DOS VENTOS DE LOUCURA
e do INCONFORMISMO, do CANTO NEGRO até à desilusão de CONTRATEMPO…a poesia são-tomense de Alda
do Espírito Santo foi o destaque na «Hora da Poesia» da Rádio Vizela. Conceição
Lima deu ainda voz às Ilhas…chamando Albertino Bragança.
Das
ilhas do chocolate que foram de escravidão, penso a cada instante e escrevo
permanente, escutando quando dizem poemas de amor e dor.
Mais
uma vez sintonizei as palavras ditas nas vozes de quem me toca, na ordem de
quem escreve e de quem seleciona. Tudo tão doce quando se atravessa o oceano
azul para ouvir a esperança, a certeza de um tempo novo ou a desilusão de
promessas incumpridas. Duas Ilhas e um País que foram de Alda do Espírito
Santo, combatente da liberdade, Poetisa maior de S. Tomé e Príncipe que a «Hora
da Poesia», nas ondas da Rádio Vizela, trouxe à primeira fila desta emissão
semanal.
E foi bom ouvir de novo a Conceição Lima
a viajar pelas palavras e pelo sentimento da língua portuguesa além do mar. E
foi bom escutar a força com que a Alzira Santos e a Lourdes dos Anjos disseram
e valorizaram os poemas. E como foi retemperador escutar a emoção de Albertino
Bragança, companheiro de letras e de cidadania ativa de Alda Espírito Santo.
Dois dos fundadores da UNEAS – União Nacional dos Escritores e Artistas de S.
Tomé e Príncipe – militantes empenhados na construção do país novo até que os
caminhos da «partidarite» divergiram e chegou a desilusão. Albertino em 2005
com o romance UM CLARÃO SOBRE A BAÍA,
Alda em 2006 com o poema CONTRATEMPO:«Hoje,
há oceanos em turbilhão/ nas mentes do luchan do meu país africano» (…).Este
foi um dos que pudemos escutar na Hora da Poesia de ontem. Mas podemos recuar
no tempo e chegar a 1953 – humilhação, tortura e morte, da Trindade a Fernão
Dias, e reler ONDE ESTÃO OS HOMENS
CAÇADOS NESTE VENTO DE LOUCURA: «O sangue
caindo em gotas na terra/ homens morrendo no mato/ e o sangue caindo, caindo…/nas
gentes lançadas no mar…(…)». Não foram ditos todos como é natural, pois o
tempo é precioso, sobretudo na Rádio. A Rádio que Alda do Espírito Santo
escutava em 1958 quando escreveu INCONFORMISMO:
«Contemplando a criançada atirada aos caminhos/ Encostada ao burgo onde moro/
Acenando aos carros circulando pelas estradas poeirentas/ Ouvindo as notícias
chegadas pela rádio/ Doutros mundos distantes/ De pugnas, lutas, invenções/ Do
progresso da vida no mundo da ciência/ Das artes, das letras, da conquista do
cosmos/ Da ânsia de resolver os problemas do planeta/ Sentimos a inutilidade
das mesquinhices do dia-a-dia/ Dos complexos criados pelas nossas futilidades/
E analisando a vida vazia/ Um clima de angústia se levanta sobre as nossas
cabeças/ Gritando a nossa inércia permanente/ Condensada em lugares comuns
latentes» (…).
Para vós, todos, que amais a Poesia,
atentai na esperança deste «Inconformismo».
Link: www.radiovizela.pt/programa-hora-da-poesia
Link: www.radiovizela.pt/programa-hora-da-poesia
António Bondoso
Jornalista
Dezembro de 2019
2 comentários:
Obrigada pelas suas palavras, meu amigo...Sei que posso ( e é recíproco...) contar com a sua ajuda e a sua estima...A sensação com que fiquei depois de ler a sua reflexão , é que deveria começar , agora, a fazer o programa...Aprendi , percebi, vi....Percebi que estamos do mesmo "lado da canoa", face ao inconformismo...Vi esse olhar de saudade,entendi mais profundamente, a ligação a "esse chão sagrado"...OBRIGADA pela sua ajuda, estima e amizade...São mútuas e extensivas a ambos...A Albertino Bragança, a minha profunda gratidão...
Olá. Obg Conceição Lima pela atenção e pelo carinho. Gostei do programa. Falaremos depois. Bjs
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