2020-04-27

A pandemia da covid-19 é um desafio em busca da criatividade para ser uma editora diferente, uma editora do mundo. «Edições Esgotadas» tem sede em Viseu e, segundo a diretora Teresa Adão, estar no interior é hoje a menor das preocupações. 


A editora, que celebra neste abril dez anos de vida, com mais de 500 títulos publicados, mereceu já a atenção da TVI com um convite para participar na gravação de uma novela, a qual viu as gravações interrompidas por força da crise sanitária.
         Este problema interrompeu igualmente, mas de forma temporária, as encomendas de Itália – uma ligação que vai sendo retomada aos poucos, para além da cooperação com a França, Espanha e com o Brasil.
         Respondendo a algumas questões deste blogue «Palavras Em Viagem», Teresa Adão afirma que «Ninguém fica financeiramente rico a editar livros, o que interessa mesmo é o prazer da equipa e semear cultura, para além de se darem ao luxo de editar os livros em que acreditam»:
AB - Continua a ser uma aventura de risco manter uma Editora em Viseu - região de uma interioridade acentuada!?  
TA - «Neste momento, não pode dizer-se que os problemas tenham muito a ver com a interioridade. Creio que as editoras estão todas no mesmo "barco". Necessitamos de empreendedorismo, estratégias e criatividade. Não podemos parar, nem deixar-nos abater pelas dificuldades. Tem de haver um caminho, basta sermos pró-ativos e marcarmos pela diferença. Consideramo-nos uma editora do mundo. Aliás, as redes sociais são uma boa ajuda para combater a interioridade. Os nossos autores do distrito não chegam a 40% do total de pessoas que escrevem connosco. No ano passado, fizemos uma apresentação em Paris e temos os nossos livros distribuídos em Espanha, no Brasil e em Itália. Temos autores nossos traduzidos noutros países e já editámos autores moçambicanos, brasileiros e norte-americanos. Só não temos mais expressividade na lusofonia, porque há problemas de vária ordem que impedem que os autores sejam mais divulgados.  No início de 2020, fomos convidados pela TVI para participarmos com os nossos livros, numa novela em que entra uma editora. As gravações encontram-se interrompidas pela situação de confinamento a que temos estado sujeitos. 
AB - As temáticas editadas são de uma enorme variedade. Essa abertura é para manter...Ou seria preferível, nestes tempos conturbados, limitar as «coleções»? 
TA - Em princípio, as coleções são para manter. Não há necessidade de reduzir a oferta. Temos áreas bem balizadas e categorizadas, bem como projetos e parcerias com algumas universidades. Hoje, mesmo, lançámos o primeiro livro de uma coleção de Serviço Social, coordenada por um professor do ISCTE. O livro técnico/científico engloba áreas pragmáticas, ajudando alunos, investigadores e curiosos com obras de pertinência e atualidade irrefragáveis. A poesia, por exemplo, é uma área pela qual os nossos livros são conhecidos além-fronteiras. No campo do livro infantil, estamos também na linha da frente, com as histórias personalizadas, em que as pessoas escolhem as características, os nomes e outros pormenores das personagens e da narrativa, podendo fazer agradáveis surpresas às crianças, ou ainda, com os livros em Pop up e para construir e montar, destinados aos mais pequenos.
AB - nem sempre um «bom livro» é recorde de vendas! Para vós, edições esgotadas, quais são os aspetos mais determinantes para prever o sucesso? Claro que tudo isto é do domínio da subjetividade! Além de que não se fazem sondagens para captar o gosto do público leitor. 
TA - Sendo nós uma editora independente, podemos dar-nos ao luxo de editar os livros em que acreditamos, mas não nego que, nem sempre, aqueles que têm mais qualidade são os mais vendidos. Já temos tido algumas surpresas. Atualmente, vamos percebendo os gostos do público com tiragens mais pequenas e reeditamos sempre que se justifica. Dessa forma, fazemos jus ao nosso nome Edições Esgotadas e não corremos o risco de ficar com os livros parados no armazém. Na medida do possível, tentamos conciliar os livros mais vendáveis com aqueles cuja qualidade a nossa comissão científica atesta, embora saibamos, de antemão, que não vão encontrar eco imediato em todos os tipos de público. Ninguém fica monetariamente rico a editar livros, mas é uma atividade que dá muito prazer à nossa equipa, porque percebemos que estamos a semear cultura, a despertar leitores e a contribuir para disponibilizar às pessoas uma forma de partilharem mensagens com as quais intervêm na comunidade, perpetuando saberes e patrimónios». 



Edições Esgotadas, uma editora de Viseu que acaba de celebrar 10 anos de vida (11 de Abril) e da qual eu sou um dos autores, estando a ela ligado já por quatro títulos publicados: O PODER E O POEMA (2012); LUSOFONIA E CPLP (2013); O RECOMEÇO (2014) e TERRA DE NINGUÉM (2019).
António Bondoso
27 de Abril de 2020




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