2019-12-26

  Se tudo fosse perfeito…ou de como – parafraseando Aquilino Ribeiro ao escrever sobre o que chamou Terras do Demo: - «a justiça é para a aldeia a mais voraz das sanguessugas. Concebida para proteger o órfão, deixa o órfão sem coiro e o viúvo sem camisa». 


E é tudo tão simples como o valor das cheias. Ou de como a TV aliena mais do que forma e informa. Vende-se a desgraça e o sofrimento como simples entretenimento. Como acontece com os incêndios, com os acidentes nas estradas ou com os fait-divers extra futebol. As televisões, concretamente os chamados «canais de notícias», são multiplicadores maléficos de um qualquer «ópio do povo».
         Se tudo fosse perfeito, o que alimentaria esses sorvedouros do que ainda resta da nossa sanidade mental?
         Se não tivesse havido cheias, não teriam praticamente «desaparecido» temas cruciais do que verdadeiramente importa a uma sociedade organizada. A corrupção e os tentáculos do sistema; a regionalização, que – por ironia eventualmente – veio colocar a nu as causas de uma pronta resposta aos problemas. E muitos continuam a teimar numa «descentralização» incapaz, inócua, saco sem fundo e sem fundos para colocar no saco. Ou até mesmo numa dita «desconcentração» que, ao fim e ao cabo, não passa de uma redundância semântica das tarefas que já competem – pela sua natureza básica – a um Estado dito organizado.
         E no meio de tudo isto vem a galopante sociedade consumista do Natal, do Fim d’Ano, das Janeiras e dos Reis, apenas minimizada pela coragem voluntária de quem ajuda os que verdadeiramente precisam. Só não conseguem chegar aos que ficam sem casa e sem rendimentos por dívidas ao fisco. Alguns…apenas de algumas dezenas. Aos que devem milhões pouco importa. É o rosto dos «mercados» e dos donos do dinheiro a determinar as regras.
         Fisco penhora 48 imóveis e 175 salários por dia! É um título do JN. Apesar da brutalidade dos números, acrescentam que a «tendência» tem vindo a diminuir e, como no caso particular das pensões, tem estabilizado: São 17,7 pensões retidas por dia, em média, contra as 18,9 penhoras destas prestações que se registaram no ano passado. Em 2018, foram penhoradas 6924 pensões. Os números de 2019, aos quais falta ainda o mês de dezembro, caminham assim para acompanhar a tendência observada no último ano”.
         Como tinha razão Aquilino Ribeiro ao escrever sobre o que chamou Terras do Demo: - «a justiça é para a aldeia a mais voraz das sanguessugas. Concebida para proteger o órfão, deixa o órfão sem coiro e o viúvo sem camisa».
         Que haja «JUSTIÇA» EM 2020. No sentido mais amplo do termo! Como dizem os fiéis no final da prédica do pároco da aldeia…assim seja!


António Bondoso
Dezembro de 2019


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