2018-09-24

Decorreu em Lisboa o II Congresso da Mulher Santomense em Portugal.
Kwa kaba. Kaba zá e foi globalmente muito positivo, apesar de algumas e naturais lacunas.


Este II Senson Mwala Santome em Portugal foi uma iniciativa da Mén Non, que é a Associação das Mulheres Santomenses em Portugal e teve ajudas importantes da Universidade Lusófona, da Embaixada de STP em Lisboa, da Plataforma Cafuka e da RDP África.
Em resumo, Bwa Lumadu- muito bom, apesar de algumas falhas na organização.
O III Congresso da Mulher Santomense em Portugal foi marcado para 2020 e no próximo ano haverá provavelmente uma Conferência, com novas abordagens e sobre temas mais específicos – de acordo com Fatinha Vera Cruz que é a Presidente da Mén Non.
Entre as «lacunas» referidas – situação normal em iniciativas desta envergadura – esteve a “falta de espaço para debate”. O Congresso foi “panxadu” – muito cheio, com inúmeras intervenções – embora suavizado por excelentes momentos musicais de Toneca Prazeres. Foram igualmente recebidas e lidas muitas mensagens de mulheres que viveram a «manifestação de protesto e luta» do dia 19 de Setembro de 1974 em São Tomé – nomeadamente as de Maria das Neves, Elisa Barros e Maria do Rosário.
As considerações e conclusões, diz Fatinha Vera Cruz, vão agora ser compiladas em relatório com recomendações aos governos de S. Tomé e Príncipe e de Portugal, relatório que será divulgado oportunamente.
De acordo com outros olhos e ouvidos deste blogue «Palavras em Viagem», confirma-se uma reunião globalmente muito positiva com destaque para intervenções de muito nível – como foram as de Maria Amorim, antiga MNE de S. Tomé e Príncipe e depois embaixadora do país em Lisboa, com uma análise muito lúcida da situação presentemente vivida naquele país africano de língua oficial portuguesa, e de João Viegas, santomense a residir há muitos anos em Portugal, sendo funcionário da AR. João Viegas recuou à experiência e às vivências do seu tempo nas Ilhas do Meio do Mundo.
Exatamente sobre as tradições da mulher santomense, esteve em destaque um painel sobre «Quinté Glandji» ou «Kinte-Nglandji» [quintal onde as crianças são orientadas pelos mais velhos], no qual participou Inocência Mata e que foi brilhantemente moderado por Mutema Cravid. A ideia foi completada por um diálogo cómico e à moda antiga, tendo sido ainda declamado um poema de Conceição Lima.
Houve ainda lugar para testemunhos de mulheres de outros países africanos de língua portuguesa como Cabo Verde, Guiné, Angola e Moçambique – sendo este representado pela poetisa Elsa de Noronha, há muitos anos a residir em Portugal e que disse 3 poemas sobre a temática da mulher.
Outra escritora convidada foi a santomense Olinda Beja – igualmente a viver e a trabalhar em Portugal há largos anos – mas que não pode estar presente por motivos ponderosos. Uma mensagem de saudação que enviou ao Congresso [e que me chegou por intermédio da Milé Albuquerque Veiga] acabou por ser lida por Mena Teixeira, quase sem tempo, e no texto Olinda Beja diz não ser fácil «falar do percurso, meu e vosso, que nós, mulheres de São Tomé e Príncipe, temos feito nesta diáspora, que nos acolheu e acolhe mas onde se encontram sempre pedras no caminho». Fazendo apelo à coragem, à humildade e à dignidade para que as mulheres «se imponham nesta senda pedregosa, sem olhar à cor, à religião ou ao estatuto social», Olinda Beja defende uma luta «de olhos nos olhos, sem atropelos e sem traições: - Devemos ter sempre em mente que estamos todas no mesmo barco qualquer que seja o nosso papel na sociedade. Por este motivo não nos esqueçamos nunca de dar as mãos umas às outras». Após a leitura da mensagem já não houve tempo para exibir um pequeno “slideshow” sobre a vida e o trabalho de Olinda Beja – elaborado por alunos da Escola «EB 2.3 de Paço de Sousa», depois de um encontro com a escritora em 2015 – um dos muitos que vão conduzindo Olinda Beja por várias escolas deste país.
Do mesmo modo foi pena não ter sido exibida e comentada a primeira curta-metragem de ficção produzida pela Tela Digital Media Group, idealizada e realizada por Katya Aragão. MINA KIÁ conta a história de Tónia, uma menina sonhadora que é enviada para casa dos tios na cidade grande… 

António Bondoso                                                                                     
Jornalista
Setembro de 2018.            

1 comentário:

Conceição Carvalho disse...

Aprender com as falhas e tentar eliminá-las ou pelo menos, minorá-las numa próxima oportunidade.
Os meus parabéns à Men Non e ao António Bondoso, pelo excelente trabalho.
Um grande abraço!