A
QUINTA VAGA…ou a urgência de uma Nova Ordem Internacional, solidária e justa,
que responda ao apelo de Aldous Huxley à consciência dos homens – nesse “Admirável Mundo Novo” – num tempo em que
se multiplicam as ameaças à humanidade.
E
também podemos aprender com essa “Quinta
Vaga” de Rick Yancey, de 2013, mesmo que não tenha muito a ver com a situação pandémica que
o mundo hoje vive. Entre a ficção científica alienígena do livro – e
posteriormente do filme – e este real vírus SARS COV 2, ainda não totalmente estudado,
serão sempre exagerados os pontos de contacto que queiramos encontrar. Contudo,
não podemos colocar à margem concretamente a «terceira vaga», que trata
precisamente do tema da contaminação – aqui talvez se possa enquadrar esta
pandemia da Covid-19 – e por fim a «quinta vaga» que tem a ver com a
resistência dos humanos à invasão dos alienígenas. Numa comparação simplista,
diremos que é a fase em que vamos entrar agora – quando a vida começar a ser
retomada, aos poucos, depois de um longo e forçado confinamento que destruiu um
dos mais fortes sinais da nossa sociabilidade, o convívio entre os seres
humanos. Só que essa resistência se apresenta com armas diferentes das do livro
e do filme. Em vez de armas lutamos com a ciência e pela ciência. Em busca de
uma vacina tranquilizadora, à procura de um tratamento eficaz para a doença.
Em
qualquer caso, nada será como dantes e, ao contrário dos slogans propalados,
não vai ficar tudo bem! Teremos que nos adaptar a novas atitudes na vida
social, a novos tipos de comportamento no trabalho, e a um novo olhar para e
sobre o «outro», sobre os outros. Sob pena de um enorme retrocesso no que
respeita aos «direitos humanos». Há um terreno mais fértil para os avanços do
racismo e da xenofobia, quando sabemos de problemas com Africanos
na China e com muçulmanos na Índia, ao mesmo tempo que conhecemos casos de
revolta social e laboral na Rússia, para além de uma atroz violência contra os
presos nas cadeias do Equador. Em Portugal temos assistido a atos violentos em
supermercados e em transportes públicos, e não será novidade por esse mundo
fora o relato de casos de violência doméstica. Portanto, podemos dizer que – ou
se cura a «doença» provocando uma rutura nas instituições da governança
mundial, ou a «doença» acabará por arrastar a humanidade.
Preenchendo este cenário, quase
poderemos falar da urgência de uma Nova Ordem Internacional focada na justiça e
na solidariedade…ou então assistiremos provavelmente ao início do «Fim da
História». Não semelhante àquele que foi previsto e anunciado por Fukuyama há
uns anos, mas ao fim das relações humanas tal como as conhecemos até há poucos
meses.
O capitalismo selvagem, encimado pelas
grandes multinacionais e a coberto de instituições que deveriam ser justas e
credíveis como o FMI e BM, não pode ter lugar nessa NOI, não pode continuar a
ser gerador de pobreza e miséria, conduzindo – inevitavelmente – a novas
pandemias. Esta, do SARS-COV-2, é apenas mais uma. Com um impacto rápido e
violento. Mas continuamos a assistir a muitas outras que vão matando de forma
brutal, embora lentamente.
E
essa Nova Ordem Internacional (que mencionei há dias numa atividade da
Universidade Sénior Rotários de Matosinhos) deve conter uma urgente reforma da
ONU, quer valorizando agências como a OMS, o PNUD e os Refugiados, quer
reestruturando o Conselho de Segurança: eliminando o poder de veto e do duplo
veto dos atuais «cinco», tal como admitindo novos membros – nomeadamente a
África do Sul, a Alemanha, a Austrália, o Canadá e a Índia. Gostaria muito de
incluir o Brasil, mas a atual deriva do país não o permite.
Sabemos que as relações entre os
Estados são movidas sobretudo por interesses, mas também sabemos que ninguém
vive sozinho. O multilateralismo e o «Poder inteligente» são cada vez mais
necessários. Como referiu há dias a antiga Secretária de Estado americana
Madeleine Albright, é preciso mais cooperação e menos nacionalismo exacerbado.
Uma globalização cooperante e humanizada.
Esta deve ser a «Cruzada» dos nossos
tempos, contra os agiotas dos mercados e dos donos do dinheiro. A favor das
Pessoas!
António Bondoso
Maio de 2020.
1 comentário:
Como sempre adorei a sua aula!
Que bom seria que a NOVA ORDEM INTERNACIONAL contemplasse os Países aos quais faz referência. Que bom seria que o veto, tal como existe, fosse abolido! Só podemos ser solidários e viver-mos em comunidade, quando todos temos a partilha da democracia. O veto, tal qual existe é uma ditadura!Quando será que o mundo aprende, que ser SOLIDÁRIO, faz de nós mais fortes?
ABRAÇO
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