CLARO QUE AS GUERRAS SÃO VIOLENTAS. Neste Dia, um «elogio» ao “comando” e Professor Rui de Azevedo Teixeira.
E
deixo um aviso: não tenho competências para levar por diante o que se pode
chamar tecnicamente de recensão ou até uma simples crítica literária. E a
qualidade reconhecida e característica fundamental dos escritos de Rui Teixeira
obriga-nos a uma reflexão atenta e profunda. Aliás, ele próprio não se coíbe de
chamar a atenção para as suas capacidades académicas. Apesar de tudo, devo
dizer que sei ler e gostei do que li.
Sem
rodeios, sem tabus, sem medo das palavras e das ideias, Rui de Azevedo Teixeira
apresenta-nos um romance de certa maneira «diferente» no formato mas
«poderoso». As memórias cruzam-se, misturando ficção e realidade como sempre
acontece. Mas neste “O Elogio da Dureza” destaca-se a brutalidade, a violência
pura e dura. Simultaneamente rude e bela. Pelas palavras. Linguagem e cenários
com os quais me identifico, apesar do “desdém” que o autor empresta ao “Lobo”
quando este fala da «tropa pacaça». Ou «macaca», diziam outros. Mas há muitos
pontos em comum, sobretudo quando descreve a vivência do CIC. Que eu não
frequentei mas sei, pelos relatos de quem lá passou, inclusive familiares. A
«EAMA», que eu vivi, foi um bom viveiro do CIC, mesmo passando ao largo da
conversa do protagonista com o coronel comandante sobre os furriéis angolanos
brancos: “nem carne nem peixe quer na hierarquia militar quer na questão da
nacionalidade”. É uma perspetiva da «guerra» que ainda não foi devidamente explorada
e explicada. Mais do que uma questão de defesa do «império», era talvez o
«princípio da pertença». Mas a realidade de quem mandava era outra. Vinham do
«puto», saberiam muito de estratégia, mas faltava-lhes a essência. E os
costumes e as línguas. Nesta perspetiva, Rui Teixeira colocou o «dedo na
ferida» e isso é importante para o debate que se queira fazer.
Por
outro lado, pouco importa se é a obra é autobiográfica ou não. O autor já negou
e explicou os poucos pontos em comum com o protagonista do romance Paulo de
Trava Lobo Ferreira. Mas, creio eu, um romance constrói-se com memórias e
vivências que o autor vai apresentando, opondo e conjugando, colocando nas
vozes de cada um dos protagonistas exatamente as palavras e as ideias que
pretende transmitir. Não para leitura de «mesinha de cabeceira» mas para provocar
reações quer se goste ou não. E ainda agora, quando se quer levar ao limite a
questão da guerra colonial, mostrando-se apreço e compreensão por quem dela
fugiu e apresentando um certo ar de crítica para com os milhares que a
cumpriram, Rui de Azevedo Teixeira traça a figura de Paulo Lobo já com 22 anos,
comando e conhecedor da guerra em Angola, massacres incluídos: “Pertencia
agora, com um grande orgulho negro, à tribo dos homens que praticaram, com
continuidade, a morte violenta. Uma tribo muitíssimo pequena, na qual só muito
poucos valorizam os que a ela não pertencem”.
Para
além deste ponto de reflexão, que o romance ora nos traz ora nos leva, já entre
o Portugal do «PREC» e a Angola do Leste e dos Dembos, uma nota para uma outra
arma do romance que Rui Teixeira coloca à cintura de Paulo Lobo: a literatura.
Raras são as páginas – ou pelo menos os capítulos – em que não aparece uma
citação de Os Lusíadas, um título de Hemingway ou de Steinbeck, Bocage,
Junqueiro ou Pessanha.
Como dizia o «Paulista» Monteiro Lobato, “Um País se faz com Homens e Livros”. Tenham uma boa leitura.
António
Bondoso
29
de Julho de 2021.
1 comentário:
Certeiro em muitos pontos relativos ao co-tema do romance, o que se compreende porque o analista fez a tropa na mesma província ultramarina que o protagonista (e o autor).
Entretanto, António Bondoso, privilegiando o tema segundo - a Guerra -, nada diz sobre o TEMA, sobre o drama do protagonista e o Amor.
Um abraço, Poeta.
Enviar um comentário