A DEFESA DA POESIA...A DEFESA DA POETISA
Há 100 anos…nascia
NATÁLIA CORREIA – Setembro de 1923.
Morte – Março de 1993 (70 anos de idade) = há 30 anos.
Foi poeta, (POETISA – gostava de se afirmar), dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista e editora.
Foi tudo isso. E ativista seriamente. De personalidade livre de convenções sociais, patrocinou tertúlias nos anos de 1950, 60 e 70 – aqui já no famoso Botequim.
Censurada, incomodada, acusada…foi obrigada a defender-se. Mas não em verso, como pretendia, a conselho do seu advogado. Nos versos, conhecidos mais tarde, dizia: - “Ó subalimentados do sonho!
A poesia é para comer”.
Desassombrada, claro.
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NATÁLIA CORREIA...assim recordada por mim em Abril deste ano, no evento O CANTO DAS PALAVRAS, no âmbito de mais uma edição de «Interior no Livro», iniciativa da C.M. de MOIMENTA DA BEIRA.
Este ( de três)...dito por Isabel Salgueiro ( Pingos Poéticos - Clube de Poesia de Moimenta da Beira):
"A DEFESA DO POETA"
Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei.
Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incêndio da vossa lição.
Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.
Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.
Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs por ordem?
Que favor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.
Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de perdão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.
Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever.
Ó subalimentados do sonho!
A poesia é para comer.
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Natália Correia- 1966
13 Set. 2023.
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