O QUE FALHA…ou vai falhando!
Está
em voga nos últimos tempos. Repetida à exaustão, é uma conhecida tática de
desgaste. Permitida, alimentada e manipulada à exaustão, em toda a pirâmide do
Estado, transforma-se na arma perfeita do populismo e dos populistas.
O
que falha neste retângulo não é o Estado, entendido como agregador de todos os
portugueses. O que falha é a atitude dos políticos, quer sejam governantes ou
não. E à grande parte deles falta competência – uma falha gravíssima. O que
falha é a falta de carácter dos «fazedores» de opinião publicada. O que falha é
sermos sérios. O que falha é o sentido do ridículo de quem intervém a destempo ou
daqueles que pecam por omissão. O que falha é a falta de competência dos
técnicos nos vários setores de atividade. O que falha é não termos patrões
qualificados ou que saibam ser empresários. O que falha é igualmente a falta de
honestidade de uma boa parte dos empregados, já que os verdadeiros
trabalhadores nem sequer têm tempo para ser desonestos. O que falha é a atitude
gananciosa dos «donos disto tudo», ou da alta finança – se quiserem. O que
falha é a contradição entre pobreza e miséria, por um lado, e as benesses atribuídas
aos bancos e banqueiros, por outro, para controlo do tecido económico e do défice
– como dizem os políticos. O que falha – e tem falhado neste país – é a
completa submissão à ilusão da bondade da União Europeia – idealizada para a
Paz, mas cuja «construção» tem vindo a ser encaminhada para benefício dos donos
do dinheiro, em desfavor dos cidadãos, acentuando mesmo as desigualdades entre
os Estados-membros. O que falha, em última análise, é saber olhar para as
pessoas. E é delas, e para elas, que vivem os Estados.
O
que falha, no caso de Portugal, é a coragem de assumirmos os defeitos – como
dizia Almada Negreiros no Ultimato Futurista às gerações do século XX: «O Povo completo será aquele que tiver reunido
no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, portugueses, só
vos faltam as qualidades».
Completando
a ideia, gostaria apenas de fazer referência ao pensamento de dois amigos. Ao
João de Sousa, do jornal TORNADO,
sobre a polémica recente à volta dos magistrados do MP. Escreve ele: «Portugal é um Estado de Direito,
Democrático, em que o titular da soberania é o povo, representado pelos órgãos
eleitos por si. Não há ilhas em autogestão, fora desta soberania. (…) Os
magistrados do MP têm de rapidamente reconhecer a autoridade dos órgãos do
estado em matéria regulamentar, disciplinar e orgânica sob pena de continuarmos
no paradoxo de uma instituição a quem o povo incumbiu de investigar e de fazer
cumprir a lei ser ela própria fora da Lei.»
Já o Jorge Bento, Professor Universitário, lembra a exigência
do aprofundamento da democracia, lançada pelo Papa Francisco, a qual parece ter
caído no esquecimento da governança do mundo, nomeadamente na Europa: «A democracia não corre perigo algum, bem
pelo contrário, quando se toma consciência da necessidade de a aprofundar e
melhorar. Ela é ameaçada, sim, quando os partidos se contentam em ser máquinas
de conquista, partilha e usura do poder. Do jeito como a coisa anda, eles
funcionam, não raras vezes, como instrumento de inaceitável asfixia cívica e democrática. Uma análise responsável
das circunstâncias não estranha que os cidadãos procurem formas alternativas de
expressão e representação da sua vontade e dos seus anseios. Não é o fim; é a
exigência de um novo e superior estádio da democracia! Ora isto coloca a questão
de saber se os partidos e os políticos profissionais são capazes de aceitar
este desafio.»
Não tendo
hoje filiação partidária e não sendo um político profissional, corroboro este
desafio aqui expresso por Jorge Bento, tendo em conta que a democracia também
não pode fortalecer-se à margem dos partidos, nomeadamente dos tradicionais. Por
outro lado, lembro que os novos movimentos gerados na sociedade,
particularmente na Europa, em muitos casos contra os partidos, acabam quase
sempre por se transformar igualmente em partidos.
O que
não deixa de ser uma «falha», claro, e não tão pequena quanto isso!
António Bondoso
Jornalista
Dez de 2018.
Sem comentários:
Enviar um comentário