A pandemia da covid-19
é um desafio em busca da criatividade para ser uma editora diferente, uma
editora do mundo. «Edições Esgotadas» tem sede em Viseu e,
segundo a diretora Teresa Adão, estar no interior é hoje a menor das
preocupações.
A
editora, que celebra neste abril dez anos de vida, com mais de 500 títulos
publicados, mereceu já a atenção da TVI com um convite para participar na
gravação de uma novela, a qual viu as gravações interrompidas por força da
crise sanitária.
Este problema interrompeu igualmente, mas
de forma temporária, as encomendas de Itália – uma ligação que vai sendo
retomada aos poucos, para além da cooperação com a França, Espanha e com o
Brasil.
Respondendo a algumas questões deste
blogue «Palavras Em Viagem», Teresa Adão afirma que «Ninguém fica
financeiramente rico a editar livros, o que interessa mesmo é o prazer da
equipa e semear cultura, para além de se darem ao luxo de editar os livros em
que acreditam»:
AB - Continua a ser uma aventura de risco manter uma
Editora em Viseu - região de uma interioridade acentuada!?
TA - «Neste momento, não pode dizer-se que os problemas tenham muito a ver com
a interioridade. Creio que as editoras estão todas no mesmo "barco".
Necessitamos de empreendedorismo, estratégias e criatividade. Não podemos
parar, nem deixar-nos abater pelas dificuldades. Tem de haver um caminho, basta
sermos pró-ativos e marcarmos pela diferença. Consideramo-nos uma editora do
mundo. Aliás, as redes sociais são uma boa ajuda para combater a interioridade.
Os nossos autores do distrito não chegam a 40% do total de pessoas que escrevem
connosco. No ano passado, fizemos uma apresentação em Paris e temos os nossos
livros distribuídos em Espanha, no Brasil e em Itália. Temos autores nossos
traduzidos noutros países e já editámos autores moçambicanos, brasileiros e
norte-americanos. Só não temos mais expressividade na lusofonia, porque há problemas
de vária ordem que impedem que os autores sejam mais divulgados. No
início de 2020, fomos convidados pela TVI para participarmos com os nossos
livros, numa novela em que entra uma editora. As gravações encontram-se
interrompidas pela situação de confinamento a que temos estado sujeitos.
AB - As temáticas editadas são de uma enorme variedade.
Essa abertura é para manter...Ou seria preferível, nestes tempos conturbados,
limitar as «coleções»?
TA - Em princípio, as coleções são para manter. Não há necessidade de
reduzir a oferta. Temos áreas bem balizadas e categorizadas, bem como projetos
e parcerias com algumas universidades. Hoje, mesmo, lançámos o primeiro livro
de uma coleção de Serviço Social, coordenada por um professor do ISCTE. O livro
técnico/científico engloba áreas pragmáticas, ajudando alunos, investigadores e
curiosos com obras de pertinência e atualidade irrefragáveis. A poesia, por
exemplo, é uma área pela qual os nossos livros são conhecidos além-fronteiras.
No campo do livro infantil, estamos também na linha da frente, com as histórias
personalizadas, em que as pessoas escolhem as características, os nomes e
outros pormenores das personagens e da narrativa, podendo fazer agradáveis
surpresas às crianças, ou ainda, com os livros em Pop up e para construir e montar, destinados aos mais pequenos.
AB - nem sempre um «bom livro» é recorde de vendas! Para
vós, edições esgotadas, quais são os aspetos mais determinantes
para prever o sucesso? Claro que tudo isto é do domínio da
subjetividade! Além de que não se fazem sondagens para captar o gosto
do público leitor.
TA - Sendo nós uma editora independente, podemos dar-nos ao luxo de editar
os livros em que acreditamos, mas não nego que, nem sempre, aqueles que têm
mais qualidade são os mais vendidos. Já temos tido algumas surpresas.
Atualmente, vamos percebendo os gostos do público com tiragens mais pequenas e
reeditamos sempre que se justifica. Dessa forma, fazemos jus ao nosso nome
Edições Esgotadas e não corremos o risco de ficar com os livros parados no
armazém. Na medida do possível, tentamos conciliar os livros mais vendáveis com
aqueles cuja qualidade a nossa comissão científica atesta, embora
saibamos, de antemão, que não vão encontrar eco imediato em todos os tipos de
público. Ninguém fica monetariamente rico a editar livros, mas é uma atividade
que dá muito prazer à nossa equipa, porque percebemos que estamos a semear
cultura, a despertar leitores e a contribuir para disponibilizar às pessoas uma
forma de partilharem mensagens com as quais intervêm na comunidade, perpetuando
saberes e patrimónios».
Edições Esgotadas, uma
editora de Viseu que acaba de celebrar 10 anos de vida (11 de Abril) e da qual
eu sou um dos autores, estando a ela ligado já por quatro títulos publicados: O
PODER E O POEMA (2012); LUSOFONIA E CPLP (2013); O RECOMEÇO (2014) e TERRA DE
NINGUÉM (2019).
António Bondoso
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