MACAU – UMA PÉROLA DA (E NA) DIPLOMACIA
PORTUGUESA…ou de como um pequeno território consegue manter e consolidar pontes
entre o Império do Meio e a ponta ocidental da Europa. (PARTE 1).
Durante
mais de 400 anos e perspetivando-se ainda alguns mais no horizonte. Entre alguns
dos momentos da «história recente» e que podem ser considerados fundamentais
para perceber as diferenças e a «singularidade» de Macau, há para destacar a
inteligência e a rara sensibilidade de um dos maiores diplomatas portugueses –
José Calvet de Magalhães que foi nomeado cônsul em Cantão no Verão de 1946,
numa altura já muito delicada, quer para o governo «nacionalista» do
Kuomintang, quer para os diplomatas estrangeiros. Não recuando demasiado no
tempo, assinala-se em 1887 o Protocolo
de Lisboa, ainda na Dinastia Qing. Não foi mais do que um Tratado de
Comércio e Amizade no qual se reconhecia a soberania portuguesa no território.
1912 =
Criação da República da China. SUN YAT
SEN.
Tal
como em Portugal… essa 1ª República foi marcada por conflitos permanentes,
entre grupos de militares e entre comunistas e não comunistas que não
reconheceram a vitória eleitoral do KMT (Kuomintag/Partido Nacionalista). Os
«senhores da guerra» continuaram a governar em Pequim, com o apoio do Japão.
1925
= O KMT estabelece um governo em Cantão, no sul.
1927/1928
= Colapso da economia do norte.
Sun
Yat Sem morre e, em 1928, CHANG KAI-SEK
assume o poder, com apoio da União Soviética derrota os senhores da guerra (apoiados
pelo Japão) e estabelece um Governo de Unidade Central em Nanjing. MAS as
guerras «intestinas» prosseguiram e tudo ficou latente durante a Guerra com o
Japão e a II Guerra Mundial, entre 1937-1945.
1946
= Logo a seguir ao final da guerra há negociações para a renúncia dos direitos
de extraterritorialidade*, mas o governo de Lisboa recusa. A China, contudo,
consegue fazer assinar, em 1947, um
Acordo sobre essa temática, intensificando-se de seguida nos jornais de Cantão
e de Hong Kong a campanha para a restituição de Macau à China. No entanto,
CHANG-KAI-CHEK trava quaisquer intenções governamentais nesse sentido.
·
(Os
portugueses seriam sujeitos, no território da China, às leis e à jurisdição do
Tribunal da República da China.)
É
neste período que é nomeado para Cantão José Calvet de Magalhães quando, no
dizer de Pedro Aires Oliveira, até Salazar já dava como perdida a questão de
Macau: «Gozando
de instruções bastante abertas, o novo cônsul rapidamente revelou notável
desembaraço na condução de uma série de iniciativas visando esvaziar a pressão
desses sectores mais militantes, desde a organização de uma visita de
jornalistas cantoneses a Macau ao estabelecimento de um relacionamento pessoal
com T. V. Soong, governador de Guangdong, cunhado e antigo ministro das
Finanças de Chiang Kai-shek, junto do qual foi capaz de garantir um acordo para
o fornecimento de arroz a Macau – proeza tão mais assinalável quanto a guerra
civil em curso viera trazer enormes dificuldades ao abastecimento de Cantão e
outras cidades».
Esta visão
de Calvet de Magalhães acabaria por se consolidar, mas a vitória comunista de
Mao, em 1949, deitaria tudo por terra. E o diplomata português ficou retido um
ano em Cantão, só deixando a China quando já decorria a «guerra da Coreia». Das
peripécias e provocações então vividas, falaremos depois. Voltando
à cronologia, salienta-se em 1949 a
criação da RPC, sob a liderança de Mao Tsé Tung e do Partido Comunista Chinês. Portugal reconhece o Governo de Taiwan.
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E mesmo sem «relações diplomáticas oficiais» é interessante verificar que a RPC
não «rasgou» (apesar do 1,2,3 de 1966) o
«compromisso» de permitir aos portugueses continuar a administrar o território.
=== E após o corte de relações entre a
RPC e o Vaticano (1951), Macau, como
HK, serviu de plataforma para o relacionamento não oficial entre a China e o
Vaticano.
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Terá sido nesse período de turbulência da «Revolução Cultural Chinesa» (tempos
difíceis para a Administração Portuguesa de Macau), que se perdeu o precioso CADERNO (de capa preta) com poemas de
Camilo Pessanha, que, segundo Fernando Pessoa, é um dos três poetas do Séc. XIX
que merecem a designação de «Mestre».
Em 1975, depois do Golpe militar dos
«capitães» em Abril de 1974, Portugal
reconhece o Governo de Pequim. Corta Relações Diplomáticas Com Taiwan – território
que reconhece como parte integrante da RPC.
António Bondoso
Jornalista e Mestre em Relações Internaconais
19 de Dezembro de 2019.
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