CONCEITOS…
De
treinador de futebol a «herói» nas TVs…ou a confusão de conceitos que se
espalha por algumas «cabecinhas» que se dizem jornalistas ou apresentadores de
telejornais.
O
«problema» não está em qualquer caso particular. Nem sequer coloco em causa a
distinção a Jorge Jesus. O caso está na «cultura», sobretudo na falta dela, dos
média e de quem os vai representando. O homem e a sua circunstância…cada vez
mais nas «ondas» da amargura.
Abrir um telejornal do canal público
com a «tirada» de herói para «promover» a entrevista com o treinador, não me
parece um bom caminho. Mas a isso já estou habituado.
E a propósito de «heróis»…vale a pena
recordar um expressivo texto de Vergílio Ferreira ao qual deu o título de “Um
País de Canalhas”:
«Pensar Portugal. Nós somos um país de «elites», de indivíduos isolados
que de repente se põem a ser gente. Nós somos um país de «heróis» à Carlyle, de
excepções, de singularidades, que têm tomado às costas o fardo da nossa
história. Nós não temos sequer núcleos de grandes homens. Temos só, de longe em
longe, um original que se levanta sobre a canalhada e toma à sua conta os
destinos do país. A canalhada cobre-os de insultos e de escárnio, como é da sua
condição de canalha. Mas depois de mortos, põe-os
ao peito por jactância ou simplesmente ignora que tenham existido. Nós não
somos um país de vocações comuns, de consciência comum. A que fomos tendo
foi-nos dada por empréstimo dos grandes homens para a ocasião. Os nossos
populistas é que dizem que não. Mas foi. A independência foi Afonso Henriques,
mas sem patriotismo que ainda não existia. Aljubarrota foi Nuno Álvares. Os
descobrimentos foi o Infante, mas porque o negócio era bom. O Iluminismo foi
Verney e alguns outros, para ser deles todos só Pombal. O liberalismo foi
Mouzinho e a França. A reacção foi Salazar. O comunismo é o Cunhal. Quanto à
sarrabulhada é que é uma data deles. Entre os originais e a colectividade há o
vazio. O segredo da nossa História está em que o povo não existe. Mas existindo
os outros por ele, a História vai-se fazendo mais ou menos a horas. Mas quando
ele existe pelos outros, é o caos e o sarrabulho. Não há por aí um original
para servir?»
Vergílio
Ferreira, in 'Conta-Corrente 2'
Quanta atualidade no
texto. Subscrevo por inteiro e um dia destes até poderei «rever e aumentar».
António Bondoso
Dezembro de 2019.
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