Desceu a noite sobre o lugar do Castro, em Gondarém – Vila Nova de Cerveira – com a partida de um Amigo e camarada das lides da escrita, o Alfredo José Castro Guerreiro.
Conheci o Castro Guerreiro nos últimos
anos da década de 70 do século passado, trabalhava eu na RDP/Antena1e sendo ele um dinâmico promotor cultural em Vila Nova de
Cerveira e em Caminha, pugnando sempre pelos interesses do Alto Minho.
Provavelmente há 47 anos, tivemos o primeiro encontro quando fui destacado para
uma reportagem sobre a Feira Internacional de Artesanato de V.N. de Cerveira –
a qual, poucos anos depois, deu lugar à famosa e distinta «Bienal de Arte», um
certame a que esteve umbilicalmente ligado.
O Alfredo, por essa altura ainda «funcionário judicial», tinha já entranhado o espírito da cultura e da escrita, fosse no jornalismo como colaborador de O Caminhense, fosse na elaboração de brochuras, de revistas e de livros sobre a Região. Teria 15 ou 16 anos – disse em tempos numa entrevista ao Cerveira Nova – quando publicou o seu primeiro artigo no “velhinho Aurora do Lima”. Passou depois pelo Noticias de Viana, efetuou alguns trabalhos pontuais no Cerveira Nova e foi correspondente do Correio da Manhã. Contudo – afirmou – a sua grande faceta no jornalismo teve lugar no Jornal O Caminhense, do qual foi redator durante oito ou nove anos, na companhia do saudoso António Guerreiro Cepa, figura a quem muito ficou a dever nessa atividade, tal como eu, uma vez que Guerreiro Cepa chegou a ser correspondente da RDP/Norte.
Ao longo dos muitos anos de contacto fomos cimentando uma sólida Amizade que incluiu ambos os cônjuges. Visitas de casa, férias, trabalhos conjuntos – particularmente sobre o turismo do Alto Minho – deram-me a ideia de um Alfredo Castro Guerreiro sempre disponível e perfeitamente ciente de como devia ser a atividade no jornalismo regional, como destacou na já citada entrevista e que eu recupero: - «é necessário trabalhar e estar nos locais onde o jornal tem de ser feito, é preciso ir ao encontro da notícia e de tudo o que é necessário, pois por mim não concebo o jornalismo de outra forma». Apesar, disse ainda, de alguns conhecidos constrangimentos: “Infelizmente o jornalismo regional, esconde como muito bem sabe, interesses e oportunismo que muito dificilmente se conseguirão travar. Eu, por mim, sou dos que sempre acreditei na palavra dos homens, mas a verdade é que o tempo nos vai ensinando a que nem todos somos iguais”.
Para
além da revista MinhoGal’Arte,
direcionada para temas de arte e turismo do Alto Minho e Galiza, Castro
Guerreiro defendeu os interesses da Região em trabalhos no estrangeiro,
nomeadamente em França, Brasil e Moçambique. Foi ainda fundador do CERVOCULTURAL – Núcleo de Cultura
Cerveirense, escreveu uma boa série de «capítulos» para a Monografia do
concelho de Vila Nova de Cerveira e destaca-se ainda o livro “Argas a Paz das Montanhas”, publicado em
2002, e no qual ele mergulha no Alto Minho profundo, viajando tranquilamente e
em paz pela etnografia, etnologia, lendas, costumes e arte popular. E em paz está
agora. Uma palavra final para a sua mulher Isabel Guerreiro, que acompanhamos
na dor da ausência, tal como um abraço sentido a todos os familiares.
Até sempre Alfredo.
Caiu a noite!
António Bondoso
16 de Outubro de 2023.
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