Não é meu costume «celebrar» datas «impuras», como esta dos 27 anos da CPLP, completados em Julho – não se desse o caso de a efeméride estar relacionada com São Tomé e Príncipe, o meu «País do Sul».
Só por isso volto a falar dela e da envolvente lusófona que lhe assiste, tendo em consideração alguns pequenos – ou grandes! – pormenores entretanto tornados públicos.
A par das habituais reuniões estatutárias que
já estão a decorrer em STP, como a XLVI Reunião dos Pontos Focais de Cooperação, a 264ª
Reunião Ordinária do Comité de Concertação Permanente e a XXVIII Reunião Ordinária do
Conselho de Ministros, vai ter lugar no dia 27 a XIV Conferência de Chefes de Estado e
de Governo.
Ora, devido a toda esta natural «agitação político diplomática» no país, o que não é propriamente novidade, o governo são-tomense decidiu – e tornou público em comunicado – suspender os direitos de manifestação e de reivindicação, traves mestras da Constituição daquele PEI. Segundo o comunicado e durante quinze dias, «estão PROIBIDAS as realizações, em todo o território nacional, de todo tipo de manifestações com carácter reivindicativa ou protestatório». O comunicado, divulgado pelo jornal Tela Non, com assinatura de Abel Veiga e citado pelo Notícias à Terça, de Carlos Dias, diz ainda que o executivo apela à população para que participe de forma cordial na XIV Cimeira da CPLP: «O Conselho de Ministros aproveita a oportunidade para apelar ao povo de São Tomé e Príncipe a sua envolvência e participação de forma cordial, neste acto tão importante que colocará o país em destaque».
Não sendo este tipo de reuniões propriamente uma novidade no país, como já referi, não se pode deixar de considerar o ambiente de desconfiança e de alguma indignação vivido no país, particularmente depois dos tristes e condenáveis acontecimentos de 25 de Novembro de 2022. Apesar das investigações e dos relatórios já divulgados pelas autoridades, alguns setores da sociedade civil de São Tomé e Príncipe continuam a reivindicar mais esclarecimentos e medidas políticas e judiciais mais apropriadas às consequências dos ditos acontecimentos violentos.
Percebe-se a inquietação do governo, mas «suspender» a democracia – mesmo
que por 15 dias – numa situação em que se recebe uma cimeira de uma Organização
Internacional como é a CPLP, penso ser pior a emenda do que o soneto. Como é
que os dirigentes da CPLP – na defesa de valores fundamentais como a liberdade
e o Estado de Direito – se vão comportar? Vão simplesmente ignorar a situação?
Não me espanta que isso venha a acontecer. À semelhança de outros casos. O que
não abona a favor do tempo e do modo de vida da Organização.
Por outro lado, e sendo o lema desta reunião “A Juventude e a Sustentabilidade na CPLP”, o Fórum da Juventude da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (FJCPLP) defendeu a necessidade de “participação ampla” dos jovens na cimeira de São Tomé e Príncipe, no próximo domingo, incluindo a presença em reuniões ministeriais. Numa carta enviada ao secretário-executivo da CPLP, Zacarias da Costa, a que a Lusa teve acesso, e que foi citada pelo Jornal Transparência, de STP, a organização representativa dos jovens reforça “a necessidade de garantir uma participação ampla de jovens na conferência” de chefes de Estado e de Governo.
Veremos. E a Cultura, claro. Sempre um espaço que merece ser devidamente aproveitado.
De outro modo, li também no Notícias à Terça, está a decorrer o “mês da Cultura” da Região Autónoma do Príncipe. É o mês das Festas em honra de São Lourenço e do Auto de Floripes.
O Príncipe…essa ilha de lendas e mistérios, de paisagens deslumbrantes e de praias dignas do paraíso. Já o escrevi de formas diversas e em diferentes circunstâncias. Hoje, para terminar, deixo um Poema inédito para celebrar:
Por ali não se caminha
Voa-se.
Pairamos acima das nuvens
Que revelam a natureza preservada
E todo o mar ainda sem petróleo.
Límpido, transparente, acolhedor
Azul-turquesa a sua cor.
Tudo isso pertence ao «papagaio cinza»
Que do alto vê e percebe um tempo novo
De males antigos
Isolados e perdidos
Alegres quanto baste em triste Golfo
Num “Dia de São Lourenço”.
Rufam tambores e canzás
No “Auto de Floripes”
De roucas vozes abafadas,
Volteiam sem parar as loucas figuras coloridas
Cambaleando ao ritmo da «dêxa»
Antes de serenar ao luar
Com o som refrescante de «pitu dóxi».
Príncipe…
Depois de António santo a nomearam
A foram esquecendo em abandono
Mas sempre alguém teimando
Foi lembrando
Que a Ilha é terra de futuro.
Tal como o papagaio cinza
Que vai e volta às horas certas
Também a Ilha renasce
Em cada Dia de S. Lourenço,
Valorizando o Auto que diverte
E ensina gerações a voar por extenso
Em
céu imenso.
Agosto de 2023.
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