2023-08-22

 
 CPLP…OU SE ASSUME DEFINITIVAMENTE COMO «GUARDA-AVANÇADA» DA LUSOFONIA – E DOS SEUS VALORES – ou mais vale empacotar o passado e guardá-lo no sótão do futuro incerto.

Não é meu costume «celebrar» datas «impuras», como esta dos 27 anos da CPLP, completados em Julho – não se desse o caso de a efeméride estar relacionada com São Tomé e Príncipe, o meu «País do Sul».

Só por isso volto a falar dela e da envolvente lusófona que lhe assiste, tendo em consideração alguns pequenos – ou grandes! – pormenores entretanto tornados públicos.

A par das habituais reuniões estatutárias que já estão a decorrer em STP, como a XLVI Reunião dos Pontos Focais de Cooperação, a 264ª Reunião Ordinária do Comité de Concertação Permanente e a XXVIII Reunião Ordinária do Conselho de Ministros, vai ter lugar no dia 27 a XIV Conferência de Chefes de Estado e de Governo.

 

 

Ora, devido a toda esta natural «agitação político diplomática» no país, o que não é propriamente novidade, o governo são-tomense decidiu – e tornou público em comunicado – suspender os direitos de manifestação e de reivindicação, traves mestras da Constituição daquele PEI. Segundo o comunicado e durante quinze dias, «estão PROIBIDAS as realizações, em todo o território nacional, de todo tipo de manifestações com carácter reivindicativa ou protestatório». O comunicado, divulgado pelo jornal Tela Non, com assinatura de Abel Veiga e citado pelo Notícias à Terça, de Carlos Dias, diz ainda que o executivo apela à população para que participe de forma cordial na XIV Cimeira da CPLP: «O Conselho de Ministros aproveita a oportunidade para apelar ao povo de São Tomé e Príncipe a sua envolvência e participação de forma cordial, neste acto tão importante que colocará o país em destaque».

Não sendo este tipo de reuniões propriamente uma novidade no país, como já referi, não se pode deixar de considerar o ambiente de desconfiança e de alguma indignação vivido no país, particularmente depois dos tristes e condenáveis acontecimentos de 25 de Novembro de 2022. Apesar das investigações e dos relatórios já divulgados pelas autoridades, alguns setores da sociedade civil de São Tomé e Príncipe continuam a reivindicar mais esclarecimentos e medidas políticas e judiciais mais apropriadas às consequências dos ditos acontecimentos violentos.

Percebe-se a inquietação do governo, mas «suspender» a democracia – mesmo que por 15 dias – numa situação em que se recebe uma cimeira de uma Organização Internacional como é a CPLP, penso ser pior a emenda do que o soneto. Como é que os dirigentes da CPLP – na defesa de valores fundamentais como a liberdade e o Estado de Direito – se vão comportar? Vão simplesmente ignorar a situação? Não me espanta que isso venha a acontecer. À semelhança de outros casos. O que não abona a favor do tempo e do modo de vida da Organização.

 

 

Por outro lado, e sendo o lema desta reunião “A Juventude e a Sustentabilidade na CPLP”,  o Fórum da Juventude da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (FJCPLP) defendeu a necessidade de “participação ampla” dos jovens na cimeira de São Tomé e Príncipe, no próximo domingo, incluindo a presença em reuniões ministeriais. Numa carta enviada ao secretário-executivo da CPLP, Zacarias da Costa, a que a Lusa teve acesso, e que foi citada pelo Jornal Transparência, de STP, a organização representativa dos jovens reforça “a necessidade de garantir uma participação ampla de jovens na conferência” de chefes de Estado e de Governo.

Veremos. E a Cultura, claro. Sempre um espaço que merece ser devidamente aproveitado.

 
 
 

De outro modo, li também no Notícias à Terça, está a decorrer o “mês da Cultura” da Região Autónoma do Príncipe. É o mês das Festas em honra de São Lourenço e do Auto de Floripes.

         O Príncipe…essa ilha de lendas e mistérios, de paisagens deslumbrantes e de praias dignas do paraíso. Já o escrevi de formas diversas e em diferentes circunstâncias. Hoje, para terminar, deixo um Poema inédito para celebrar:

 

Por ali não se caminha

Voa-se.

 

Pairamos acima das nuvens

Que revelam a natureza preservada

E todo o mar ainda sem petróleo.

Límpido, transparente, acolhedor

Azul-turquesa a sua cor.

 

Tudo isso pertence ao «papagaio cinza»

Que do alto vê e percebe um tempo novo

De males antigos

Isolados e perdidos

Alegres quanto baste em triste Golfo

Num “Dia de São Lourenço”.

 

Rufam tambores e canzás

No “Auto de Floripes”

De roucas vozes abafadas,

Volteiam sem parar as loucas figuras coloridas

Cambaleando ao ritmo da «dêxa»

Antes de serenar ao luar

Com o som refrescante de «pitu dóxi».

 

Príncipe…

Depois de António santo a nomearam

A foram esquecendo em abandono

Mas sempre alguém teimando

Foi lembrando

Que a Ilha é terra de futuro.

 

Tal como o papagaio cinza

Que vai e volta às horas certas

Também a Ilha renasce

Em cada Dia de S. Lourenço,

Valorizando o Auto que diverte

E ensina gerações a voar por extenso

Em céu imenso.

António Bondoso

Agosto de 2023.
 

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