UM LIVRO DE VEZ EM QUANDO…ou o «feitiço» da literatura que me traz “O meu país do sul”. Proponho desta vez recuperar a «conterrânea» Goretti de Pina e o seu livro de contos “BAIADO” – dez histórias sobre São Tomé e o Príncipe que, no olhar interessado da própria autora, refletem “vivências, costumes e algo mais que não sei bem definir, no país do meio do mundo”.
Numa linguagem direta e sem sofismas –
na qual tudo se percebe, apesar de algumas gralhas e falhas editoriais na
revisão do texto – a autora coloca-nos facilmente dentro das histórias,
escrevendo no melhor da «língua portuguesa», pese embora em três ou quatro
situações não poder «fugir» ao encantatório português falado nas ilhas.
Lembro-me deliciado do “Mata Sete” quando se lê: “Prima, não fala assim, não
hem. Não toma pecado com praga de mundo pôr no corpo de prima. Coitada dela!
Isso de certeza que é qualquer coisa que fizeram pra ela. Qualquer plassela, ou qualquer homem que ela não
deu confiança é que fez ela esse trabalho, prima pode apostar!”.
E em cada história deste “Baiado”, Goretti Pina aproveita para dela tirar a sua «moral». Como por exemplo em «Os Compadres e o Sol», lá está o testemunho dos astros a dizer que o crime não compensa.
Por outro lado, o livro tem o condão de
me trazer locais de memória, tanto em S. Tomé como no Príncipe. Desde a Baía de
Ana Chaves e da Ponte Cais à Avenida Marginal, desde o Jardim das palmeiras em
leque à Casa Sacadura Cabral, desde Simalô (Chimalô) à roça de Belo Monte – de Maria
Correia – com a sua imponente Praia do Precipício, hoje famosa como Praia
Banana.
Para além de acompanharem esta preciosidade
literária de Goretti Pina, conselho que renovo, o que mais vos posso desejar é
que “Dêçu ká dá bô vida ku saôdje ku tudo kuá ku buado ni vida bô”.
Baiado tem edição da Colibri (2022) e oferece uma capa maravilhosa baseada num quadro com o traço inconfundível do artista Manuel Xavier representando uma dança tradicional africana – a puíta.
António
Bondoso
Fevereiro
de 2023.
2 comentários:
Muito lhe agradeço, caro António Bondoso, especialmente pelo reparo em relação às gralhas. Preciso de olhares atentos e generosos como o seu para ir limando arestas com o propósito de melhorar a cada livro. Bem haja!
Creio que a revisão do texto deve pertencer à Editora. Não pretendi, em qualquer momento, diminuir a qualidade da sua escrita. Muito boa. Mas quem faz a revisão do texto deve estar atento a esses pequenos detalhes. Já me aconteceu, claro. Como a muitos outros.
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