2022-06-05

UM CONVÍVIO DE MILITARES…É UM QUARTEL DE MEMÓRIAS.

UM CONVÍVIO DE MILITARES…É UM QUARTEL DE MEMÓRIAS.

Não foi o verde de S. Tomé e Príncipe, nem a humidade, nem o calor tórrido da hora do meio dia, nem a temperatura calda das águas do mar que banha as Ilhas. O verde, igualmente bonito do interior beirão, e a simpatia do anfitrião Agostinho Santos, completaram a moldura mental da busca das memórias de quem lá esteve 24 ou 27 meses ou de quem lá cresceu e passou meia vida. 


Agostinho Santos, Rodrigues e Osório

         E foi agradável o esforço de ter reconhecido algumas figuras – umas mais do que outras – que nos acompanharam “aquartelados” ou não. Alguns, como diz o Borges, foram a família uns dos outros enquanto lá estiveram, num tempo em que “a única forma de contactarmos a família, namorada e amigos, era pelo aerograma SPM (Serviço Postal Militar) que só chegava lá no avião que ia de Luanda à Sexta-feira!”. 


Graça, o Farto, o Caritas, o Toninho (Despachante) e o Severiano!


E outras «coisinhas» como eu refiro no meu livro O MEU PAÍS DO SUL, a propósito da «divisão» da cidade à esquerda e à direita do rio Água Grande: Deixando a meio esta interessante investida pelo ensino no meu «país do sul», regresso à «divisão» da cidade capital e às «margens» da estratificação social para lembrar que – como em todas as regras – havia naturalmente exceções, como era por exemplo a zona da Ponta Mina. 


Borges, Osório, Rodrigues e Bondoso

E dava-se o caso de, por muitas vezes, alguns da margem esquerda terem aceitação na outra banda. Como passou a ser o caso dos oficiais militares, já no período da «Guerra Colonial». Oficiais, sargentos e praças com uma vida dividida, de acordo – naturalmente – com a sua cadeia hierárquica ou de comando. Particularmente os idos (vindos) da metrópole, mobilizados – quase se poderá dizer expatriados – procuravam ir cumprindo o seu tempo de destacamento. Alguns com uma pragmática forma de adaptação ao meio físico e social, por vezes bem-sucedida, tanto no convívio com os «colonos», nem sempre fácil, como no relacionamento com os são-tomenses. Os oficiais, claro, no topo. Mas mesmo neste caso, era importante o Água Grande. O Quartel, ou os Quarteis, ficavam na margem esquerda. O Clube Militar, exclusivo a oficiais e seus convidados civis, situava-se na margem direita. E esse, como disse, era território das elites. Havia exceções, claro.


Editora "Edições Esgotadas" - 2021

Depois havia os sargentos – maioritariamente furriéis milicianos – mais ou menos desalinhados. A geografia da cidade, e da ilha, dificilmente os condicionava. A não ser que levassem «recomendações» de amigos da metrópole para alguns amigos nas ilhas. Esta circunstância era menos previsível com os «praças» mas também acontecia. A sua mobilidade era muito mais dificultada, até pela atuação dissuasora da PM – Polícia Militar, curiosamente «instalada» numa zona resguardada do cais da cidade, na margem direita. De certa forma, uma força encarada com algum elitismo na ilha. Um caso à parte eram os furriéis da chamada incorporação local que, depois de frequentar o CSM na EAMA, em Nova Lisboa, Angola, tinham a sorte de regressar a STP, como foi o meu caso entre Agosto de 1971 e Julho de 1974.

                E um pouco de tudo isto esteve (também) em análise neste convívio na Recta do Pereiro, em Sátão, distrito de Viseu. Foi o retomar da rotina depois da fase mais difícil da Covid-19. Um abraço a todos os presentes e um particular à Família Santos, que nos recebeu tão bem. Para o ano…ficou decidido, por consenso, ter lugar em Vila Real.

António Bondoso

5 de Junho de 2022. 

 












 

1 comentário:

Anónimo disse...

Adorei esta pequena história do António Bondoso de reviver o passado em S Tomé! Obrigado e grande abraço.