2022-03-14

 

HÁ VIDA NOS ESCOMBROS…

É um massacre genocídio mas contudo ainda há gritos debaixo dos escombros – é a vida a chamar por nós pela nossa consciência…



Foto Anas Alkharboutli (DPA)

Aviões mísseis blindados soldados espingardas balas metralha explosões e pessoas feridas e mortas é uma invasão é a guerra sem sentido irracional certamente aldeias vilas e cidades arrasadas crianças que choram e perguntam e não há respostas e fogem à procura de abrigo e segurança pela mão das mães e irmãos pois os pais ficam a combater a defender o território que é seu onde nasceram e cresceram a terra de pais e avós que outros cobiçam e então partem emigrantes que outros países acolhem uns mais e outros menos dizem que é ser solidário e amigo embora tudo seja uma incerteza mesmo na esperança de um dia poderem voltar ao país às raízes que prendem a memória e a história feita de lutas e de horrores pois há muitos que não conseguem fugir ou não têm simplesmente para onde ir e ficam à sede e à fome a morrer devagarinho quantas vezes desejando que uma bomba ou um projétil cheguem de supetão e termine o sofrimento mas aparecem generais e especialistas e tantas vezes jornalistas a tentar explicar o que é obscuro e inexcitável muito menos aceitável erguendo a bandeira da informação que é mais comunicação e sobretudo propaganda morta à distância escondida em colunas de fumo e fogo e os soldados a avançar e os aviões a lançar mais uns mísseis que se enganam e atingem inocentes e as imagens mostram cenas cada vez mais chocantes de tantas terras distantes e por aqui e por ali no bem-estar da certeza o que choca é o protesto de quem não sabe da dor e aparece um microfone que reproduz ignorância ou vomita intolerância e de novo os generais e sempre os especialistas a cada minuto que passa a dizer o que não podem saber apenas imaginar e as bombas a rebentar com a ordem internacional que já não faz sentido nesta desordem do mundo no qual poucos pensam e muito poucos são capazes de agir à espera do gás na torneira e do petróleo na carteira impotentes nas ideias e nas palavras que matam tanto como os mísseis de cruzeiro ou como as bombas de fragmentação que atingem grávidas de vida ou idosos acamados em prédios sem paredes e sem teto são escombros sombrios alguns gelados de frio outros de calor tórrido é conforme a latitude e a atitude que falta de grandes mediadores e as guerras vão seguindo em mentes descabeladas ou entranhas desfiguradas ninguém percebe a razão de tantas hesitações e jogos de bastidores de senhores endinheirados e sonhos inacabados nos quais a pobreza morre farta e de novo a televisão para deixar a notícia de um hospital bombardeado de uma escola destruída onde já ninguém ensina e não aprende o futuro e as notícias de quem foge de quem consegue fugir um êxodo do inferno para outro subalterno e os corredores humanitários em direção a nenhures que vão dar a paraísos – só fiscais aí algures – desumanos ou sem culpas pouco interessa a quem decide bem longe de explosões de tiros e de combates pois a morte é um negócio próspero de quem vive bem e no qual nem os fracos escapam à sua sorte.

    É um massacre genocídio mas contudo ainda há gritos debaixo dos escombros – é a vida a chamar por nós pela nossa consciência…

                Foto Gabriela Silva (Medium)

António Bondoso

Março de 2022. 

 

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