixeira refere “a percepção de um país muito frágil, com inúmeras carências a
todos os níveis”. A Áurea diz que «a perceção
do país à distância é impossível» mas a Milé Veiga afirma ter uma «perceção
permanente, buscando informação por via dos média». Para Maria José «não
podemos caminhar para São Tomé. Não há caminho. É preciso voar ou fazer viagem
de barco». Por isso dói tanto a saudade. Tal como a Milé, igualmente a
Conceição Beirão procura manter-se atualizada e cita Francisco Tenreiro:- “longe…apenas
nas milhas”! O tempo, diz, ainda é de brumas: - «Quisera poder sorrir de
júbilo, mas, infelizmente, ainda não chegou esse tempo há muito acalentado. A
brisa fresca de Abril de 1974 demora a dar o ar da sua graça».
45 anos depois da independência de STP,
já era tempo de sentirmos soprar a «brisa fresca». Contudo, Conceição Beirão
regista com enorme satisfação o papel da mulher santomense na diáspora,
reconhecendo que «ser santomense em Portugal, apesar das vicissitudes, é arar
em terra fértil. Portugal é o país mais hospitaleiro do mundo». Por isso, deixa
a maior e a mais respeitosa vénia à “MenNon” (Associação das Mulheres
Santomenses em Portugal, a comemorar 10 anos de vida) pela «generosidade e
presença admirável, onde a escuridão turva o presente e tolhe o futuro, bem
como a todas as que, de uma ou outra forma, continuam a fazer a História
Nacional».
Muito grato a todas as que, sendo solicitadas a participar nesta minha ideia, o fizeram prontamente. Longa vida à “MULHER” de S. Tomé e Príncipe em todo o mundo!
António Bondoso
18 Setembro 2020.
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