Quando cheguei a Macau, António Correia era advogado, político (membro do Conselho Consultivo do Governo e em 1992 deputado à Assembleia Legislativa) e possuía belos «Fragmentos» de Poesia. Por isso, pela Poesia, foi um dos meus convidados para dizer e gravar alguns dos seus poemas, transmitidos posteriormente em horário nobre, logo a seguir aos principais noticiários do dia. E, a meu convite, embarcou também, em 1995, no processo de uma campanha eleitoral vista aos olhos de Eça e Ramalho, por meio de muitas «farpas» publicadas em UMA CAMPANHA ALEGRE – uma adaptação minha de alguns excertos e aos quais António Correia deu voz.
Presença constante em Macau, quer pela
cultura, quer pela advocacia, António Correia viria no final do milénio a ser
um dos fundadores de uma sociedade de advogados em Lisboa e foi Administrador
Executivo da ANAM, S.A. desde Abril de 1997 a 2000, com a missão de construir o
Novo Aeroporto do Funchal, missão que concluiu com êxito, tendo sido agraciado
pelo Presidente da República com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito.
Foi igualmente sócio fundador do Grupo Lusobrás, no Ceará, Brasil, em 2001.
Autor de uma vasta obra de Poesia e de reflexão, com alguns livros traduzidos em língua inglesa e em Chinês, António Correia foi um incansável lutador pelas liberdades. E lutou até ao fim da sua vida, apesar do cansaço dos últimos anos, recebendo ontem o «ponto final». Um abraço sentido a todos os Familiares, particularmente à Teresa Portela – sua mulher – aos Filhos e aos muitos Amigos espalhados pelo mundo.
Recordo talvez o seu último poema (pelo
menos um dos últimos) publicado no dia 5 de Junho na sua página do «facebook» e
datado da que chamava com propriedade a sua “Casa da Poesia”, em Resende:
Já amadura o trigo
e eu sonho que vou,
que vou contigo,
caminhando,
de mão na mão,
pelos caminhos
onde medra o pão.
E eis senão quando
gorjeios de passarinhos
embalam os odores
silvestres das flores
que ninguém semeou.
Brancas, rubras, amarelas,
lilases também; todas elas
formam pequenos sóis
de um diadema
que coloco em teu cabelo
com o desvelo
de te saber poema
de castos girassóis.
António Correia
Casa da Poesia
5/6/2022
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António Bondoso
14 de Junho de 2022.
1 comentário:
Um belo texto, uma bela homenagem.
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