2019-12-30


CONCEITOS…
De treinador de futebol a «herói» nas TVs…ou a confusão de conceitos que se espalha por algumas «cabecinhas» que se dizem jornalistas ou apresentadores de telejornais. 


O «problema» não está em qualquer caso particular. Nem sequer coloco em causa a distinção a Jorge Jesus. O caso está na «cultura», sobretudo na falta dela, dos média e de quem os vai representando. O homem e a sua circunstância…cada vez mais nas «ondas» da amargura.
         Abrir um telejornal do canal público com a «tirada» de herói para «promover» a entrevista com o treinador, não me parece um bom caminho. Mas a isso já estou habituado.
         E a propósito de «heróis»…vale a pena recordar um expressivo texto de Vergílio Ferreira ao qual deu o título de “Um País de Canalhas”:
«Pensar Portugal. Nós somos um país de «elites», de indivíduos isolados que de repente se põem a ser gente. Nós somos um país de «heróis» à Carlyle, de excepções, de singularidades, que têm tomado às costas o fardo da nossa história. Nós não temos sequer núcleos de grandes homens. Temos só, de longe em longe, um original que se levanta sobre a canalhada e toma à sua conta os destinos do país. A canalhada cobre-os de insultos e de escárnio, como é da sua condição de canalha. Mas depois de mortos, põe-os ao peito por jactância ou simplesmente ignora que tenham existido. Nós não somos um país de vocações comuns, de consciência comum. A que fomos tendo foi-nos dada por empréstimo dos grandes homens para a ocasião. Os nossos populistas é que dizem que não. Mas foi. A independência foi Afonso Henriques, mas sem patriotismo que ainda não existia. Aljubarrota foi Nuno Álvares. Os descobrimentos foi o Infante, mas porque o negócio era bom. O Iluminismo foi Verney e alguns outros, para ser deles todos só Pombal. O liberalismo foi Mouzinho e a França. A reacção foi Salazar. O comunismo é o Cunhal. Quanto à sarrabulhada é que é uma data deles. Entre os originais e a colectividade há o vazio. O segredo da nossa História está em que o povo não existe. Mas existindo os outros por ele, a História vai-se fazendo mais ou menos a horas. Mas quando ele existe pelos outros, é o caos e o sarrabulho. Não há por aí um original para servir?»
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 2'

Quanta atualidade no texto. Subscrevo por inteiro e um dia destes até poderei «rever e aumentar». 


António Bondoso
Dezembro de 2019. 


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