Em Memória de Armando Bondoso.
Um Tio é um Tio...e este era o último do núcleo direto.
UM TIO PARTICULAR…mente relevante.
Armando Bondoso
Sem querer minimizar as ligações que me prenderam a outros tios – foram muitos e a cada um a sua história – o Armando ocupa uma posição de destaque no meu «Panteão» da Família. Por ser o mais novo dos irmãos – a uma década de intervalo – foi o «ai Jesus» de toda a gente. E teve direito a 3 nomes – quando dois era norma incontornável.
Armando Andrade Bondoso manteve as «iniciais» dos nomes do pai – António Almeida Bondoso – as mesmas iniciais que eu herdei – António Augusto Bondoso. Pode ter sido uma circunstância do acaso, é verdade. Mas não deixa de ser relevante quando nos metemos a «interpretar» a história.
Por ser o «ai Jesus» da família, o tio Armando foi merecedor da atenção protetora dos irmãos mais antigos, nomeadamente do meu pai Luís, com quem manteve uma longa proximidade. E dele me recordo, ainda jovem, à mesa da primeira casa onde vivi em S. Tomé, no Bairro da Conceição, uns anos antes de enveredar pela carreira da sua vida – trabalhador da Valle Flor – sobretudo ligado à cultura do cacau, no Rio do Ouro, primeiro, e em Diogo Vaz ao longo dos muitos anos em que permaneceu nas ilhas. Sabia de cacau como ninguém. Estudou o seu cultivo e os necessários cuidados naquelas duas grandes «universidades» de S. Tomé.
E a seguir…a nossa ligação mais profunda, que – para além da afinidade clubística – começou na responsabilidade de me levar de volta às Ilhas, depois de eu ter passado um ano atribulado em Moimenta da Beira, entre os 6 e os 7 anos de idade. E foi uma viagem longa até Lisboa com o seu quê de aventura. O carro de um amigo, que foi avariando por aquecimento, a travessia do Tejo numa barcaça em Abrantes e o deslumbramento de Lisboa. O susto que lhe preguei quando, cansado de desenhar barcos em ondas do mar imenso, saí do quarto da pensão e resolvi enfrentar a rua com uma multidão em movimento apressado. E quando dei por mim, estava perdido, sem noção do espaço. E chamei a atenção, gritando por ele, sem saber sequer o nome da Pensão. E foi essa agitação à minha volta, ali bem perto, que o conduziu ao meu encontro para seu grande alívio. Foi um enorme susto, confessou mais tarde.
E de novo o mar e de novo as Ilhas e por fim a Escola, antes do tempo do casamento, que ele havia «preparado» na sua vinda a Portugal, com passagem de charme por Moncorvo. E casou com a minha vizinha Floripes Tavares [do Bairro da Conceição] em 1958, dona de um «visual» de artista de cinema. E nesse dia usei gravata pela primeira vez, dizendo que já parecia o noivo! Desse casamento nasceu uma relação particular com a família Pontes, à qual me viria a ligar anos mais tarde, sendo os tios padrinhos de casamento da minha mulher.
E o Armando foi marido, e foi pai, e foi avô, mas continuou a ser tio. Estivemos sempre de acordo? Certamente que não, mantendo o respeito devido. O «choque» da descolonização foi, naturalmente, diferente [apesar das circunstâncias madrastas ainda teve força para caminhar e erguer um novo projeto de vida em Portugal], tal como a forma de ir percebendo o mundo. Mas conversávamos muito, até chegar o tempo em que a vida foi sofrendo e repetindo revezes. Mas não deixou de ser um tio especial com o qual fui partilhando memórias. E é de muitas delas que me vou alimentando. Por fim, contudo, foram as circunstâncias da pandemia a marcar o ritmo do relacionamento. E tudo se foi precipitando…até ao desenlace final. Com a sua partida, termina a gesta dos sete irmãos que foram educados musicalmente em casa do avô António, em Moimenta da Beira, antes do chamamento de África.
Deixo então à sua mulher, Floripes, ao seu filho Tozé, à sua nora Teresa e aos netos que adorava Pedro, João e Francisco um forte e sentido abraço, extensivo a todos os outros sobrinhos e afilhados que ainda permanecem.
Até sempre Tio Armando.
Armando Bondoso e Floripes Tavares com Virgínia, Luísa e António Bondoso
S. Tomé.
António Bondoso
11 de Junho de 2021.
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