A PROPÓSITO DA MINHA CRÓNICA DE SEXTA-FEIRA NO CORREIO BEIRÃO...
RUMORES…
…sobre
a oportunidade da visão maquiavélica da política e sobre os aprendizes de
feiticeiro que se continuam a perfilar neste país moribundo, onde a injustiça
dói e a vergonha mata!
Temos memória, e por isso nos
recordamos, que Cavaco Silva enviou para o TC a lei que o governo pretendia
fazer executar sobre as pensões e reformas. O Tribunal Constitucional chumbou a
ideia…mas – há sempre um mas! – terá deixado a porta entreaberta para que o
objetivo governamental fosse alcançado de outra forma. E foi assim que, no OE,
ficou garantida MAIS UMA VEZ a fórmula da aplicação da CES. Surpresa? Nem por
sombras! Cavaco Silva, que havia supostamente inchado com a sua decisão de
chutar para canto o problema – enviou para o TC quando deveria ter vetado –
decidiu, aliás na linha de previsões do governo, não questionar a
inconstitucionalidade do OE. E então? É inconstitucional…mas vamos sempre
pagar! O que, em verdade, não acontece com os juízes – incluindo os do TC que
haviam chumbado a lei – e com os diplomatas. Isto, a que chamam Portugal, será
um país – porventura? Nem vale a pena falar em Estado de Direito!
Assim, só podemos aplaudir as
conclusões de um estudo a propósito das “Percepções sobre a União dos
Portugueses” solicitado pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa. De
acordo com o jornal Público, “Portugueses têm orgulho no país e vergonha do
sistema político e económico” – particularmente do modo como funciona a
democracia. Felizmente ressalta a ideia de que 60% dos inquiridos sente muito
orgulho em ser português, número acrescido de mais 26% que, apesar de tudo,
ainda se sentem algo orgulhosos! E sobre os feitos…sempre a gesta dos
descobrimentos e o 25 de Abril de 1974.
No meio de tudo isto, o que vemos
dos novos navegantes? NADA! Sem liderança – diz o estudo que não há “líderes
reconhecidos” – resta-nos o relógio pacóvio do PP a marcar os dias da Troika e
a acutilância de PPC e dos seus apaniguados a dizer mal do melhor documento que
se produziu nos últimos tempos sobre a reestruturação da dívida. Mas –
felizmente há ainda quem tenha alguma lucidez – aparece Silva Peneda,
Presidente do Conselho Económico e Social e membro da família do PSD, a dizer
que não é verdade que o programa de ajustamento tenha sido um sucesso. Não
falando em consensos mas sim em compromisso para gerar confiança… Silva Peneda
toca no fundo:- “o programa de
ajustamento agravou as desigualdades em Portugal, destruiu a classe média e a
reforma do Estado confinou-se à redução da despesa, através de cortes aplicados
aos funcionários públicos e pensionistas”.
Brilhante
Maquiavel que, no capítulo V do seu “Príncipe” (ponto1) diz que só há 3
maneiras de conservar a posse de um Estado que se conquistou e que estava
habituado a viver segundo as suas leis e em liberdade:- “a primeira é
arruiná-los; a segunda, ir habitá-los pessoalmente; a terceira, deixá-los viver segundo as suas leis, cobrando-lhes um
tributo e instalando um governo composto de poucos homens que garantam que
continuará a ser teu amigo. Porque, sendo esse Estado uma criação do
príncipe, sabe que não pode subsistir sem a sua amizade e poderio, e tudo fará
para manter a sua autoridade. Não se desejando arruiná-la, mais facilmente se
conserva uma cidade habituada a viver em liberdade por intermédios dos seus
cidadãos que de qualquer outro modo”.
Por
isso não resisto a citar o meu amigo e Prof. Jorge Bento:- “As afirmações e aventuras do
poderio alemão sempre trouxeram desgraças à Europa. Esta lição da história
precisa de ser relembrada, porque corresponde à realidade atual.
Estudei na Alemanha, aprecio a fundura, o rigor e a solidez dos seus pensadores. Mas, pouco a pouco, afasto-me dela. Metem-me medo a arrogância e a insensibilidade de muitos dos seus líderes políticos. A Frau Merkel parece ter sido escolhida a preceito, para ressuscitar os fantasmas e horrores provocados pela ânsia de hegemonia dos alemães. À proclamação 'Deutschland über alles' respondamos, a plenos pulmões: NEIN!”.
Estudei na Alemanha, aprecio a fundura, o rigor e a solidez dos seus pensadores. Mas, pouco a pouco, afasto-me dela. Metem-me medo a arrogância e a insensibilidade de muitos dos seus líderes políticos. A Frau Merkel parece ter sido escolhida a preceito, para ressuscitar os fantasmas e horrores provocados pela ânsia de hegemonia dos alemães. À proclamação 'Deutschland über alles' respondamos, a plenos pulmões: NEIN!”.
António Bondoso
Jornalista – CP 359.
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